sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

ESPERANÇA DE VIDA


Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2013

A educadora Eliane de Oliveira, seu marido Itamar Fernandes e a primogênita de Eliane com 27 anos de idade são paulistas e residem em Fortaleza há 11 anos. A caçula da família chamada Raíssa fará seis anos em março de 2014 e há três inaugurou um novo tempo nas vidas de Eliane e Itamar. Os pais completarão 10 anos de casados, período aproximado da adaptação deles à nova cidade. Fortaleza está sendo um lugar de crescimento para eles em todas as áreas das suas vidas, e principalmente, com a chegada de Raíssa. A menina foi acolhida no Abrigo Casa Sol Nascente em Fortaleza com um ano e nove meses de idade por negligência e maus tratos da mãe genitora. Ela estava debilitada e apresentava sinais de uma doença crônica e grave ao chegar ao abrigo. As condições da criança na época eram preocupantes e exigiam o acompanhamento de profissionais especializados, além da presença da família.

FORÇA DE VONTADE DE VIVER
Eliane e Itamar perceberam Raíssa na hora que ela mais precisava deles. Eliane conheceu o abrigo ao realizar algumas atividades socioeducativas provenientes da Secretaria de Educação do Estado, local onde trabalha. Certa vez, foi necessário que o marido a acompanhasse para levar mantimentos e materiais para o abrigo. Eliane conta que estava chovendo e todas as crianças estavam reunidas na sala assistindo televisão. Itamar percebeu Raíssa, aparentemente abatida, mas esforçando-se para participar com os demais colegas daquela atividade divertida. Ele emocionou-se com a força de vontade de viver e a inteligência da garotinha. Itamar não imaginava dedicar-se tanto a adoção de uma criança, juntamente com sua esposa Eliane, até encontrar Raíssa.

FORA DO PERFIL
A menina Raíssa acolhida no abrigo com menos de dois anos de idade não apresentava nenhuma das características enunciadas pelos pretendentes no Cadastro Nacional de Adoção. Ela enfrentava um problema grave e crônico de saúde, impossibilitando que ela andasse e falasse. A mãe biológica não tinha condições emocionais e nem financeiras para cuidar da filha. Raíssa estava crescendo no abrigo sem esperança de ir para casa. Nas vezes em que a Justiça autorizou a retirada da criança pela mãe biológica, o retorno para o abrigo fora dramático e sofrido, porque a menina voltava mais fragilizada emocional e fisicamente.

AMOR NÃO SE EXPLICA
Itamar sempre considerou que a origem familiar e econômica da criança acolhida e o histórico de vida dos pais não importavam para ele na decisão de adotar uma criança. “O ser mais frágil e inocente à mercê da situação dos genitores é a criança.

CONTINUAÇÃO
A adoção é concebível pelo Amor que não se explica.”, afirma Itamar. Eliane perdeu uma gravidez espontaneamente e tentou a reprodução humana assistida em dois anos que antecederam a adoção de Raíssa. A aproximação dos pais fortaleceu-se após as duas internações da menina no Hospital São José em 2011. “Estávamos com ela nos momentos mais difíceis.”, compartilha o casal. Eliane e Itamar alternavam os seus horários para estar pelo menos um acompanhando Raíssa diariamente durante o período que ela passou internada. “Foram dias de choro e alegria à cada reação dela no hospital. Ao fim, tudo ficou bem. Ela recebeu alta e voltou para o abrigo na nossa companhia. Queríamos despertar nela a convicção de que desejávamos estar sempre presentes, e assim ela podia sentir-se segura, pois nós a amávamos muito.”, declarou Eliane. A mãe biológica da criança possuía parentes que residiam em Fortaleza e isto dificultou a destituição do Poder familiar para concretizar a adoção de Raíssa por Eliane e Itamar. Eliane decidiu estudar a “A Lei da Convivência Familiar” (Lei 12.010 de 2009) e buscar ajuda através da internet por um profissional especializado. Encontrou um advogado especialista na Nova Lei da Adoção da cidade de Natal (RN). Após dois meses do primeiro contato por telefone, o advogado, Itamar e Eliane se encontraram em Fortaleza e deram os primeiros passos para buscar a adoção de Raíssa. Ele afirmou que havia 99% de chances de adotá-la; uma grande esperança!

PARECE QUE EU SEMPRE FUI MÃE DA RAÍSSA
Os primeiros dois anos de vida da Raíssa enquanto na guarda da mãe biológica foram de interrupções nos tratamentos médicos, ausência de estrutura familiar e crises emocionais que comprometeram o desenvolvimento físico e social da criança naquele período. A permanência da criança no abrigo em razão da incapacidade de suprir as suas necessidades básicas, finalmente levou a mãe biológica a entregá-la para a adoção. A Lei de Adoção No. 12.010 de 2009 prevê que as genitoras poderão comunicar a autoridade judiciária o interesse em entregar seus filhos para adoção. Itamar e Eliana já estavam inscritos no Cadastro Nacional de Adoção e o advogado os assessorou no processo legal de adoção da menina. Tornou-se relevante a dedicação dos pais durante o tratamento da garotinha ainda no seu acolhimento na Casa Sol Nascente.
Itamar e Eliana receberam a guarda definitiva de Raíssa em janeiro de 2013. O médico pediatra aconselhou os pais que tratem a doença crônica de Raissa com os devidos cuidados e discrição. Os pais cumprem a rotina dos remédios a cada 12 horas, dieta alimentar e atividades físicas para recuperar os movimentos e fortalecer o equilíbrio do corpo da filha amada. “Parece que eu sempre fui mãe da Raíssa. É muito, muito, muito bom! Agora nossas viagens durante o mês de outubro são sempre com ela. Já fomos para Disney juntos, e ela gostou muito.”, conclui Eliane.

CASA SOL NASCENTE
Há 22 anos a Casa Sol Nascente, organização não governamental, abriga crianças com meses de vida até 12 anos de idade em situação de abandono ou violência familiar. Entre as dezesseis crianças que atualmente vivem no abrigo, cinco são soropositivas, isto é, pessoas vivendo com HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). Em 2012, uma menina de três anos, soropositiva foi adotada. Além das crianças e pré-adolescentes acolhidos, a Sol Nascente mantem outra casa de acolhimento para adultos ex-moradores de ruas e ex-dependentes químicos. As duas instituições estão com todas as vagas preenchidas.
O presidente da Casa Sol Nascente, Arilo D. Lima, afirma que o abrigo é o lar que guarda a criança e os profissionais dependem da Justiça para a definição da vida familiar e civil delas. “As varas da infância estão lotadas com processos de menores infratores, refletindo diretamente na falta de celeridade nos demais trabalhos como a adoção de crianças.”, declarou. O número de abrigos para adolescentes em Fortaleza é inferior à quantidade de casas de acolhimento para crianças e adultos. Arilo acredita que é necessário buscar uma solução urgente para os adolescentes entre os 12 e os 18 anos de idade que residem desde a infância nos abrigos e deverão ser transferidos para outras instituições na adolescência. “Essa faixa intermediária de adolescentes institucionalizados entre 12 e 18 anos de idade é o grande desafio da sociedade hoje. Necessitamos da atenção da sociedade a fim de que ela se envolva mais com a situação de acolhimento. “Não só o presente, mas a presença de mais voluntários nas instituições e a sociedade sendo atraída ao debate dessas questões, se faz necessário”, declara o presidente da Casa Sol Nascente, Arilo D. Lima.

ÚNICA ADOÇÃO EM 2013
A coordenadora do abrigo para crianças, Sol Nascente, Lídia Moura, compartilha que atualmente, quatro crianças estão recebendo visitas regulares de parentes, duas iniciaram o período de convivência com os pais pretendentes a adoção e dez crianças estão judicialmente ligadas às famílias, mas, somente recebem visitas cerca de duas a quatro vezes por ano de um parente estendido, avós ou tios. Até dezembro deste ano, somente uma menina de três anos foi adotada.
http://www.oestadoce.com.br/noticia/esperanca-de-vida

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