03.04.2014
São Carlos - “Ich meine Eltern versuchen!”. Foi por meio de um e-mail com uma frase em alemão que a vida das famílias Nunes, Weber, Liüthy e Melchiors se cruzaram pela primeira vez. A tradução desta frase é: “Procuro meus pais” e o final desta história foi de muita emoção e alegria em São Carlos e Águas de Chapecó. Um reencontro esperado há 25 anos e a emoção de pai e filha separados pelo oceano Atlântico.
Tudo começou com Agostinho Melchiors, um engenheiro agrônomo aposentando. Durante 30 anos, ele trabalhou na Epagri e participou de diversos cursos de especialização no exterior, principalmente na Alemanha. Foi lá que ele conheceu um projeto de intercâmbio que recebia filhos de agricultores de outros países para aprender e vivenciar as experiências dos produtores rurais alemães.
Com a chegada da aposentadoria, o agrônomo fundou uma associação para proporcionar que jovens catarinenses tivessem a oportunidade de viajar e participar desse projeto. E foi num destes vaivéns o contato de Agostinho foi parar nas mãos de Rosane Webber Liüthy.
Rosane, 32 anos, é brasileira e há 25 anos mora na Alemanha. Com 7 anos, ela e os dois irmãos, César e Luciane, foram viver com a família Webber, que veio da Europa para adotar as três crianças, filhas de Silvino Nunes.
Em 1986, Silvino e os três filhos haviam sido abandonados pela mulher. “Consegui manter eles por dois anos. Não passamos fome, mas foi difícil. Se dava para comer não podia vestir. Se comprava roupa, passava fome”, disse Nunes. Percebendo a dificuldade do funcionário da prefeitura, que é carinhosamente chamado de Pepito, assistentes sociais do Fórum de São Carlos apresentaram para o pai a possibilidade de adoção das crianças. “Eu disse: ‘só se eles cuidarem bem. Mas eu sabia que lá eles teriam uma vida melhor”, lembra. E assim, Silvino viu os três filhos irem embora: primeiro os menores, Cesar, de 4 anos, e Luciane, com 5 anos de idade. Alguns meses depois foi a vez de Rosane.
A MARATONA PARA ENCONTRAR OS PAIS
Sem falar português, Agostinho Melchiors é quem faz a tradução da conversa entre Rosane e a reportagem do Diário do Iguaçu/RedeComSC. Sobre o momento da separação, ela revela que ainda lembra de ver o avô ficando para trás enquanto o carro que a levava se afastava. “Ela só se deu conta que nunca mais veria o avô depois que chegou à Alemanha”, traduz Agostinho.
Rosane, que hoje é enfermeira, revela que sempre teve o desejo de reencontrar a família. “Fühlte mich wie ich gerade im Lotto gewonnen (senti como se tivesse ganhado na loto)”, contou Rosane, quando Agostinho respondeu o primeiro e-mail, enviado em junho de 2013. A partir deste contato é que começou a jornada de Agostinho em busca dos pais da enfermeira.
“Ela só tinha o nome dele e a informação de que ele era funcionário público. Comecei a conversar com os moradores mais antigos da cidade, em busca de informações, mas ninguém conhecia o Silvino Nunes. Até que alguém lembrou que havia alguém na prefeitura com trabalhava”, recorda Agostinho.
Lá, o agrônomo encontrou Pepito. “Não acreditei que isso pudesse acontecer. Mas deu certo e agora ela está aqui”, comemorou Silvino, que revelou ainda que desde que a ex-companheira foi embora, em 1986, ninguém teve mais notícias sobre a localização e nem notícias dela.
Oito meses de espera
Desde a localização do pai, Rosane e o marido Karsten passaram a guardar dinheiro para a viagem. Karsten contou que quando soube que a mulher havia encontrado o pai afirmou que queria estar junto no momento do encontro. Foram meses até reunir dinheiro suficiente e organizar a viagem até que no último domingo (30) Karsten, Rosane e as filhas Rebecca, 9 anos, e Kiara, de 8, desembarcaram em Chapecó.
Enquanto Agostinho recepcionava a chegada deles, no aeroporto de Chapecó, Silvino reunia a família para receber os ilustres convidados. A atual companheira dele, os dois filhos e a família de Nunes se reuniram para aguardar o retorno de Rosane. O reencontro comoveu toda a cidade.
Mesmo falando línguas diferentes, os gestos de carinho e as lembranças são entendidas por pai e filha. A família Liüthy fica em São Carlos até o dia 22 de abril e ainda tem alguns compromissos pela frente. As inúmeras entrevistas para contar sobre o reencontro, mas também as visitas que precisam ser feitas. “Até o prefeito quer conhecer a Rosane”, brincou Pepito. Agora, a expectativa do pai é reencontrar os outros dois filhos que ainda estão na Alemanha.
Fonte: RedeComSC
http://www.portalaconteceu.com.br/noticia/12419/25_anos_depois,_alem%C3%A3_reencontra_pai_em_S%C3%A3o_Carlos
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