Pâmela Paduan
Domingo, 6 de abril de 2014
Reinserir crianças e adolescentes em situação de risco na família biológica é trabalho árduo e nem sempre há sucesso. Em 2013, 46 crianças foram adotadas em Piracicaba, quase uma a cada semana. Este ano, já foram mais seis. Do lado dos interessados, estão 34 casais ou solteiros cadastrados e mais 147 aguardam um posicionamento da Justiça, dos quais 98% preferem crianças recém-nascidas, brancas e do sexo feminino.
Na fila aguardando um lar estão cinco crianças acima de 11 anos, segundo o Cadastro Nacional de Adoção. Os números refletem a maior dificuldade do Poder Judiciário: conseguir a adoção tardia. “A lei prevê que se esgote todas as possibilidades de manter a criança próxima de sua família biológica. Se não conseguimos que os pais acolham a criança de volta, temos de procurar os parentes. Esgotadas essas possibilidades, aí a criança é encaminhada para a adoção. Mas temos muitos processos complicados, pais que são usuários de drogas, alcoólatras, por exemplo. A gente tenta orientar, ajudar a largar o vício, há uma melhora e quando estamos conseguindo reinserir essa criança na família, os pais têm uma recaída. Esse é o grande dilema. Fazemos nova tentativa com os pais? Procuramos parentes? Às vezes, esse processo de reinserção na família biológica demora e a criança atinge uma idade em que não conseguimos mais a adoção”, disse o juiz da Vara da Infância e Juventude, Rogério de Toledo Pierri.
Segundo a promotora da Infância e Juventude, Milene Telezzi Habice, tentar que as crianças fiquem com algum de seus parentes também é difícil. “Os familiares se sentem moralmente cobrados em acolher aquela criança e acolhem sem querer, não é um desejo que veio do coração. Dois, três anos depois, eles devolvem a criança à Justiça e aí a criança já ‘passou da idade’ de ser adotada. Infelizmente, terá de ficar no abrigo até completar a maioridade”, disse.
A psicóloga Nahara Leite Ribeiro, 39, foi uma das que aceitou o desafio de adotar uma criança mais velha. “Eu decidi que queria adotar uma criança porque não tinha namorado, nem marido, mas queria constituir uma família. No começo, quando fiz o cadastro, eu também queria uma criança pequena. Mas comecei a frequentar grupos de apoio, buscar me informar sobre o assunto, visitar casas de acolhimento. Até que cheguei em uma reunião que falava da adoção tardia e resolvi mudar meu cadastro. Logo conheci a Bia, em dezembro de 2010”, contou.
Em março de 2011, Nahara conseguiu a guarda provisória de Beatriz, que tinha oito anos, hoje com 11. “Acho importante sensibilizar as pessoas para que quebrem o preconceito de adotar uma criança mais velha. A Bia era uma criança que não tinha muitas referências, falava alto, precisei ensinar questões de higiene, organização das coisinhas dela. Toda criança dá trabalho, ser pai e mãe é um desafio pra vida toda, independente da idade. Então sempre digo que o importante é você acreditar no potencial da criança. A gente tem que ter persistência, porque tenho certeza que seu filho vai te dar muito orgulho e amor”, disse.
Beatriz agora vai ganhar uma irmãzinha. “Estou no último mês de gestação, engravidei do meu namorado e agora seremos três mulheres em casa. A Bia é super carinhosa comigo, cuidadosa, vive dando beijo na minha barriga e sou muito feliz por tê-la ao meu lado”, completou Nahara.
Foto: Isabela Borghese/JP
http://www.jornaldepiracicaba.com.br/capa/default.asp?p=viewnot&cat=viewnot&idnot=216869
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