sexta-feira, 11 de outubro de 2013

MENINAS ACOLHIDAS EM LAR RELATAM O MELHOR PRESENTE PARA O DIA DAS CRIANÇAS: “QUERIA A MINHA FAMÍLIA”


10/10/2013
Thalyta Andrade

O Dia das Crianças é uma data especial e muito aguardada pelos pequenos, que geralmente criam enorme expectativa por ganhar seus presentes, que atualmente vão dos tradicionais brinquedos até os modernos tablets e outros aparelhos eletrônicos. Mas, qual é o significado desta data para aquelas crianças resgatadas de situações de vulnerabilidade, e que não tem a família ao lado? O Dourados News levantou o questionamento, e foi atrás da resposta no Lar Ebenezer, que acolhe meninas nesta situação em Dourados desde 1988.
Atualmente, são 15 menores acolhidas no Lar, com idade entre cinco e 16 anos. Lá, elas permanecem a espera de uma decisão da Justiça para sua condição, já que todas foram retiradas de suas famílias depois de serem vítimas de violências como abuso sexual, agressão, ou abandono. À espera da conciliação familiar ou, esgotada essa possibilidade, colocadas para adoção, essas crianças convivem com as marcas da violência das quais foram vítimas, mas não deixam de ter sonhos e criarem suas expectativas.
No Dia das Crianças, elas gostariam e até vão ganhar presentes (de colaboradores e pessoas que apadrinharam), mas a maioria aponta que o maior deles, ninguém pode dar. Vítima de abuso sexual, M. de 12 anos, contou à reportagem como seria seu Dia das Crianças perfeito, depois de alguns minutos pensando na melhor forma de explicar o que sente com relação a isso.
“Seria fora do Lar, apesar de eu gostar muito de viver aqui. Mas eu queria sair, passar o dia com minha família, meus dois irmãos, brincar, passear. Porque brinquedo, presente, eu gosto de ganhar. Só que isso estraga né, e família não. Família não dá para ninguém me dar igual boneca”, disse a menina, que está no Lar há dois anos.
Também vítima de abuso sexual, C. de 12 anos, diz que nessas datas ela também preferia ganhar um presente que não é possível comprar.
“Queria ganhar a companhia dos meus irmãos, principalmente da minha irmã, somos muito amigas, tenho saudade dela. Presente é sempre bom, a gente fica muito feliz, mas não é o mais importante para mim”, disse C. cuja irmã, que também chegou a viver no Lar, foi adotada no ano passado.
F. de 13 anos, diferente das duas colegas, foi vítima de abandono. Os pais, usuários de droga e álcool, a deixaram sozinha, e ela então acabou acolhida no Lar por determinação judicial, assim como funciona com todas as meninas que vivem lá. Também questionada pela reportagem sobre o Dia das Crianças, ela foi rápida e sucinta na resposta. “Queria minha família junto comigo, isso seria mais legal que ganhar qualquer presente. Eu gosto de presente, mas preferia minha família”, disse a menina.

COMO FUNCIONA O LAR
O Lar Ebenezer se mantém com base em doações e também convênios beneficentes. A diretoria não é remunerada, mas o Lar conta com o trabalho de profissionais envolvidos na reabilitação das meninas, enquanto elas permanecerem lá. Algumas nunca voltam para a família, e ao completarem 18 anos, são encaminhadas para um emprego ou outra atividade.
A presidente do Lar, Mariucia Bezerra Inácio, que é colaboradora desde 1998, diz que a entidade, que atende vítimas de alta complexidade (violência sexual, agressão, abandono, entre outros), faz o que pode para dar uma vida digna e também uma perspectiva de futuro para as meninas, mas que, o bem maior, não está ao alcance de qualquer ação beneficente.
“Não é possível entrar na cabecinha delas e saber o que pensam, e exatamente o que sentem. Mas, a realidade é que não importa a violência que essas meninas sofreram, elas sempre têm o desejo de estar no seio familiar. Nessas datas, isso aflora, e apesar de fazermos o possível para garantir momentos de alegria, sabemos que o amor e a companhia de mãe, de pai, de irmãos, nós não podemos suprir”.
A assistente social Kelly Moreno Rodrigues, que está no Lar há quase nove anos, também tem o mesmo raciocínio.
“O presente é um importante gesto de carinho, toda criança gosta de receber presente. Mas, essas meninas, trocariam qualquer brinquedo por um momento, ou melhor, por vários momentos ao lado da família delas. Muitas não entendem, ainda que tenham sido vítimas dos próprios familiares, que é a maioria dos casos, a responsabilidade deles. Infelizmente essa necessidade emocional é algo fora do nosso alcance, mas trabalhamos junto para garantir o bem estar delas”, explicou Kelly.

DOAÇÕES
Para ajudar a manutenção do Lar Ebenezer e também o trabalho que é desenvolvido com as meninas que são acolhidas lá, é possível fazer visitas, que podem ser agendadas pelo telefone (67) 3425-4118. O Lar aceita doações em dinheiro, e também de necessidades materiais como produtos de limpeza e higiene, roupas e brinquedos, entre outros.
Além disso, a instituição recebe contribuições em dinheiro, com valor mínimo de R$ 30, que podem ser feitas nas seguintes contas bancárias:
Banco HSBC – Agência: 0234 / Conta corrente: 48.464-20
Banco Bradesco – Agência: 0189 / Conta corrente: 053.347-5
Caixa Econômica Federal – Agência: 2052 / Conta corrente: 126-4
Banco do Brasil – Agência: 0391-3 / 45530-X
Para conhecer a história e o trabalho do Lar, basta acessar o endereço www.ebenezerdourados.com.br

Para meninas, presentes são "legais de ganhar", mas estar com a família é mais importante (Foto: Divulgação/Lar Ebenezer)
Meninas participando de atividade lúdica. Lar é mantido por meio de doações (Foto: Divulgação/Lar Ebenezer)
Maioria das meninas foi acolhida após ser vítima de violência e abandono (Foto: Divulgação/Lar Ebenezer)
http://www.douradosnews.com.br/dourados/meninas-acolhidas-em-lar-resumem-dia-das-criancas-presente-maior-ninguem-pode-dar

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