MENINAS ACOLHIDAS EM LAR RELATAM O MELHOR PRESENTE PARA O DIA DAS CRIANÇAS: “QUERIA A MINHA FAMÍLIA”
10/10/2013
Thalyta Andrade
O Dia das Crianças é uma data especial e muito aguardada pelos
pequenos, que geralmente criam enorme expectativa por ganhar seus
presentes, que atualmente vão dos tradicionais brinquedos até os
modernos tablets e outros aparelhos eletrônicos. Mas, qual é o
significado desta data para aquelas crianças resgatadas de situações de
vulnerabilidade, e que não tem a família ao lado? O Dourados News
levantou o questionamento, e foi atrás da resposta no Lar Ebenezer, que
acolhe meninas nesta situação em Dourados desde 1988.
Atualmente,
são 15 menores acolhidas no Lar, com idade entre cinco e 16 anos. Lá,
elas permanecem a espera de uma decisão da Justiça para sua condição, já
que todas foram retiradas de suas famílias depois de serem vítimas de
violências como abuso sexual, agressão, ou abandono. À espera da
conciliação familiar ou, esgotada essa possibilidade, colocadas para
adoção, essas crianças convivem com as marcas da violência das quais
foram vítimas, mas não deixam de ter sonhos e criarem suas expectativas.
No Dia das Crianças, elas gostariam e até vão ganhar presentes (de
colaboradores e pessoas que apadrinharam), mas a maioria aponta que o
maior deles, ninguém pode dar. Vítima de abuso sexual, M. de 12 anos,
contou à reportagem como seria seu Dia das Crianças perfeito, depois de
alguns minutos pensando na melhor forma de explicar o que sente com
relação a isso.
“Seria fora do Lar, apesar de eu gostar muito de
viver aqui. Mas eu queria sair, passar o dia com minha família, meus
dois irmãos, brincar, passear. Porque brinquedo, presente, eu gosto de
ganhar. Só que isso estraga né, e família não. Família não dá para
ninguém me dar igual boneca”, disse a menina, que está no Lar há dois
anos.
Também vítima de abuso sexual, C. de 12 anos, diz que nessas
datas ela também preferia ganhar um presente que não é possível comprar.
“Queria ganhar a companhia dos meus irmãos, principalmente da minha
irmã, somos muito amigas, tenho saudade dela. Presente é sempre bom, a
gente fica muito feliz, mas não é o mais importante para mim”, disse C.
cuja irmã, que também chegou a viver no Lar, foi adotada no ano passado.
F. de 13 anos, diferente das duas colegas, foi vítima de abandono. Os
pais, usuários de droga e álcool, a deixaram sozinha, e ela então acabou
acolhida no Lar por determinação judicial, assim como funciona com
todas as meninas que vivem lá. Também questionada pela reportagem sobre o
Dia das Crianças, ela foi rápida e sucinta na resposta. “Queria minha
família junto comigo, isso seria mais legal que ganhar qualquer
presente. Eu gosto de presente, mas preferia minha família”, disse a
menina.
COMO FUNCIONA O LAR
O Lar Ebenezer se mantém com
base em doações e também convênios beneficentes. A diretoria não é
remunerada, mas o Lar conta com o trabalho de profissionais envolvidos
na reabilitação das meninas, enquanto elas permanecerem lá. Algumas
nunca voltam para a família, e ao completarem 18 anos, são encaminhadas
para um emprego ou outra atividade.
A presidente do Lar, Mariucia
Bezerra Inácio, que é colaboradora desde 1998, diz que a entidade, que
atende vítimas de alta complexidade (violência sexual, agressão,
abandono, entre outros), faz o que pode para dar uma vida digna e também
uma perspectiva de futuro para as meninas, mas que, o bem maior, não
está ao alcance de qualquer ação beneficente.
“Não é possível entrar
na cabecinha delas e saber o que pensam, e exatamente o que sentem.
Mas, a realidade é que não importa a violência que essas meninas
sofreram, elas sempre têm o desejo de estar no seio familiar. Nessas
datas, isso aflora, e apesar de fazermos o possível para garantir
momentos de alegria, sabemos que o amor e a companhia de mãe, de pai, de
irmãos, nós não podemos suprir”.
A assistente social Kelly Moreno Rodrigues, que está no Lar há quase nove anos, também tem o mesmo raciocínio.
“O presente é um importante gesto de carinho, toda criança gosta de
receber presente. Mas, essas meninas, trocariam qualquer brinquedo por
um momento, ou melhor, por vários momentos ao lado da família delas.
Muitas não entendem, ainda que tenham sido vítimas dos próprios
familiares, que é a maioria dos casos, a responsabilidade deles.
Infelizmente essa necessidade emocional é algo fora do nosso alcance,
mas trabalhamos junto para garantir o bem estar delas”, explicou Kelly.
DOAÇÕES
Para ajudar a manutenção do Lar Ebenezer e também o trabalho que é
desenvolvido com as meninas que são acolhidas lá, é possível fazer
visitas, que podem ser agendadas pelo telefone (67) 3425-4118. O Lar
aceita doações em dinheiro, e também de necessidades materiais como
produtos de limpeza e higiene, roupas e brinquedos, entre outros.
Além disso, a instituição recebe contribuições em dinheiro, com valor
mínimo de R$ 30, que podem ser feitas nas seguintes contas bancárias:
Banco HSBC – Agência: 0234 / Conta corrente: 48.464-20
Banco Bradesco – Agência: 0189 / Conta corrente: 053.347-5
Caixa Econômica Federal – Agência: 2052 / Conta corrente: 126-4
Banco do Brasil – Agência: 0391-3 / 45530-X
Para conhecer a história e o trabalho do Lar, basta acessar o endereço www.ebenezerdourados.com.br
Para meninas, presentes são "legais de ganhar", mas estar com a família é mais importante (Foto: Divulgação/Lar Ebenezer)
Meninas participando de atividade lúdica. Lar é mantido por meio de doações (Foto: Divulgação/Lar Ebenezer)
Maioria das meninas foi acolhida após ser vítima de violência e abandono (Foto: Divulgação/Lar Ebenezer)
http://www.douradosnews.com.br/dourados/meninas-acolhidas-em-lar-resumem-dia-das-criancas-presente-maior-ninguem-pode-dar
Nenhum comentário:
Postar um comentário