sexta-feira, 11 de outubro de 2013

OUTRO JUIZ INVESTIGADO POR ADOÇÃO IRREGULAR CORTE


10/10/2013
Raphael Guerra
Diario de Pernambuco
ADOÇÃO IRREGULAR
Especial do TJPE irá julgar caso de magistrado que deu guarda provisória de menino supostamente vendido pela mãe

Após o escândalo envolvendo supostas irregularidades cometidas por uma juíza no processo de adoção de uma criança em Olinda, outro caso vem à tona em Pernambuco. Um magistrado na Comarca de Canhotinho, município do Agreste, distante 210 km do Recife, está sendo investigado pela Corregedoria-Geral de Justiça. Ele teria concedido a guarda provisória a uma mulher, três dias após a mesma ter passado a viver com um menino, supostamente vendido pela mãe por R$ 1 mil e um celular. No mesmo dia, o juiz também autorizou a alteração do registro de nascimento da criança e a realização de viagens. O processo de adoção foi questionado porque, segundo a Corregedoria, aconteceu muito rápido e sem a manifestação do Ministério Público. Após passar por julgamento na Corte Especial do TJPE, o juiz poderá sofrer sanções, incluindo a aposentadoria compulsória.
O resultado da investigação preliminar foi publicado, na última terça-feira, no Diário de Justiça Eletrônico. Agora, o magistrado terá 15 dias úteis para defesa prévia sobre as acusações que constam em relatório assinado pelo corregedor-geral de Justiça, Frederico Neves. No documento, o desembargador pontuou que há indícios de que o juiz não respeitou o Cadastro Nacional de Adoção e não deu preferência à manutenção da criança na família natural, mas não informa se o investigado tinha ciência de que estava permitindo a guarda provisória de uma criança que havia sido vendida pela mãe três dias antes. A própria mulher interessada procurou o magistrado para fazer o pedido de guarda, sendo este concedido imediatamente, o que não poderia ter ocorrido visto que não houve posicionamento do Ministério Público e nem a criança estava destituída do poder familiar.
O processo de adoção começou em abril de 2010, mas as investigações da suposta concessão irregular só tiveram início no ano seguinte, quando a Comissão Estadual Judiciária de Adoção denunciou o caso à Corregedoria. No relatório de Frederico Neves, é informado que a mãe do menino se arrependeu de entregar o filho, menos de três meses depois do acordo de repassar a guarda, e procurou o juiz para dizer que “amava demais o seu filho e que queria ele de volta”. Também pediu “desculpas ao casal adotante por sua retratação”. Apesar do depoimento, o magistrado não revogou a decisão da guarda provisória. Neves destacou que, por isso, houve descumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Consta ainda em relatório que uma das testemunhas ouvidas pela corregedoria afirmou que “já tinha havido outras adoções em situação similar” na comarca. As investigações correm em sigilo, por isso o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) não quis informar o nome do juiz que está sob investigação. Apesar das denúncias, ele continua exercendo suas atividades normalmente. O Ministério Público, que posteriormente acompanhou o andamento do processo de adoção do menino, também não se pronunciou sobre o caso.

PRAZO PARA JUÍZA
A juíza titular da Vara da Infância e Juventude de Olinda, Andréa Calado, tem até o próximo dia 18 para apresentar a defesa prévia sobre as acusações investigadas pela Corregedoria Geral de Justiça, entre elas a de suposto favorecimento na concessão de guarda provisória da menina M.A. a um casal que vive nos Estados Unidos e não fazia parte do Cadastro Nacional de Adoção. A denúncia foi feita pela Promotoria da Infância e Juventude de Olinda, e resultou na devolução da criança, que já está vivendo com nova família no município.
Pesam contra a magistrada suspeitas de assédio moral e coação de servidores da Vara onde ela atua desde janeiro deste ano, falsidade ideológica, atrasos em três decisões judiciais para satisfazer interesses pessoais e a denúncia de liberar a presença de PMs que fazem parte de sua escolta pessoal na sala de audiências.
O corregedor-auxiliar de Justiça, José André Barbosa, realizou vistorias na Vara e colheu 18 depoimentos de juízes, promotores e servidores do TJPE. Ele sugeriu a abertura de outros três procedimentos para apurar a conduta de Andréa Calado: suspeita de vazamento de informações de dois processos de desvios de conduta de policiais, suspeita de ter obrigado uma funcionária a varrer os corredores da Vara e, por fim, a acusação de que obrigou os servidores a fazerem uma cota para reposição de dinheiro que teria desaparecido da Vara.
Após o prazo de defesa, o corregedor-geral, Frederico Neves, decidirá pela abertura do Procedimento Administrativo Disciplinar, que ficará sob a responsabilidade da Corte Especial do TJPE. A juíza poderá sofrer sanções, incluindo sua aposentadoria.
Corte Especial do TJPE irá julgar caso de magistrado que deu guarda provisória de menino supostamente vendido pela mãe. Foto: Ricardo Fernandes/ DP/ D.A.Press-
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2013/10/10/interna_vidaurbana,467093/outro-juiz-investigado-por-adocao-irregular.shtml

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