domingo, 6 de abril de 2014

AGRADECIMENTO



Em dezembro/2013 escrevi que tinha vivido um dos piores dias da minha vida. Passei três meses completamente descrente de tudo e com certeza que o judiciário era absolutamente injusto. Contei, em tal período, com os constantes apoios de Suzana Schettinni, Rhô Silva, Helô, Ana Silva, Eliana Bayer e do apoio in loco de minhas sócias Giulia e Luciana, dentre outras pessoas que, sempre, reforçavam a fé em Deus e na justiça.
Foram inúmeras pessoas a incluir a busca por justiça em suas orações, preces e pedidos. Inúmeros operadores do direito nos enviaram jurisprudências a cada novo caso, a cada nova decisão, opiniões, comentários, ligações.
Felipe Fernandes e Barbara Toledo foram para o corpo-a-corpo conosco, todos lutando por um único objetivo: que o direito à convivência familiar de uma criança fosse respeitado, que seu melhor interesse fosse cumprido.
Os dias se passaram lentamente, as horas tinham 200 minutos, cada minuto 300 segundos, pois, o tempo da dor é absolutamente maior, mais grande (sei do erro de português, mas é assim que preciso me expressar), mais que grande.
Natal, ano novo, carnaval e a angústia continuava. Olhos grudados no computador aguardando uma alteração no processo. Uma rede de apoio de formava onde a querida Ana Paula Monteiro fazia parte, incansável.
E finalmente vem o julgamento, a sessão solene. Todos nós reunidos: Luciana, Giulia, Alan, eu, os pais.
Expectativa, angústias...
Finalmente vem a decisão perfeitamente elaborada, minuciosa, precisa e baseada nos princípios norteadores do direito da criança e do adolescente, no seu melhor interesse, na prioridade absoluta, na dignidade da pessoa humana.
Saio do papel de advogada, submerge a mãe que durante o mesmo tempo que os pais de J. acordaram sem seu filho, também com eles acordava e sofria. Chorei, sim, chorei, não tenho como ser diferente, não ser eu, não me atirar de corpo, mente e alma nos casos que acompanho.
Quando Miguel, há tempos atrás, foi retirado de seus pais, Célia e Jorge, e acolhido em entidade de acolhimento institucional, também sofri junto a cada um dos 30 dias do acolhimento. Não pode ser diferente, pois não temos como nos dissociar das causas que acompanhamos. Se a adoção nos faz famílias de alma, crio um parentesco de alma com os que nos buscam, uma quase tia ou madrinha das crianças pelas quais lutamos.
Entendo eu que tudo o que fazemos com amor, nos colocando no lugar do outro, traz um nível de envolvimento quase cármico. Nada acontece por acaso, Deus, em todas as suas configurações religiosas e em pleno respeito a cada uma delas, está no comando, não estamos um na vida do outro por mero acaso. Se você está lendo, também não é por acaso.
A justiça existe, talvez tarde, mas existe e recuperei minha fé na justiça.

Aquele quarto vazio, aqueles brinquedos tão bem arrumados em cima da caminha impecável, o ursinho, o cachorrinho que late e balança o rabo, o anjinho que recita a oração, todos, todos mesmos estão espalhados no tapete de quadrados coloridos no chão do quarto de J. A TV vermelha está ligada e o desenho animado está passando, algum personagem faz J. gargalhar...Gostaria que ouvissem o soar gostoso dessa gargalhada.
Na cozinha o “cadeirão” está na cabeceira da mesa e J. já voltou a fazer lá suas refeições.
Aquela casa que durante três meses parecia envolta em neblina está reluzente com cores, alegrias, sorrisos infantis, gargalhadas ingênuas e palavras como “mamãe” e “papai” ecoam como cânticos.
O que mais dizer de uma cena como essa? O que dizer de uma mãe que tinha se apagado como uma estrela morta que resplandeceu como o sol? O que dizer dessa família que, unida, neste domingo tão familiar, está envolta em uma aura de felicidade que brilha? O que dizer?
Essa mensagem é uma forma de agradecimento a todos que sofreram e atuaram junto e que mesmo não mencionados podem ter a certeza de que contribuíram para que hoje uma família esteja completa.
Silvana do Monte Moreira

Nenhum comentário: