Em dezembro/2013 escrevi que
tinha vivido um dos piores dias da minha vida. Passei três meses completamente
descrente de tudo e com certeza que o judiciário era absolutamente injusto.
Contei, em tal período, com os constantes apoios de Suzana Schettinni, Rhô Silva,
Helô, Ana Silva, Eliana Bayer e do apoio in loco de minhas sócias Giulia e
Luciana, dentre outras pessoas que, sempre, reforçavam a fé em Deus e na
justiça.
Foram inúmeras pessoas a incluir
a busca por justiça em suas orações, preces e pedidos. Inúmeros operadores do
direito nos enviaram jurisprudências a cada novo caso, a cada nova decisão,
opiniões, comentários, ligações.
Felipe Fernandes e Barbara Toledo
foram para o corpo-a-corpo conosco, todos lutando por um único objetivo: que o
direito à convivência familiar de uma criança fosse respeitado, que seu melhor
interesse fosse cumprido.
Os dias se passaram lentamente,
as horas tinham 200 minutos, cada minuto 300 segundos, pois, o tempo da dor é
absolutamente maior, mais grande (sei do erro de português, mas é assim que
preciso me expressar), mais que grande.
Natal, ano novo, carnaval e a angústia
continuava. Olhos grudados no computador aguardando uma alteração no processo.
Uma rede de apoio de formava onde a querida Ana Paula Monteiro fazia parte,
incansável.
E finalmente vem o julgamento, a
sessão solene. Todos nós reunidos: Luciana, Giulia, Alan, eu, os pais.
Expectativa, angústias...
Finalmente vem a decisão
perfeitamente elaborada, minuciosa, precisa e baseada nos princípios
norteadores do direito da criança e do adolescente, no seu melhor interesse, na
prioridade absoluta, na dignidade da pessoa humana.
Saio do papel de advogada,
submerge a mãe que durante o mesmo tempo que os pais de J. acordaram sem seu
filho, também com eles acordava e sofria. Chorei, sim, chorei, não tenho como
ser diferente, não ser eu, não me atirar de corpo, mente e alma nos casos que
acompanho.
Quando Miguel, há tempos atrás,
foi retirado de seus pais, Célia e Jorge, e acolhido em entidade de acolhimento
institucional, também sofri junto a cada um dos 30 dias do acolhimento. Não
pode ser diferente, pois não temos como nos dissociar das causas que
acompanhamos. Se a adoção nos faz famílias de alma, crio um parentesco de alma
com os que nos buscam, uma quase tia ou madrinha das crianças pelas quais
lutamos.
Entendo eu que tudo o que fazemos
com amor, nos colocando no lugar do outro, traz um nível de envolvimento quase
cármico. Nada acontece por acaso, Deus, em todas as suas configurações
religiosas e em pleno respeito a cada uma delas, está no comando, não estamos
um na vida do outro por mero acaso. Se você está lendo, também não é por acaso.
A justiça existe, talvez tarde,
mas existe e recuperei minha fé na justiça.
Aquele quarto vazio, aqueles
brinquedos tão bem arrumados em cima da caminha impecável, o ursinho, o
cachorrinho que late e balança o rabo, o anjinho que recita a oração, todos,
todos mesmos estão espalhados no tapete de quadrados coloridos no chão do
quarto de J. A TV vermelha está ligada e o desenho animado está passando, algum
personagem faz J. gargalhar...Gostaria que ouvissem o soar gostoso dessa
gargalhada.
Na cozinha o “cadeirão” está na
cabeceira da mesa e J. já voltou a fazer lá suas refeições.
Aquela casa que durante três
meses parecia envolta em neblina está reluzente com cores, alegrias, sorrisos
infantis, gargalhadas ingênuas e palavras como “mamãe” e “papai” ecoam como cânticos.
O que mais dizer de uma cena como
essa? O que dizer de uma mãe que tinha se apagado como uma estrela morta que
resplandeceu como o sol? O que dizer dessa família que, unida, neste domingo
tão familiar, está envolta em uma aura de felicidade que brilha? O que dizer?
Essa mensagem é uma forma de
agradecimento a todos que sofreram e atuaram junto e que mesmo não mencionados
podem ter a certeza de que contribuíram para que hoje uma família esteja
completa.
Silvana do Monte Moreira
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