sexta-feira, 12 de outubro de 2012

ABRIGO DE VILHENA, RO, TEM 12 CRIANÇAS A ESPERA DE VOLTAR PARA CASA



12/10/2012
Agressão e abandono são os históricos familiares mais frequentes.
Adoção é o último recurso da Justiça para o destino das crianças.
Flávio Godoi Do G1 RO

As 12 crianças que atualmente residem no abrigo municipal de Vilhena, RO, aguardam da Justiça a decisão sobre os seus destinos. Vítimas de agressão doméstica, abandono e envolvimento dos pais com o tráfico de drogas, o abrigo é apenas um lar provisório.
Os pequenos João e Maria (nomes fictícios) são os mais jovens moradores da casa, ambos com menos de um ano e meio de idade. Por normas do município, o local não possui identificação em sua fachada. Tudo para que o ambiente se aproxime ao máximo de uma residência comum.
João e Maria são primos em primeiro grau e estão no abrigo praticamente desde o nascimento. De acordo com o coordenador do lar, Maximiliano Machado, a história das duas crianças ainda possui outro fator preocupante; a mãe de Maria já passou pelo abrigo quando era menor de idade. Corriqueiramente, as mães das duas crianças, que são irmãs, enfrentam problemas com as autoridades relacionados ao uso de drogas.
A desestrutura familiar pode afetar a vida das próximas gerações" Maximiliano Machado, coordenador
“Essas duas crianças são exemplos de como a desestrutura familiar pode afetar a vida das próximas gerações. Hoje elas vivem praticamente o mesmo histórico das mães”, observa o coordenador.
Junto com João e Maria, o abrigo de Vilhena é o lar de outras dez menores, o mais velho tem 17 anos. Durante o dia, a maioria frequenta a escola. A tarefa de proporcionar os cuidados que eles não tinham em seus lares originais cria laços entre os funcionários do local e as crianças, conforme relata Maximiliano.
“Nesta terça-feira (9), três crianças deixaram o abrigo. Voltaram para a casa de seus pais após a Justiça analisar que os mesmos já estão aptos para cuidar dos filhos. Para nós é sempre uma partida com aperto no coração, pois nos apegamos a elas e vice-versa”, revela.
Noventa por cento das crianças de chegam ao abrigo permanecem por períodos que variam de seis meses a um ano, conforme revelou a direção. Neste meio tempo, o trabalho da Justiça é esgotar a possibilidade de regresso aos lares biológicos, seja com a guarda dos pais, avós, tios e afins. O acompanhamento de assistentes sociais e psicólogos, tanto com os pais quanto com as crianças, é a maneira utilizada para reconstruir a família. Se não houver condições dos pais ou parentes ficarem com a guarda dos menores, o próximo passo é a adoção.

23 FAMÍLIAS CADASTRADAS
Segundo a juíza da Vara da Infância e da Juventude de Vilhena, Sandra Beatriz, a adoção é o último recurso e para isso é preciso que os interessados façam cadastro no Fórum de Justiça e entrem na fila de espera. Atualmente há 23 pessoas cadastradas para adotar crianças em Vilhena.
Das crianças do abrigo, Maria já está com a adoção garantida. A Justiça entendeu que sua mãe biológica não possui condições físicas e morais de criar a filha. Outras três crianças têm processos que caminham para o mesmo desfecho. “Não gostamos de divulgar as possibilidades de adoção porque aparecem muitas pessoas querendo adotar e esta é, como disse, a última alternativa. O intuito da Justiça é que as crianças retornem para suas casas”, salientou a juíza.

VIOLÊNCIA
Desde 2009, segundo Maximiliano, o número de crianças sob os cuidados do município diminuiu mais de 50%, porém a maioria dos casos passou a ser relacionados à agressão e ao abandono.
“Hoje temos um número menor de crianças aqui no abrigo, mas infelizmente tem aumentado os casos de violência dos pais contra as crianças e também o abandono. Antes, registrávamos mais casos de pais usuários de drogas”, observou o coordenador.
Segundo Maximiliano, as crianças do abrigo não podem ser confundidas com o histórico familiar de cada uma. “As crianças que chegam a nós são vítimas, não são infratores. Os que cometem crimes são encaminhados para a Casa da Cidadania. É preciso desmistificar as comparações que são feitas”.
O abrigo de Vilhena recebe doações de todos os gêneros. Sua localização é na Rua Getúlio Vargas, n°636, no centro da cidade.
João e Maria são filhos de usuárias de drogas (Foto: Flávio Godoi/G1)
http://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2012/10/abrigo-de-vilhena-ro-tem-12-criancas-espera-de-voltar-para-casa.html

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