Pais e mães estão ocupados demais. Trabalhamos o dia inteiro, temos muitos afazeres e ainda há outros fatores que roubam nosso tempo de convivência em família (o trânsito, por exemplo, é um problema em várias cidades brasileiras). Em muitas famílias, a renda do trabalho da mãe é parte essencial do orçamento familiar, o que obriga muitas mulheres a voltarem a trabalhar tendo um filho de 4 meses em casa. Como falar da importância da presença a uma família tão ocupada? E por que falar disso às vésperas do Dia das Crianças?
Quando estamos no olho do furacão da rotina diária, acabamos nos apegando a detalhes pouco importantes. Imagine a cena: seu filho vê sei lá quantas vezes a propaganda do novo trenzinho elétrico. Na peça publicitária que anuncia o brinquedo, está lá toda a família sentada em volta do trem armado no chão da sala. Isso não é à toa: os anunciantes se aproveitam dessa fragilidade familiar para usar seus produtos como solução para tal ausência. O efeito é imediato: “Mãe, pai, quero esse brinquedo!” Os pais, sobrecarregados, se desdobram para realizar o desejo do filho, afinal, se eles não podem estar presentes, podem ao menos realizar seus desejos. O trem é utilizado por algumas semanas antes de ser abandonado em um canto do quarto.
O que será que essa criança queria? O trem ou toda a família sentada no chão da sala? Segundo uma pesquisa do Datafolha encomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (e publicada na revista Época em maio deste ano), o menino provavelmente queria a segunda opção. A pesquisa, que ouviu crianças de 4 a 10 anos em 131 municípios brasileiros, descobriu que o que deixa nossos filhos felizes são coisas simples, como ficar com a família, brincar com os amigos, praticar esportes. Noventa e seis por cento das crianças ouvidas apontaram o dia do aniversário como um dos mais felizes. Seria por causa dos presentes? Não! É porque, nesse dia, recebem todas as atenções. Mas a indústria usa uma linguagem sutil que nos impele a pensar que, quanto mais caro e maior o presente, mais seremos felizes e faremos nossos filhos felizes.
“Certo”, pensa você que está lendo este texto. “Mas como fazer isso? Trabalho muito, há dias em que chego muito tarde e mal consigo ver as crianças. Como estar mais presente na vida de meus filhos? Como escapar dessa armadilha engendrada de maneira sofisticada pelos departamentos de marketing?”
Que tal dedicar os fins de semana a eles? A babá precisa mesmo ir ao parque com vocês no sábado de manhã? No dia das crianças é feriado, que tal um grande almoço em família, daqueles que seguem pela tarde, com todos os primos correndo pela casa? E nas férias, por que não escolher um destino que agrade a toda a famíla para que possam ir juntos? As crianças crescem, daqui a pouco terão suas próprias famílias, turmas de amigos… Será que você não vai sentir saudades dessa época, em que tudo o que elas queriam era fazer um castelo de areia com o pai e a mãe? Esteja atento aos “eu quero esse” do seu filho, ele pode estar apontando para o cenário da propaganda e não para o brinquedos!
Por que falar deste assunto no Dia das Crianças? Porque são em datas como esta que o comércio tenta nos pegar pelo pé. Afinal, quem não gosta de presentear aqueles que ama? E qual o problema de dar um presente para as crianças?
Não há problema nenhum em dar um presente para seu filho! Mas vamos pensar no papel do presente em um dia como esse? A criança não precisa do maior e mais caro brinquedo da loja (aquele que você vai pagar parcelado até o próximo dia das crianças) para ficar mais feliz. Assim como não precisa do maior ovo de páscoa ou ganhar montes de presentes no Natal… A criança precisa da família. Que você se sente no chão da sala e brinque com ela e o novo brinquedo. Ela precisa passear no parque ao ar livre e aprender a fazer um castelo de areia. Mas isso não dá lucro a ninguém: só ao seu filho!
E aí? Vamos fazer deste Dia das Crianças um dia inesquecível para toda a família?
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