MÃE ADOTIVA TAMBÉM FUNCIONA!
SUZANA HERCULANO-HOUZEL suzanahh@gmail.com
Ser cuidado por uma rata adotiva que deita sobre a cria
e lambe os filhotes é ótimo para o cérebro do ratinho
Escrevi na coluna anterior sobre as marcas que a
institucionalização deixa nos cérebros dos bebês anos mais tarde, mesmo quando
adotados ainda na infância: um desenvolvimento mais lento, com um volume
cerebral 10% menor do que o de crianças da mesma idade criadas desde sempre
pela própria família.
Por
um lado, essas e outras evidências, como a taxa elevada de transtornos de
ansiedade na vida adulta, indicam que a institucionalização deve ser um último
recurso. Por outro, dão margem a uma interpretação errada: a de que adotar não
adianta.
Adianta, sim -e a mensagem é justamente a de que a criança órfã ou abandonada
precisa ser adotada o quanto antes, mesmo que por famílias temporárias, de
preferência uma que saiba lhe dar carinho e atenção.
A evidência mais impactante vem de... bebês ratos, que são facilmente
"institucionalizáveis" em laboratório, recebendo contato com ratas
mães apenas para se alimentarem - ou sendo entregues aos cuidados de ratas mães
adotivas.
O impressionante é que a diferença entre o cuidado apenas burocrático e a
adoção por uma mãe carinhosa ou por uma mãe ausente é evidente até com os
ratos. A separação crônica da mãe deixa várias marcas no cérebro, modificações
que levam a problemas cognitivos, ansiedade, hiper-reatividade e estresses na
vida adulta.
Mães adotivas tão pouco presentes e atenciosas quanto uma cuidadora
institucional ajudam, mas não muito (embora, para o cérebro, qualquer mãe seja
melhor do que nenhuma mãe, mas isso é outro assunto).
Em comparação, ser criado por uma rata-mãe adotiva carinhosa -que vive
recolhendo sua cria para deitar sobre ela e lamber os filhotes- é tudo de bom
para esses bichinhos e seus cérebros.
E mais: mesmo sendo filhas biológicas de mães que as desprezaram, ratinhas
criadas por mães carinhosas, adotivas ou não, se tornam adultas com bem menos
problemas de ansiedade e, quando chega sua vez, mães também carinhosas.
Dar carinho ao seu filhote adotado, portanto, é investir desde já no bem-estar
dos seus netos.
Por fim, pais, não se sintam excluídos. Estudos com ratos são necessariamente
feitos com as mães, porque os ratos-pais... não dão a mínima para os filhotes.
Mas vocês, homens, podem escolher fazer a diferença para seus filhos,
biológicos ou adotivos, dando-lhes muito carinho e atenção.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ e autora do livro
"Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do
blog www.suzanaherculanohouzel.com
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/70934-mae-adotiva-tambem-funciona.shtml
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