19.08.2014
Pretendentes à adoção
No Ceará, média é de cinco pretendentes para cada jovem apto à adoção, mas a maior procura é por crianças.
Seis anos após a criação, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Cadastro Nacional de Adoção, o órgão começa a disponibilizar em seu site na internet as estatísticas relativas ao perfil dos pretendentes à adoção e das crianças a serem adotadas no País. Criado com o objetivo de agilizar os processos de adoção através do mapeamento de informações unificadas, o Cadastro possibilita ainda a implantação de políticas públicas na área.
Chama a atenção a significativa disparidade entre o número de pretendentes à adoção e a quantidade de crianças juridicamente aptas para o processo. Conforme o Cadastro, no Ceará, são 457 pretendentes e 95 crianças e adolescentes aptos, o que dá a desproporcional média de cinco pretendentes para cada criança ou adolescente. Um dos motivos para essa desconformidade é o fato de 70,94% dos pretendentes buscarem crianças de até três anos de idade. Devido à demora no processo de destituição familiar e de adoção, muitas vezes elas acabam se tornando "desinteressantes".
RAÇA/COR
Outro perfil que buscam é o de crianças brancas. Elas são aceitas por 91,33% dos pretendentes, seguidas das pardas (68,82%) e negras (41,02%), enquanto 60,95% são indiferentes em relação ao sexo da criança. Na região Nordeste, são 2.932 pretendentes aptos para adoção, dos quais 12,35% aceitam crianças pardas, 11,66% brancas e apenas 1,33% negras.
De acordo com o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) existem, juridicamente aptos para adoção, 323 pretendentes no Ceará. Já as crianças disponíveis para adoção somam 62, sendo 43 saudáveis, 12 com paralisia cerebral, cinco com doenças mentais, uma com doença tratável e uma com deficiência visual. O TJCE informa ainda que 15 estão sendo visitadas.
Iraneide Soares, assistente social do Abrigo Tia Júlia, vinculado à Secretaria do Trabalho e Assistência Social (STDS), destaca que, com a disponibilização do cadastro na internet, ficará mais fácil para as pessoas interessadas em adotar buscarem informações. "Adotar é tirar essas crianças dos abrigos. Elas estão ali cumprindo uma punição por algo que não fizeram. Algumas passam quatro, cinco anos esperando o contato de alguém da família, mas ninguém aparece", observa. Por isso, a assistente social apela para a adoção tardia, dando oportunidade também às crianças acima de três anos.
Alda Maria Holanda Leite, juiza titular da 3ª Vara da Infância e da Juventude e coordenadora das Varas da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Ceará destaca que a busca por crianças brancas é um entrave para adoção. "O que dificulta essa adoção é o perfil que as pessoas exigem. Elas querem crianças brancas, de cabelo liso, cor de olho claro. Quem vai ter um filho não pode escolher como ele vai vir, mas quem vai adotar se sente no direito de acolher até a cor da pessoa", critica.
Confirmando a tendência nacional que aponta que 62,6% (19.905) dos pretendentes possuem faixa salarial entre dois e dez salários mínimos, a magistrada afirma que o perfil dos adotantes é de pessoas abaixo da classe média. "Geralmente, elas vêm às audiências de ônibus", observa.
MAIS INFORMAÇÕES:
Para ter acesso às estatísticas do Cadastro Nacional de Adoção, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), basta acessar o site do órgão: www.cnj.jus.br
Luana Lima - Repórter
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/70-buscam-criancas-de-ate-tres-anos-de-idade-1.1081774
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