Rafael: realização de um grande sonho
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Juliano
e Olívia enchem o pequeno Rafael de carinho e trabalham para que o
filho seja independente e vá para a faculdade (Foto: Matheus Urenha / A
Cidade)
As palavras são da mãe, mas o pai concorda em gênero e grau. No primeiro casamento, ele teve uma filha biológica e uma adotada. Quando Olívia descobriu que não poderia ter filhos, após sete anos de casamento, Juliano não teve dúvidas. “Da primeira vez deu super certo!”, explica.
O casal foi buscar a adoção e, em menos de três meses, já tinham o filho desejado. Não esperavam que seria tão rápido, mas também não colocaram restrições no perfil da criança. A primeira possibilidade era de adotarem três irmãos de 10, 7 e 5 anos.
Olívia, que trabalhava como auxiliar de limpeza, e Juliano, que é metalúrgico, não se intimidaram. Deram um jeito de organizar a casa simples com todo o amor que puderam. “Não deu certo. É como um aborto”, ela conta.
Dias depois, porém, souberam de Rafael. Já na primeira foto que viram do bebê, que estava com menos de 5 meses, se apaixonaram. Pediram para conhecê-lo no hospital. Além do Down, Rafael nasceu com más formações, passou dias internados e já precisou de três cirurgias. “Eu só me preocupei porque tinha medo de hospital, não sabia se ia conseguir cuidar dele. Mas me superei”, diz a mãe.
Colocaram os pés na UTI do Hospital das Clínicas e já se sentiram pais. “O amor que senti era tão grande que parecia que meu coração ia explodir”, conta Olívia, repetindo a alegria do primeiro dia. Entraram com o pedido de adoção e, quando Rafael teve alta, já foi para sua nova casa.
Olívia está realizada. “Aquele momento em que soube que não poderia ter filhos, foi superado”, afirma. Deixou o trabalho e apertou as contas para poder cuidar do filho. Acompanha o menino na Apae três vezes na semana e nos outros dois dias, por recomendação da psicóloga, ele frequenta a creche comum.
Os pais comemoram cada vitória. “A criança que não fica presa na limitação, se supera. Ele vai para o chão, brinca com as outras crianças, está aprendendo a se superar”, diz o pai.
A próxima meta é aprender a dar os primeiros passinhos. Mas os planos são grandes. “Queremos que ele seja independente, que faça faculdade. Logo vamos procurar uma escola de música – ele gosta, tem ritmo. Olha o que aprontou no pandeiro”, o pai mostra o objeto gasto pelo uso. Rafael percebe e já estica as mãozinhas, querendo tocar. Não perde tempo.
Adoção especial não é caridade, diz juiz Gentile
Tanto o juiz Paulo Gentile quanto o promotor Luís Henrique Paccagnella concordam que, nos últimos anos, está mais fácil encontrar famílias para crianças com deficiências. “Antes, essas adoções eram todas internacionais. Hoje, nossas crianças ficam aqui”, pontua Gentile.
Ainda assim, a cultura do recém-nascido e a dificuldade em aceitar diferenças é muito forte. “Não há cultura de adotar crianças maiores e com características diferentes das dos adotantes. Isso é algo cultural”, diz Paccagnella.
Gentile entende que a adoção especial não pode ser feita por dó ou caridade. “A gente tem toda uma atenção para que essas adoções não sejam feitas por pena, por religiosidade, por caridade. Esses sentimentos são impulsos efêmeros. Passam logo e vem o arrependimento.”
O procedimento de adotar uma criança com deficiência é o mesmo que o de uma adoção normal. Os adotantes, porém, quando preenchem o perfil de criança desejada, devem deixar claro que não têm restrições quanto a problemas de saúde ou mentais. As condições que esses pais têm de adotar uma criança com deficiência será avaliada pela Justiça e o procedimento burocrático é igual, independentemente das características da criança a ser adotada.
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