Com serenidade nas
palavras, Marcos Aurélio Araújo dos Santos conta sua trajetória de vida,
marcada, na infância, pelo abandono do pai e pela prisão da mãe e da
avó. É a quarta edição da série que revela histórias de jovens que,
criados em instituições de acolhimento, traçaram um caminho de sonhos e
conquistas
Conceição Freitas
Publicação: 22/08/2014 08:08 Atualização: 22/08/2014 08:36
Marcos
Aurélio Araújo dos Santos, 21 anos, ri, como quem tenta suavizar o que
será dito: “Até onde sei, tenho dois irmãos, uma irmã mais velha de quem
me lembro vagamente e um irmão mais novo que está comigo. Não conheci
meu pai biológico. Não sei nada dele, nem o nome. O que me lembro de
minha mãe é que um dia chegou um monte de polícia lá em casa, derrubando
tudo e depois a levou. Tenho a memória de eu segurando na grade,
chorando, e de ela indo embora. Eu me lembro das luzes da viatura.
Estávamos em casa, ela, eu, meu irmão e a menina, que seria a minha irmã, não me lembro direito. Acho que eu tinha 6 anos. Depois, fui levado pra casa da minha avó, em Planaltina de Goiás. Quando eu já estava grande, me perguntaram se eu queria ir atrás da minha história. Não quis.
Pouco tempo depois de eu chegar à casa de minha avó, ela foi presa. Ela bebia muito. Um dia, ela me bateu com aquela planta que tem espinho, que se faz cerca e dá umas florezinhas vermelhas de quatro pétalas (coroa-de-cristo). Depois, me mandou ir a um bar comprar bebida pra ela. Voltei sem a bebida. O pessoal do bar veio atrás de mim para saber o que havia acontecido. Eu estava sangrando. Logo, chegou o Conselho Tutelar, que me levou para um abrigo em Formosa.
Era uma chácara. Tudo era lá dentro. Escola, plantação, casa, tudo. Fui sozinho para esse abrigo. Meu irmão foi levado para outro lugar.”
Estamos sentados numa lanchonete da Avenida Principal do Paranoá. Marcos Aurélio dedicou o horário de almoço para a conversa. Desde os primeiros contatos por telefone, ele se apresenta sorrindo, num à vontade que nem de longe deixa vislumbrar a sua história.
“Vou contar outra coisa que é bem estranha”, ele diz, avisando que vem mais chumbo por aí. “O diretor do abrigo para onde fui levado também foi preso. A história é longa. Dizem que ele abusava das meninas, mas dizem também que tinha gente que queria o que era dele e inventou essas coisas. Era uma disputa muito grande. Ele tinha um hectare de terra, e o abrigo era todo dele.
Lei da selva
Fiquei lá dos 6 aos 11 anos. Não gostei. Era muito solto, era a lei da selva. Quem cuidava da gente? Quem fosse o mais velho. Tinha a casa rosa, só de meninas, independentemente da idade. Tinha a casa das crianças, a casa dos adolescentes de 12 aos 16, a casa dos 16 aos 18, a casa dos visitantes, onde ficavam os ingleses, e a casa do dono.
Os maiores faziam a festa. Colocavam os
menores, de 6, 7 anos, para brigar igual rinha de galo. O máximo que
você conseguisse ficar na sua, era o ideal. Mas, se ficasse quieto
demais, eles iam lá provocar você pra você brigar. Ou você brigava ou só
apanhava.
Depois que o diretor foi preso, ficou tudo mais solto ainda. A Polícia Militar foi lá, destruiu tudo, rasgou tudo, atrás de coisas que a gente não fazia a menor ideia do que era. O pessoal que se relacionava com o Conselho Tutelar, o pessoal da escola, todos sumiram. E o abrigo ficou abandonado. Era muita gente, pra lá de 100 (crianças e adolescentes abrigados).
Com a prisão do diretor (há 11 anos), os meninos de 18 anos assumiram o abrigo. Pensa você entregar um abrigo cheio de crianças para um pessoal de 17, 18 anos? Tinha rinha de criança toda hora. Eles chamavam os vizinhos para ficar fazendo aposta… Apostavam dinheiro. A gente era obrigado a participar. E, se não brigasse, apanhava e não era pouco.
Sem ninguém para comandar, virou aquela zona generalizada. Eu me escondia na escola do abrigo. Criei um esconderijo numa sala. Cada um se virava como podia. Teve gente que fugiu pelo cerrado, tentou chegar a Brasilinha (Planaltina de Goiás) a pé, de carona. Eu tentei algumas vezes, mas, quando a gente era pego, apanhava demais.
Um dia, chegou um pessoal e levou todo mundo. Fui para um abrigo no Plano Piloto. Eu e dois amigos. No antigo abrigo, nós nos ajudávamos. O mais velho brigava para me proteger. Se era a minha vez de brigar, ele brigava no meu lugar. Eu era pequeno e sempre fui muito mirrado, eu ia apanhar. Ele me protegia muito.
Ele se perdeu. É difícil de aguentar… Foi pro crime. Um dia, o encontrei numa festa na Esplanada dos Ministérios. Ele me disse: ‘Sai de perto de mim, não fica perto de mim’. Era para me proteger. Ele era o irmão mais velho que não tive. O outro meu amigo também se desembestou no mundo. Foi preso. Nunca mais o vi.
Eles me chamavam pras coisas, e eu pensava: ‘Passei por tudo aquilo. Aqui (no novo abrigo) vai ser tudo diferente. O que aconteceu antes não vai acontecer de novo. Essa fase eu tenho que cancelar, senão vou viver nisso para sempre. O meu amigo se cansou de me chamar pras coisas dele… Eu não ia, mas ficava muito ruim, porque tudo o que ele fazia eu fazia. Esse meu amigo não conheceu mãe, pai, ninguém. E eu ainda pensava: ‘Vou conhecer a minha mãe’.”
Estava tudo preparado para Marcos Aurélio seguir a rota dos dois amigos, mas alguma força dentro dele, uma escolha que é maior do que o destino, o fez recusar o caminho mais à mão e o conforto de se sentir protegido por alguém mais velho.
“Sempre tive aquela coisa de ficar na minha, de ‘eu não vou viver assim pra sempre’. Fazia tudo quanto é curso para preencher meu tempo. Tinha basquete, eu fazia. Tinha capoeira, eu fazia. Fazia curso de informática e, à noite, ainda fazia dança.
Adoção
Um dia depois de eu chegar ao novo abrigo, me chamaram numa sala. ‘Olha, esse aqui é seu irmão’. Aí me lembrei dele. Eu tinha 11 anos e ele, 8. Nunca soube como eles nos aproximaram… Se foi coincidência ou não.
Mais ou menos um ano depois, chegou ao novo abrigo uma educadora social com quem criamos, eu e meu irmão, uma grande afetividade. Ela cuidava da gente, saía com a gente, aquela coisa de filho, de ir para o cinema, de viajar para a cidade dela. Acabou que viramos uma família.
Um ano depois de ela chegar ao abrigo, eu já a chamava de mãe. Quando eu tinha 15 anos e meu irmão 12, ela decidiu nos adotar e pegou a nossa guarda, mas continuamos no abrigo. Ela deu entrada no processo na Vara da Infância (e da Juventude), mas o processo só foi terminar agora, no início deste ano, quando a gente foi lá imprimir a certidão de nascimento.
Fiquei no abrigo até os 17. Eu estudava, fazia estágio, trabalhava, fazia cursos.
Sempre fui muito mirradinho e queria ganhar corpo. Quis fazer academia, mas minha mãe não deixou. Então, pensei: ‘Vou fazer estágio, ganhar meu dinheiro e pagar minha academia. Eu estava com 14 anos. Na academia, tinha dança, e o pessoal sempre me chamava para participar. Fui e gostei muito. Virei bolsista, monitor. Depois, virei professor.
Antes dos 18, fui morar na casa da minha madrinha, irmã da minha mãe (adotiva). E eu querendo fazer coisas, sempre fui muito agoniado.
Foi aí que fiz uma besteira.
Academia
Eu tinha uma grana que havia juntado desde os 14, com estágios e aula de dança. Eu gastava muito pouco, e tudo o que eu ganhava ia pra conta. Juntei um dinheiro bacana.
Com 18, decidi abrir uma academia de dança. Sabia que o Paranoá é um lugar de gente muito festeira. Criei uma firma, com CNPJ e tudo, aluguei uma sala, montei a academia, contratei um contador, mas não soube administrar. Quando me diziam ‘procura o Sebrae, que vai te abrir os olhos’, eu respondia ‘não precisa, está dando tudo certo’.
Eu me sentia um empresário (ri). Fechava a academia quando queria (ri, de novo, como quem se perdoa). Aí, fui me endividando até que tive de fechar a academia. Tudo puf, desmoronou.
Fiquei muito mal, mas pensava: ‘Estou ruim agora, mas sei que daqui a uns dias melhoro. Vou ficar três dias sem fazer nada, depois vou tomar o rumo de novo na direção que quero.’ Arrumei um emprego (é repositor num supermercado) e continuo dando aula particular de dança, à noite.
Meus planos são o seguinte: quero trabalhar até ter um fundo de garantia (por tempo de serviço, FGTS) que dê para pagar as dívidas da academia. Vou fazer o Enem no fim do ano e, se não passar, vou fazer vestibular para educação física. E quero abrir uma nova escola de dança e academia, mas vai ser diferente.
Não tenho raiva, não tenho rancor, não tenho qualquer tipo de lembrança ruim da minha mãe (a biológica). Ela me ligou em 2001 falando que ia me buscar no abrigo (já estava fora da prisão). Não apareceu. Chorei horrores e pensei comigo: ‘Não sei o que aconteceu, não vou ficar julgando’. Quando deixei de lado essa história, consegui seguir adiante.
Antes, quando alguma coisa dava errado, eu falava que era porque as pessoas tiveram oportunidade, e eu não… Não é verdade. Não é fácil para ninguém. Até para quem teve pai e mãe, não é fácil.”
Marcos Aurélio parece leve como uma pluma. Talvez seja a dança, talvez seja o corpo esguio de um bailarino, talvez seja sua capacidade de se livrar do peso do passado e de se lembrar do que é belo e bom. Ele nunca se esqueceu das quatro pétalas da flor vermelha da planta de espinhos.
"Não tenho raiva, não tenho rancor, não tenho qualquer tipo de lembrança ruim da minha mãe (a biológica). Ela me ligou em 2001 falando que ia me buscar no abrigo (já estava fora da prisão). Não apareceu. Chorei horrores e pensei comigo: 'Não sei o que aconteceu, não vou ficar julgando'. Quando deixei de lado essa história, consegui seguir adiante". Leia o quarto capítulo da série Depois do Abrigo.
http://goo.gl/DnFCTo
Conceição Freitas
Publicação: 22/08/2014 08:08 Atualização: 22/08/2014 08:36
Prisão: "O que me lembro de minha mãe é que um dia chegou um monte de polícia lá em casa, derrubando tudo e depois a levou" |
Estávamos em casa, ela, eu, meu irmão e a menina, que seria a minha irmã, não me lembro direito. Acho que eu tinha 6 anos. Depois, fui levado pra casa da minha avó, em Planaltina de Goiás. Quando eu já estava grande, me perguntaram se eu queria ir atrás da minha história. Não quis.
Pouco tempo depois de eu chegar à casa de minha avó, ela foi presa. Ela bebia muito. Um dia, ela me bateu com aquela planta que tem espinho, que se faz cerca e dá umas florezinhas vermelhas de quatro pétalas (coroa-de-cristo). Depois, me mandou ir a um bar comprar bebida pra ela. Voltei sem a bebida. O pessoal do bar veio atrás de mim para saber o que havia acontecido. Eu estava sangrando. Logo, chegou o Conselho Tutelar, que me levou para um abrigo em Formosa.
Era uma chácara. Tudo era lá dentro. Escola, plantação, casa, tudo. Fui sozinho para esse abrigo. Meu irmão foi levado para outro lugar.”
Estamos sentados numa lanchonete da Avenida Principal do Paranoá. Marcos Aurélio dedicou o horário de almoço para a conversa. Desde os primeiros contatos por telefone, ele se apresenta sorrindo, num à vontade que nem de longe deixa vislumbrar a sua história.
“Vou contar outra coisa que é bem estranha”, ele diz, avisando que vem mais chumbo por aí. “O diretor do abrigo para onde fui levado também foi preso. A história é longa. Dizem que ele abusava das meninas, mas dizem também que tinha gente que queria o que era dele e inventou essas coisas. Era uma disputa muito grande. Ele tinha um hectare de terra, e o abrigo era todo dele.
Lei da selva
Fiquei lá dos 6 aos 11 anos. Não gostei. Era muito solto, era a lei da selva. Quem cuidava da gente? Quem fosse o mais velho. Tinha a casa rosa, só de meninas, independentemente da idade. Tinha a casa das crianças, a casa dos adolescentes de 12 aos 16, a casa dos 16 aos 18, a casa dos visitantes, onde ficavam os ingleses, e a casa do dono.
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Depois que o diretor foi preso, ficou tudo mais solto ainda. A Polícia Militar foi lá, destruiu tudo, rasgou tudo, atrás de coisas que a gente não fazia a menor ideia do que era. O pessoal que se relacionava com o Conselho Tutelar, o pessoal da escola, todos sumiram. E o abrigo ficou abandonado. Era muita gente, pra lá de 100 (crianças e adolescentes abrigados).
Com a prisão do diretor (há 11 anos), os meninos de 18 anos assumiram o abrigo. Pensa você entregar um abrigo cheio de crianças para um pessoal de 17, 18 anos? Tinha rinha de criança toda hora. Eles chamavam os vizinhos para ficar fazendo aposta… Apostavam dinheiro. A gente era obrigado a participar. E, se não brigasse, apanhava e não era pouco.
Sem ninguém para comandar, virou aquela zona generalizada. Eu me escondia na escola do abrigo. Criei um esconderijo numa sala. Cada um se virava como podia. Teve gente que fugiu pelo cerrado, tentou chegar a Brasilinha (Planaltina de Goiás) a pé, de carona. Eu tentei algumas vezes, mas, quando a gente era pego, apanhava demais.
Um dia, chegou um pessoal e levou todo mundo. Fui para um abrigo no Plano Piloto. Eu e dois amigos. No antigo abrigo, nós nos ajudávamos. O mais velho brigava para me proteger. Se era a minha vez de brigar, ele brigava no meu lugar. Eu era pequeno e sempre fui muito mirrado, eu ia apanhar. Ele me protegia muito.
Ele se perdeu. É difícil de aguentar… Foi pro crime. Um dia, o encontrei numa festa na Esplanada dos Ministérios. Ele me disse: ‘Sai de perto de mim, não fica perto de mim’. Era para me proteger. Ele era o irmão mais velho que não tive. O outro meu amigo também se desembestou no mundo. Foi preso. Nunca mais o vi.
Eles me chamavam pras coisas, e eu pensava: ‘Passei por tudo aquilo. Aqui (no novo abrigo) vai ser tudo diferente. O que aconteceu antes não vai acontecer de novo. Essa fase eu tenho que cancelar, senão vou viver nisso para sempre. O meu amigo se cansou de me chamar pras coisas dele… Eu não ia, mas ficava muito ruim, porque tudo o que ele fazia eu fazia. Esse meu amigo não conheceu mãe, pai, ninguém. E eu ainda pensava: ‘Vou conhecer a minha mãe’.”
Estava tudo preparado para Marcos Aurélio seguir a rota dos dois amigos, mas alguma força dentro dele, uma escolha que é maior do que o destino, o fez recusar o caminho mais à mão e o conforto de se sentir protegido por alguém mais velho.
“Sempre tive aquela coisa de ficar na minha, de ‘eu não vou viver assim pra sempre’. Fazia tudo quanto é curso para preencher meu tempo. Tinha basquete, eu fazia. Tinha capoeira, eu fazia. Fazia curso de informática e, à noite, ainda fazia dança.
Adoção
Um dia depois de eu chegar ao novo abrigo, me chamaram numa sala. ‘Olha, esse aqui é seu irmão’. Aí me lembrei dele. Eu tinha 11 anos e ele, 8. Nunca soube como eles nos aproximaram… Se foi coincidência ou não.
Mais ou menos um ano depois, chegou ao novo abrigo uma educadora social com quem criamos, eu e meu irmão, uma grande afetividade. Ela cuidava da gente, saía com a gente, aquela coisa de filho, de ir para o cinema, de viajar para a cidade dela. Acabou que viramos uma família.
Um ano depois de ela chegar ao abrigo, eu já a chamava de mãe. Quando eu tinha 15 anos e meu irmão 12, ela decidiu nos adotar e pegou a nossa guarda, mas continuamos no abrigo. Ela deu entrada no processo na Vara da Infância (e da Juventude), mas o processo só foi terminar agora, no início deste ano, quando a gente foi lá imprimir a certidão de nascimento.
Fiquei no abrigo até os 17. Eu estudava, fazia estágio, trabalhava, fazia cursos.
Sempre fui muito mirradinho e queria ganhar corpo. Quis fazer academia, mas minha mãe não deixou. Então, pensei: ‘Vou fazer estágio, ganhar meu dinheiro e pagar minha academia. Eu estava com 14 anos. Na academia, tinha dança, e o pessoal sempre me chamava para participar. Fui e gostei muito. Virei bolsista, monitor. Depois, virei professor.
Antes dos 18, fui morar na casa da minha madrinha, irmã da minha mãe (adotiva). E eu querendo fazer coisas, sempre fui muito agoniado.
Foi aí que fiz uma besteira.
Academia
Eu tinha uma grana que havia juntado desde os 14, com estágios e aula de dança. Eu gastava muito pouco, e tudo o que eu ganhava ia pra conta. Juntei um dinheiro bacana.
Com 18, decidi abrir uma academia de dança. Sabia que o Paranoá é um lugar de gente muito festeira. Criei uma firma, com CNPJ e tudo, aluguei uma sala, montei a academia, contratei um contador, mas não soube administrar. Quando me diziam ‘procura o Sebrae, que vai te abrir os olhos’, eu respondia ‘não precisa, está dando tudo certo’.
Eu me sentia um empresário (ri). Fechava a academia quando queria (ri, de novo, como quem se perdoa). Aí, fui me endividando até que tive de fechar a academia. Tudo puf, desmoronou.
Fiquei muito mal, mas pensava: ‘Estou ruim agora, mas sei que daqui a uns dias melhoro. Vou ficar três dias sem fazer nada, depois vou tomar o rumo de novo na direção que quero.’ Arrumei um emprego (é repositor num supermercado) e continuo dando aula particular de dança, à noite.
Meus planos são o seguinte: quero trabalhar até ter um fundo de garantia (por tempo de serviço, FGTS) que dê para pagar as dívidas da academia. Vou fazer o Enem no fim do ano e, se não passar, vou fazer vestibular para educação física. E quero abrir uma nova escola de dança e academia, mas vai ser diferente.
Não tenho raiva, não tenho rancor, não tenho qualquer tipo de lembrança ruim da minha mãe (a biológica). Ela me ligou em 2001 falando que ia me buscar no abrigo (já estava fora da prisão). Não apareceu. Chorei horrores e pensei comigo: ‘Não sei o que aconteceu, não vou ficar julgando’. Quando deixei de lado essa história, consegui seguir adiante.
Antes, quando alguma coisa dava errado, eu falava que era porque as pessoas tiveram oportunidade, e eu não… Não é verdade. Não é fácil para ninguém. Até para quem teve pai e mãe, não é fácil.”
Marcos Aurélio parece leve como uma pluma. Talvez seja a dança, talvez seja o corpo esguio de um bailarino, talvez seja sua capacidade de se livrar do peso do passado e de se lembrar do que é belo e bom. Ele nunca se esqueceu das quatro pétalas da flor vermelha da planta de espinhos.
"Não tenho raiva, não tenho rancor, não tenho qualquer tipo de lembrança ruim da minha mãe (a biológica). Ela me ligou em 2001 falando que ia me buscar no abrigo (já estava fora da prisão). Não apareceu. Chorei horrores e pensei comigo: 'Não sei o que aconteceu, não vou ficar julgando'. Quando deixei de lado essa história, consegui seguir adiante". Leia o quarto capítulo da série Depois do Abrigo.
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