18/08/2014
Por Liese Berwanger
Conforme o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Acolhidos (CNCA), em 2011 havia no Brasil mais de 30 mil crianças e adolescentes vivendo em casas de acolhimento, também conhecidas como abrigos ou casas de passagem. O Rio Grande do Sul é o quarto Estado que registra o maior número de pessoas acolhidas: mais de três mil. Para esse número, segundo o CNCA, o País conta com aproximadamente 1,9 mil entidades destinadas ao acolhimento, sendo que o Estado gaúcho é o terceiro colocado, com a existência de mais de 200 unidades.
Mas esses números decaem quando se trata de disponibilidade de adoção. De acordo com o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), 5.426 adolescentes e crianças estavam aptos à adoção em 2013. Nesse sentido, o juiz da comarca de Candelária, Celso Roberto Mernak Fialho Fagundes, explica que nem todos os acolhidos estão disponíveis para adoção. "A criança somente está pronta para adoção quando ela é retirada do poder familiar ou de quem tinha a guarda. Enquanto não há uma decisão, ela permanece na unidade", esclareceu, dizendo que num primeiro momento há a tentativa de reinserir a criança na família.
Trazendo o assunto a Candelária, o cenário é preocupante. Isso porque o município ainda não conta com uma casa de acolhimento. Em vista disso, atualmente as crianças entre zero e 12 anos, recolhidas de suas famílias por ações de maus-tratos, violência, abuso sexual ou negligência dos pais, são encaminhadas à Associação Comunitária Pró-Amparo do Menor (Copame), de Santa Cruz do Sul, através de um convênio entre a instituição e a Prefeitura. Tal unidade atende 24 horas por dia, durante todo o ano, e se mantém com doações de pessoas físicas e jurídicas, contribuições dos associados, convênios firmados com Prefeituras, entre outros recursos. Já os adolescentes são acomodados em outras casas de acolhimento da região. No momento, conforme o juiz, há duas crianças de Candelária na Copame e uma adolescente na casa de passagem de Salto do Jacuí aptas a adoção. Além dessas, outras duas crianças estão acolhidas na Copame.
Todavia, segundo a advogada do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Maristela Rohlfes, essa realidade deverá mudar até o fim do ano. Após passar pela aprovação da Câmara de Vereadores, o projeto de implantação de uma casa de acolhimento no município está em fase de elaboração do edital para a seleção de monitoras sociais. "Vai ser um processo seletivo simplificado com contrato temporário. Ainda estamos definindo outros detalhes, pois o trabalho é bastante complexo. Concomitante a isso, vamos providenciar a casa. Estamos dando atenção bem especial a esse projeto. Pretendemos concluir o mais breve possível. Até o fim do ano estará pronto", completou. Ao todo, serão contratados quatro profissionais e, num primeiro momento, a casa terá a capacidade de acolher dez crianças.
PRETENDENTES A ADOÇÃO
No Brasil, em 2011, havia mais de 27 mil interessados em fazer uma adoção, número bem maior do que as pessoas aptas a serem adotadas. Essa diferença é justificada pelos requisitos que as famílias reivindicam para realizar a adoção (veja explicação do juiz na terceira questão da entrevista abaixo). Em Candelária, atualmente 10 casais estão habilitados a adoção.
A comerciante Ana Paula Richter, de Candelária, aguardou quatro anos para adotar Amanda. Ao lado, a Folha traz um relato dela, que esperou a disponibilidade de adoção juntamente com seu marido Luis e sua filha biológica Letícia, de oito anos.
O relato de Ana Paula, mãe adotiva de Amanda - "Quando eu e o Luís, meu marido, nos conhecemos, vimos que tínhamos em comum o desejo de adotar uma criança. E mais do que isso. Tínhamos o desejo de dar a uma criança a oportunidade de ter um lar, uma família, um futuro. A nossa ideia era primeiro adotar e, após, ter um filho biológico. Mas depois de cinco anos juntos, eu engravidei e tive a Letícia, que agora está com oito anos. Então a ideia de adoção foi desde sempre.
O processo de adoção foi iniciado em 2010, no Fórum de Candelária. O período de atendimentos com psicólogos e a providência dos papéis necessários durou três meses. Mas os quatro anos seguintes foram de espera e de muitas idas ao Fórum para questionar o porquê da demora. Segundo os atendentes, não tinha criança disponível no meu perfil, que era um(a) menino(a) de três a nove anos.
No dia 14 de maio desse ano recebi a ligação de uma assistente social de Pelotas, me perguntando se ainda tínhamos interesse na adoção. Meu Deus! Meu coração se encheu de vida e de medos! Eu respondi que sim. Ela imediatamente me falou sobre uma menina que tinha nove anos e que estava num abrigo em Capão do Leão desde os seis meses de idade. Aí ela me perguntou se eu tinha interesse em conhecer. Eu disse que sim. Enviei fotos da família para que a Amanda também pudesse nos conhecer um pouco e ela também aceitou nos conhecer.
No dia 23 de maio fomos para Pelotas. Foi o nosso primeiro encontro. Chorei muito com um longo abraço apertado. Nosso primeiro contato foi mágico. Passamos o dia juntos. Depois a levei de volta para o abrigo. Pensei, e agora? Como deixar ela lá e voltar para casa? Na semana seguinte fui ficar com ela. Durante dez dias fiquei com ela em uma casa alugada para adaptação. Foi muito bonito, nos conhecemos um pouco e nos apaixonamos mais.
Na sexta-feira, dia 6 de junho, conseguimos, junto ao Fórum de Pelotas, a tão esperada guarda provisória. E agora faz dois meses que estamos com a nossa Amanda aqui em casa. Estamos todos muito felizes, enfrentando obstáculos, e momentos mais que prazerosos e felizes. Fomos apoiados e recebidos com muito carinho por todos. Eu só tenho a agradecer a Deus, porque sei hoje que Ele nos presenteou com uma linda menina, que amamos a cada dia mais. Como a assistente social disse, filho biológico ou por meio de adoção não tem diferença. Filho biológico é um ser que aprendemos a amar de dentro para fora, e filho por meio de adoção é aquele que aprendemos a amar de fora para dentro. Meu amor entre as duas se tornou igual. E aconselho a todos que pensam em adotar: vale a pena, é sublime e mágico, o amor acontece, cresce...
Amanda, você hoje faz parte de nossas vidas, de um igual. Te amamos. Mamãe Ana Paula, papai Luís e mana Letícia"
Ana Paula e sua filha Amanda: uma ligação que se consituiu pelo amor
http://www.folhadecandelaria.com.br/?11066
Nenhum comentário:
Postar um comentário