EM FLORIANÓPOLIS, EX-MORADORA DE RUA LUTA PARA EVITAR ADOÇÃO DE FILHA
12/04/2013
Defensoria
Com o fim da defensoria dativa, advogados da OAB não puderam fazer o atendimento.
Paola Bello
paola.bello@diario.com.br
Ana* tem 32 anos, cinco filhos e uma luta diária em busca de respeito e
integridade. Aos 14 anos, começou a vender drogas em Florianópolis.
Engravidou do primeiro filho, teve o companheiro preso pela polícia. Na
sequência vieram outros quatro filhos, um novo marido, também
traficante. Mudou de endereço - do morro do Mocotó, em Florianópolis,
para a ponte Hercílio Luz, cartão postal da capital. No ano passado,
perdeu a última das guardas que ainda tinha dos filhos. Foi quando sua
vida começou a mudar.
A filha, hoje com nove anos, ficou
provisoriamente sob a guarda da tia, irmã de Ana. Não demorou muito para
que fosse enviada ao Conselho Tutelar e, de lá, entrasse para a lista
de crianças disponíveis para adoção. Mesmo contrário à vontade de Ana e
da própria filha, o processo de adoção teve início. Na época, o filho
mais velho de Ana, já com 18 anos, foi preso por furto. Ela teve que
escolher para quem pagaria advogado. Optou pelo filho, que estava
prestes a ser enviado para o presídio. À filha, restou a tentativa da
justiça gratuita.
— Não tenho como pagar advogado. Já pago a
advogada do meu filho, que ia pro cadeião. Procurei os advogados do
fórum, mas eles disseram que estava com a agenda cheia, que não podiam
fazer nada por ele. Se dependesse dos advogados do fórum, até minha
filha já tinha sido adotada. Os advogados do fórum não ajudam a gente,
só porque a gente é morador de rua.
Neste cenário, Ana chegou à
conclusão de que era hora de sair da rua. Procurou um abrigo, conseguiu
um emprego com carteira assinada. Acabou de alugar uma casa, onde vai
morar com um dos filhos, e onde espera receber a filha que, até que saia
a decisão da juíza, está sob a guarda provisória da tia. Mas Ana sabe
que não tem condições suficientes pra levar a filha para a casa nova.
Com a ajuda do advogado do centro comunitário onde recebeu abrigo, tenta
fazer com que a guarda fique com a irmã, e que ela possa levar a menina
para casa nos finais de semana que não trabalha.
— Se dependesse
do advogado público, eu já teria perdido a guarda dela. Minha filha foi
colocada pra adoção e chegou a ir uma mulher lá pra adotar. Deu entrada
nos papéis e tudo. Mas minha filha não quis; ela quer ficar comigo. Aí a
juíza me proibiu de ver a minha filha, porque achou que eu estava
atrapalhando a adoção. Agora, até sair a guarda, eu só posso falar com
ela por telefone. Agora, na casa nova, vou dar um jeito de arrumar um
quarto pra ela ficar uns dias comigo. Ela quer um quarto roxo com
branco, com cortina roxa, cama roxinha e brinquedos. Eu não tenho nada
ainda, mas sei que quero minha filha perto de mim.
*O nome foi alterado para preservar a identidade dos envolvidos
http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/politica/noticia/2013/04/em-florianopolis-ex-moradora-de-rua-luta-para-evitar-adocao-de-filha-4104817.html
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