segunda-feira, 8 de abril de 2013

Lilia Monteiro



Tenho 56 anos e fui adotada com sete dias de vida. Durante anos eu tive preconceito comigo mesma, pois não gostava de revelar que era uma filha adotiva e que não tinha sido gerada pelas pessoas que me davam carinho, afeto, educação e tudo o mais. Para mim, principalmente no início da minha adolescência, revelar o ato era motivo de vergonha.

Até meus 12 ou 13 anos, de fato, eu não sabia que era uma filha adotada. E foi nesta época, em uma discussão com meu pai, que me foi revelado o "segredo". E fui pega de surpresa. Não conseguia acreditar, entender que meu idolatrado pai havia mentido para mim. A revelação tardiamente foi muito dolorida. Posso dizer que foram momentos difíceis na minha vida, pois eu amava demais aquelas pessoas e não entendia o porquê tinham omitido esta informação de mim. Para mim foi uma novidade, pois não se falava em adoção como se fala hoje. Por mais que tentassem me explicar, eu não conseguia entender e senti muita vergonha. Tanta que por um bom tempo não conseguia falar com meu pai, o que nos trouxe muita tristeza.

Durante anos, eu carreguei o estigma de ser filha adotada e por isso, eu me sentia menos. Durante anos, eu senti vergonha. Se alguém falasse da minha condição de "filha de criação", pois era assim que eram chamados os filhos adotivos, eu entrava em pânico.

Casei, tive meus filhos, mas ainda assim eu sentia vergonha de falar do assunto. Meu paizinho nos deixou cedo, e só conheceu meu primeiro filho, mas me lembro do orgulho dele com o neto. Minha mãe conviveu com os três netos e tinha um amor incondicional por eles, me fez perceber o quanto o preconceito comigo mesma era equivocado. Ainda assim, demorou para que eu falasse abertamente sobre ser uma filha, muita amada sim, mas adotada. Criei meus filhos, e quando o mais novo tinha 8 anos, eu fui para o banco da universidade cursar Serviço Social. Me formei e sou uma apaixonada pelo meu trabalho. Fui me livrando dos meus preconceitos e hoje, trabalhando com adoção, tenho coragem de falar abertamente que fui gerada pelo encontro de almas. Hoje, quando ministro cursos de preparação para adoção, falo sobre a importância da revelação.

Tudo que sou hoje, devo aos meus pais. E me sinto realizada por trabalhar nesta área, lutando para encontrar uma família para cada criança e adolescente.

Hoje estou aqui, escrevendo a minha história, mesmo que sucintamente, por acreditar que nada é por acaso e sinto orgulho de ser fruto de um "encontro de almas".


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