quarta-feira, 24 de abril de 2013
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Estou há 3 dias enrolando para escrever, muito pelo carinho imenso que sinto pelos envolvidos, muito por ter nas mãos muitos estigmas quebrados e por querer usá-los da melhor forma possível…enfim.
Leia a entrevista com André e Angelo e conheça mais sobre a história da família Nunes
Resolvi relaxar e fazer o que o iG me pediu: escrever com o coração. Esse Marco Feliciano não nos trouxe só desgosto, muito pelo contrario. Graças a ele, vimos a opinião pública se levantar em prol da causa LGBTT, vimos a comunidade LGBTT, sempre tão dispersa e fraccionada, se unir de forma coesa, e vimos muitos e tantos abrindo suas vidas, seus armários e seus closets, se rasgando publicamente em um ato político em prol de uma causa humana e urgente. E eu, pessoalmente, ganhei de presente esses 4: Angelo, André, Jonathan e Valentina.
Em meio a um mar de protestos virtuais e presenciais, ele veio primeiro: Angelo, tão parecido comigo. Nos alinhamos na fileira dos geniosos, inconformados , sem muita paciência para diplomacia, numa sociedade sedenta por justiça, laicidade e transparência. Angelo me trouxe o seu André, doce, carinhoso, pausado, controlado, tão parecido com o meu André. Durante dias e noites me remoí com a possibilidade de entrevistá-los, temendo ser invasiva. Contei para o meu André, que imediatamente aderiu à ideia, se colocou a disposição para me ajudar e me ofereceu as fotos. Com essa força extra, resolvi convidá-los. Para minha surpresa, não houve um segundo de suspense, não houve espaço para dúvidas, não existiu a pergunta: “Podemos pensar?” Imediatamente o casal, Angelo Nunes, 40 anos, agente de modelos e André Nunes, 38 anos, produtor de vídeo, juntos há 9 anos, colocaram a disposição minha, do meu André, do iG e de todos vocês, suas vidas, sua família, sua história, sua intimidade.
Curta a página do iGay no Facebook
Eu e André chegamos àquele sobrado amplo na zona sul de São Paulo no começo da noite de uma quinta-feira. Angelo havia acabado de chegar do trabalho e estava tomando banho, André colocava a mesa para o lanche com o qual nos receberam. As crianças ainda não haviam chegado da escola. Foi o tempo de entrarmos e nos acomodarmos na sala grande. Angelo desceu e a perua escolar buzinou. Estava ansiosa. Primeiro veio Angelo com Jonathan, 4 anos e 3 meses, envergonhado num primeiro momento, agarrado ao pescoço do pai, cochichando segredos só dos dois, numa cumplicidade tão típica entre pais e filhos. Em seguida entra André com Valentina, 2 anos e seis meses, e sua gargalhada solta e timidez nenhuma. Um minuto de brincadeiras foram suficientes para que pulasse do colo do seu Papia para o colo do meu André, encantada com o IPhone. Jonathan, vendo a reação da irmã, deixou também a timidez de lado e começou a interagir conosco. Um deles, não me lembro qual, já trocava os uniformes dos dois por roupinhas confortáveis enquanto começávamos a entrevista.
A família é linda, e não entendam lindo como substituto de legal, apesar de que também são legais. Estou falando que são lindos ao pé da letra, os 4. São esteticamente pessoas bonitas e, talvez pela convivência, já podemos ver muita semelhança entre os pais e os filhos, no jeito de andar ou na forma de rir. André acha Jonathan a cara do Angelo e me trás um porta retrato com uma foto do Angelo criança para que não restassem dúvidas. Aliás, porta-retratos não faltam naquela casa tão típica de qualquer família, que poderia ser a minha ou a sua. Cada espaço da casa foi pensado em função do conforto das crianças. No andar de baixo, a sala de jantar ao lado do home theater espaçoso, confortável, sem mesas ou os perigosos móveis com quinas, separados apenas por um arco de uma sala de brinquedos com tudo aquilo que crianças amam: lousa, triciclos, carrinhos, bonecas, barraca, casinha, e, na parede, uma arvore enorme em que as frutas são personagens da Disney. Esse formato facilita a total interação entre os pais e os filhos.
Jonathan assiste desenhos e brinca com carrinhos em cima do sofá enquanto os pais dão a entrevista para o meu André. Valentina, animadíssima, brinca com meu colar e a fivela do meu cabelo. Percebo que suas gargalhadas atrapalham a gravação, saio da sala de jantar e vou com ela para junto de Jonathan, entre o home theater e a sala de brinquedos. Valentina não para um segundo, pula e dá risada o tempo todo. Jonathan assiste aos desenhos animados superconcentrado. Ali de longe, escuto e me emociono com a história da adoção. Toda ansiedade de um processo longo, todo amor represado por meses, a decisão de ficar com as duas crianças para não separar os irmãos, a espera interminável até a juíza mandar que entregassem as crianças aos dois com quem estão há quase 2 anos. O começo da vida juntos, o aprendizado, a relação com a família, escola, sociedade e a vontade de ainda aumentar essa família com mais uma menininha. Fim da entrevista, hora das fotos. Pudemos conhecer o quartinho com os dois bercinhos brancos comprados no começo do processo judicial e que ficaram 10 longos meses esperando pelas crianças.
Estão lá agora os berços, um ao lado do outro junto a um sofá grande lotado de bichos de pelúcia coloridos. Interligado ao quarto das crianças, um terraço fechado com plantas, almofadas espalhadas pelo chão e uma rede onde, nos contam os pais, as crianças gostam de adormecer ouvindo Sigur Rós bem baixinho. A casa tem cara de família: o baleiro cheio de balas coloridas na bancada da cozinha; no fogão, os bolinhos de chuva que o André acabou de fazer, um casaquinho esquecido nas costas de uma cadeira, a churrasqueira coberta, a mesa grande e convidativa, um brinquedo esquecido no quintal, os 3 Schnauzers : Frida, Clara e Jöga, 5 peixes e 2 tartarugas. A casa tem cheiro de criança e som de gargalhada. Tem jardim, árvores, quintal, cozinha e varal. Presto atenção quando os dois contam como Jonathan resolveu sozinho o problema de ter dois pais, chamando Angelo de papai e André de papia, e tive a certeza que terá esse jogo de cintura para questões futuras. Me surpreende o cuidado com a alimentação dos dois. Suco natural feito na hora, comidinha fresquinha e balanceada… Morri de vergonha de lembrar quanto cachorro quente, macarrão na manteiga e Coca Cola dei para meus filhos quando chegava exausta do trabalho. Dei muita risada quando eles contam da primeira vez que deram comida para os dois logo que saíram do fórum e de como saíram todos sujos da praça de alimentação do Shopping, onde haviam parado para comprar roupas e brinquedos. E me emocionam quando contam que, quando as crianças chegaram, quiseram ficar sozinhos, os 4, durante uma semana, antes de apresenta-los à família.
Queriam passar amor, segurança e aconchego às crianças antes de mostrá-las ao mundo. Não me surpreendi nada quando contam em meio a gargalhadas que as avós não se contiveram e apareceram antes do combinado, porque acho que eu faria exatamente a mesma coisa. Nos falam da saga da escolha da escola, do quanto Angelo, todo detalhista, estudou todos os métodos de ensino, e dos seis meses que André parou a vida para ficar 24 horas com as crianças.
Adoro quando Angelo conta que nunca sofreram preconceito na escola e que, muito pelo contrário, sempre foram acolhidos super bem pelos outros pais, crianças e professores. A reação dos pais é: “Nossa, que bacana que meu filho estuda em uma escola de pessoas de mente aberta”. André, Angelo, Jonathan e Valentina são totalmente inseridos nas duas famílias; e a festa de ano novo, que junta a todos; avós, tios, primos e amigos, é por conta dos quatro. André, uma hora me diz: “Nós somos uma família normal, temos dias chatos e outros legais, mas quando estamos com as crianças é sempre uma festa.” Eu ODEIO aquele discurso que fazem por aí: “Deixa os gays adotarem… melhor que ficar no orfanato à custa do governo.” Eu diria para essas pessoas que gays tem que ter direito de adotar sim, não para resolver um problema social que não foram eles que criaram, mas por serem cidadãos contribuintes tanto quanto vocês, e capazes de amar, sustentar, educar, e proteger uma criança.
Eu vou falar pelo viés da mãe, que vocês, André e Angelo, Papia e Papai, me fizeram ter muita saudade dos meus filhos pequenos, da minha casa cheia de brinquedos espalhados, mamadeiras na pia, desenhos na TV, aconchego, ternura, pipoca, groselha, gelatina, da buzina da perua escolar, dos sonhos no fogão, das lancheiras. Mas me fizeram também olhar para frente e desejar ter um neto que tenha tudo isso que seus filhos têm e que um dia ofereci aos meus e que meus pais um dia me ofereceram. Tenho a certeza absoluta de que crianças infelizes não são capazes do riso solto dos seus filhos e do abraço apertado e espontâneo que dão em vocês quando chegam em casa. Crianças infelizes não têm o brilho nos olhos e a sagacidade da Valentina nem a ternura tímida e vivacidade do Jonathan.
Quando, na semana passada, vi a avó Márcia, mãe do Angelo, dizer: “Minha Valentina tem o nome certo, Valentina de valente”, eu me emocionei e pensei: valente e sortuda por ter encontrado essa família e por ser tão amada. Só pessoas sem a menor sensibilidade poderiam ser contra esse encontro de vocês quatro. Dias entediantes, dias corridos e às vezes irritantes, dias frios e quentes, de chuva e de sol, dias festa, de ver TV, de brincar juntos, de fazer um rocambole de doce de leite, de tomar banho numa banheira cheia de espuma e brinquedos, dia de Natal, de aniversário e de carnaval, fim de semana, feriados e férias, dias em que tudo dá certo, dias em que tudo dá errado, mas que não faz mal, porque amanhã nasce um novo dia. Dias de sorriso e dias de lágrimas… isso é sim André, uma FAMÍLIA, e a de vocês é linda e abençoada.
Obrigado Angelo, André, Jonathan e Valentina, pela noite incrível, pelo lanche maravilhoso e pela lição de vida e amor. Eu fico feliz e orgulhosa por ter vocês na minha vida. Que o mundo tenha muitos Andrés e muitos Angelos para que se faça melhor e que seus filhos sejam muito felizes e tenham diante de todos os problemas a mesma desenvoltura que tiveram para resolver que vocês eram PAPAI E PAPIA.
Aqui vai um carinho do meu filho André para vocês 4. Ele me pediu que colocasse o poema “O TEMPO” de Mario Quintana na matéria como homenagem à vocês :
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.”
ATENÇÃO: Comentários agressivos e ofensivos não serão publicados
Autor: Maju Giorgi
Tags: adoção, família, gay, iGayResolvi relaxar e fazer o que o iG me pediu: escrever com o coração. Esse Marco Feliciano não nos trouxe só desgosto, muito pelo contrario. Graças a ele, vimos a opinião pública se levantar em prol da causa LGBTT, vimos a comunidade LGBTT, sempre tão dispersa e fraccionada, se unir de forma coesa, e vimos muitos e tantos abrindo suas vidas, seus armários e seus closets, se rasgando publicamente em um ato político em prol de uma causa humana e urgente. E eu, pessoalmente, ganhei de presente esses 4: Angelo, André, Jonathan e Valentina.
Em meio a um mar de protestos virtuais e presenciais, ele veio primeiro: Angelo, tão parecido comigo. Nos alinhamos na fileira dos geniosos, inconformados , sem muita paciência para diplomacia, numa sociedade sedenta por justiça, laicidade e transparência. Angelo me trouxe o seu André, doce, carinhoso, pausado, controlado, tão parecido com o meu André. Durante dias e noites me remoí com a possibilidade de entrevistá-los, temendo ser invasiva. Contei para o meu André, que imediatamente aderiu à ideia, se colocou a disposição para me ajudar e me ofereceu as fotos. Com essa força extra, resolvi convidá-los. Para minha surpresa, não houve um segundo de suspense, não houve espaço para dúvidas, não existiu a pergunta: “Podemos pensar?” Imediatamente o casal, Angelo Nunes, 40 anos, agente de modelos e André Nunes, 38 anos, produtor de vídeo, juntos há 9 anos, colocaram a disposição minha, do meu André, do iG e de todos vocês, suas vidas, sua família, sua história, sua intimidade.
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Eu e André chegamos àquele sobrado amplo na zona sul de São Paulo no começo da noite de uma quinta-feira. Angelo havia acabado de chegar do trabalho e estava tomando banho, André colocava a mesa para o lanche com o qual nos receberam. As crianças ainda não haviam chegado da escola. Foi o tempo de entrarmos e nos acomodarmos na sala grande. Angelo desceu e a perua escolar buzinou. Estava ansiosa. Primeiro veio Angelo com Jonathan, 4 anos e 3 meses, envergonhado num primeiro momento, agarrado ao pescoço do pai, cochichando segredos só dos dois, numa cumplicidade tão típica entre pais e filhos. Em seguida entra André com Valentina, 2 anos e seis meses, e sua gargalhada solta e timidez nenhuma. Um minuto de brincadeiras foram suficientes para que pulasse do colo do seu Papia para o colo do meu André, encantada com o IPhone. Jonathan, vendo a reação da irmã, deixou também a timidez de lado e começou a interagir conosco. Um deles, não me lembro qual, já trocava os uniformes dos dois por roupinhas confortáveis enquanto começávamos a entrevista.
A família é linda, e não entendam lindo como substituto de legal, apesar de que também são legais. Estou falando que são lindos ao pé da letra, os 4. São esteticamente pessoas bonitas e, talvez pela convivência, já podemos ver muita semelhança entre os pais e os filhos, no jeito de andar ou na forma de rir. André acha Jonathan a cara do Angelo e me trás um porta retrato com uma foto do Angelo criança para que não restassem dúvidas. Aliás, porta-retratos não faltam naquela casa tão típica de qualquer família, que poderia ser a minha ou a sua. Cada espaço da casa foi pensado em função do conforto das crianças. No andar de baixo, a sala de jantar ao lado do home theater espaçoso, confortável, sem mesas ou os perigosos móveis com quinas, separados apenas por um arco de uma sala de brinquedos com tudo aquilo que crianças amam: lousa, triciclos, carrinhos, bonecas, barraca, casinha, e, na parede, uma arvore enorme em que as frutas são personagens da Disney. Esse formato facilita a total interação entre os pais e os filhos.
Jonathan assiste desenhos e brinca com carrinhos em cima do sofá enquanto os pais dão a entrevista para o meu André. Valentina, animadíssima, brinca com meu colar e a fivela do meu cabelo. Percebo que suas gargalhadas atrapalham a gravação, saio da sala de jantar e vou com ela para junto de Jonathan, entre o home theater e a sala de brinquedos. Valentina não para um segundo, pula e dá risada o tempo todo. Jonathan assiste aos desenhos animados superconcentrado. Ali de longe, escuto e me emociono com a história da adoção. Toda ansiedade de um processo longo, todo amor represado por meses, a decisão de ficar com as duas crianças para não separar os irmãos, a espera interminável até a juíza mandar que entregassem as crianças aos dois com quem estão há quase 2 anos. O começo da vida juntos, o aprendizado, a relação com a família, escola, sociedade e a vontade de ainda aumentar essa família com mais uma menininha. Fim da entrevista, hora das fotos. Pudemos conhecer o quartinho com os dois bercinhos brancos comprados no começo do processo judicial e que ficaram 10 longos meses esperando pelas crianças.
Estão lá agora os berços, um ao lado do outro junto a um sofá grande lotado de bichos de pelúcia coloridos. Interligado ao quarto das crianças, um terraço fechado com plantas, almofadas espalhadas pelo chão e uma rede onde, nos contam os pais, as crianças gostam de adormecer ouvindo Sigur Rós bem baixinho. A casa tem cara de família: o baleiro cheio de balas coloridas na bancada da cozinha; no fogão, os bolinhos de chuva que o André acabou de fazer, um casaquinho esquecido nas costas de uma cadeira, a churrasqueira coberta, a mesa grande e convidativa, um brinquedo esquecido no quintal, os 3 Schnauzers : Frida, Clara e Jöga, 5 peixes e 2 tartarugas. A casa tem cheiro de criança e som de gargalhada. Tem jardim, árvores, quintal, cozinha e varal. Presto atenção quando os dois contam como Jonathan resolveu sozinho o problema de ter dois pais, chamando Angelo de papai e André de papia, e tive a certeza que terá esse jogo de cintura para questões futuras. Me surpreende o cuidado com a alimentação dos dois. Suco natural feito na hora, comidinha fresquinha e balanceada… Morri de vergonha de lembrar quanto cachorro quente, macarrão na manteiga e Coca Cola dei para meus filhos quando chegava exausta do trabalho. Dei muita risada quando eles contam da primeira vez que deram comida para os dois logo que saíram do fórum e de como saíram todos sujos da praça de alimentação do Shopping, onde haviam parado para comprar roupas e brinquedos. E me emocionam quando contam que, quando as crianças chegaram, quiseram ficar sozinhos, os 4, durante uma semana, antes de apresenta-los à família.
Queriam passar amor, segurança e aconchego às crianças antes de mostrá-las ao mundo. Não me surpreendi nada quando contam em meio a gargalhadas que as avós não se contiveram e apareceram antes do combinado, porque acho que eu faria exatamente a mesma coisa. Nos falam da saga da escolha da escola, do quanto Angelo, todo detalhista, estudou todos os métodos de ensino, e dos seis meses que André parou a vida para ficar 24 horas com as crianças.
Adoro quando Angelo conta que nunca sofreram preconceito na escola e que, muito pelo contrário, sempre foram acolhidos super bem pelos outros pais, crianças e professores. A reação dos pais é: “Nossa, que bacana que meu filho estuda em uma escola de pessoas de mente aberta”. André, Angelo, Jonathan e Valentina são totalmente inseridos nas duas famílias; e a festa de ano novo, que junta a todos; avós, tios, primos e amigos, é por conta dos quatro. André, uma hora me diz: “Nós somos uma família normal, temos dias chatos e outros legais, mas quando estamos com as crianças é sempre uma festa.” Eu ODEIO aquele discurso que fazem por aí: “Deixa os gays adotarem… melhor que ficar no orfanato à custa do governo.” Eu diria para essas pessoas que gays tem que ter direito de adotar sim, não para resolver um problema social que não foram eles que criaram, mas por serem cidadãos contribuintes tanto quanto vocês, e capazes de amar, sustentar, educar, e proteger uma criança.
Eu vou falar pelo viés da mãe, que vocês, André e Angelo, Papia e Papai, me fizeram ter muita saudade dos meus filhos pequenos, da minha casa cheia de brinquedos espalhados, mamadeiras na pia, desenhos na TV, aconchego, ternura, pipoca, groselha, gelatina, da buzina da perua escolar, dos sonhos no fogão, das lancheiras. Mas me fizeram também olhar para frente e desejar ter um neto que tenha tudo isso que seus filhos têm e que um dia ofereci aos meus e que meus pais um dia me ofereceram. Tenho a certeza absoluta de que crianças infelizes não são capazes do riso solto dos seus filhos e do abraço apertado e espontâneo que dão em vocês quando chegam em casa. Crianças infelizes não têm o brilho nos olhos e a sagacidade da Valentina nem a ternura tímida e vivacidade do Jonathan.
Quando, na semana passada, vi a avó Márcia, mãe do Angelo, dizer: “Minha Valentina tem o nome certo, Valentina de valente”, eu me emocionei e pensei: valente e sortuda por ter encontrado essa família e por ser tão amada. Só pessoas sem a menor sensibilidade poderiam ser contra esse encontro de vocês quatro. Dias entediantes, dias corridos e às vezes irritantes, dias frios e quentes, de chuva e de sol, dias festa, de ver TV, de brincar juntos, de fazer um rocambole de doce de leite, de tomar banho numa banheira cheia de espuma e brinquedos, dia de Natal, de aniversário e de carnaval, fim de semana, feriados e férias, dias em que tudo dá certo, dias em que tudo dá errado, mas que não faz mal, porque amanhã nasce um novo dia. Dias de sorriso e dias de lágrimas… isso é sim André, uma FAMÍLIA, e a de vocês é linda e abençoada.
Obrigado Angelo, André, Jonathan e Valentina, pela noite incrível, pelo lanche maravilhoso e pela lição de vida e amor. Eu fico feliz e orgulhosa por ter vocês na minha vida. Que o mundo tenha muitos Andrés e muitos Angelos para que se faça melhor e que seus filhos sejam muito felizes e tenham diante de todos os problemas a mesma desenvoltura que tiveram para resolver que vocês eram PAPAI E PAPIA.
Aqui vai um carinho do meu filho André para vocês 4. Ele me pediu que colocasse o poema “O TEMPO” de Mario Quintana na matéria como homenagem à vocês :
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.”
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