quinta-feira, 4 de abril de 2013

ABRIGOS ACOLHEM 48% A MAIS DA CAPACIDADE



04.04.2013
Embora município e estado trabalhem juntos, quantidade de vagas disponíveis não atende à demanda
O caso da menina Maria (nome fictício), de dois anos, que foi abandonada pela mãe e não tinha para onde ir, terminou bem. Ainda na terça-feira, ela foi acolhida na Casa Abrigo, do governo do Estado. A história de Maria, que foi contada, ontem, no Diário do Nordeste, trouxa à tona um problema que, a cada dia, se torna mais sério: a superlotação nos abrigos. Dos nove abrigos municipais, todos atendem 48% a mais de crianças do que a capacidade permitida.
O problema em questão foi reconhecido pelo titular da Coordenadoria da Criança e do Adolescente, Arquimedes Pinheiro. Segundo ele, em Fortaleza, existem quatro abrigos com capacidade para 62 pessoas cada, mas a quantidade, em alguns casos, pode chegar até em 30 beneficiados a mais. Três dessas casas são específicas para crianças e adolescentes: Casa das Meninas, Casa dos Meninos e Espaço Aquarela. Há, ainda, mais cinco espaços de abrigos que são conveniados com o Município e recebem uma ajuda da Prefeitura, mas que também estão superlotados.

AMPLIAÇÃO
Na tentativa de resolver o problema, a Coordenadoria da Criança e do Adolescente está buscando a ampliação dos abrigos, criando um que atenda, especificamente, crianças como Maria, entre zero e 7 anos. “Os locais estão superlotados, mas as vagas são rotativas. O que temos que procurar é fazer com que a criança volte ao convívio familiar o mais rápido possível”, comenta Arquimedes Pinheiro.
O acolhimento, segundo o coordenador, é a última medida, pois os conselheiros procuram como primeira opção deixar a criança no ambiente familiar, mas isso nem sempre é possível.
Para tentar minimizar a superlotação das casas municipais, existem os abrigos de responsabilidade do Estado. Ao todo, são 14 e atendem uma média de 530 pessoas. Do total de abrigos, um é voltado para crianças de zero a 7 anos, e outro para crianças de zero a 12 anos. São eles o Abrigo Tia Júlia e a Casa Abrigo, respectivamente, que trabalham com cerca de 100 crianças, cada.
As demais casas contemplam pré-adolescentes, adolescentes, adultos e idosos. A tentativa de diminuir a lotação nesses abrigos municipais, contudo, não funciona, porque, mesmo com a boa vontade do Estado em ajudar, conforme os conselheiros, as vagas são insuficientes.
Porém, de acordo com informações da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) e da promotora de Justiça da Infância e da Juventude, Antônia Lima Sousa, a responsabilidade de acolher crianças abandonadas entre zero a 7 anos é do Município.
“Mesmo assim, não podemos apontar um principal responsável. Antes de ser um dever primordial do Município acolher essas crianças, esta é uma tarefa da cidade como um todo, e insiro nisso o Estado, que também tem sua parcela a cumprir em relação ao suporte”, acrescentou a promotora.
Ainda de acordo com Antônia, um relatório de vistoria nos abrigos da cidade já foi concluído pelo Ministério Público Estadual (MPE) e deve ser lançado em breve. Porém, ela não adiantou os principais problemas apontados no documento.

HOSPITAIS
Conforme a conselheira tutelar da Secretaria Executiva Regional (SER) IV, Márcia Regina Alves, o assunto do abandono é constantemente discutido pelos conselheiros, por ser comum. Entretanto, o caso de crianças abandonadas pelos pais é apenas um dos problemas. Segundo Márcia, existe, ainda, as que são abandonadas em hospitais e na casa de desconhecidos.
“Não existe abrigo em Fortaleza, municipal ou estadual, que suporte essa demanda, e esse é um problema antigo em Fortaleza”, disse. Para a conselheira, só uma revisão e reestruturação no sistema de acolhimento pode, de fato, mudar esse quadro.
A menina Maria, por exemplo, foi abandonada pela mãe, usuária de drogas, na manhã de terça-feira, e levada ao Conselho Tutelar por vizinhos, no começo da noite. Chegando lá, a costureira Márcia Nascimento ouviu dos conselheiros que todos os abrigos da cidade estavam lotados e não tinham um lugar para encaminhar a criança.
Somente às 21h daquele dia, Maria foi levada para a Casa Abrigo, onde está recebendo os cuidados necessários até poder voltar ao convívio familiar ou ser adotada.
Na Capital, três casas são específicas para crianças e adolescentes: Casa das Meninas, Casa dos Meninos e Espaço Aquarela. Sob a responsabilidade do Estado, há 14 que atendem uma média de 530 pessoas Foto: Kiko Silva
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1250052

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