15/06/2014
Suzy Monteiro
X. sonha com o dia em que num domingo qualquer poderá sentar à mesa e
comer bife com batata frita feito pela mãe para, em seguida, assistir
futebol com o pai. X. até comeria verduras e legumes sem reclamar e iria
dormir cedo, depois de escovar os dentes e fazer a oração. O casal Y.
imagina o dia em que chegará à casa e será recebido por alguém que os
chamará de mãe e pai, dará um abraço carinhoso, contando as artes do
dia. X.e o casal Y. sempre tiveram o mesmo sonho: ter uma família.
Porém, X.completou 18 anos e vai seguir a vida sozinho. Os Y.
envelhecerão vendo os amigos sendo pais e avós.
Os personagens acima são fictícios, porém, poderiam ser brasileiros reais quando o assunto é adoção. Em todo país, no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) há cerca de cinco mil crianças e adolescentes para serem adotados. Um número três vezes maior é de interessados em adotar. E por que esses caminhos paralelos muitas vezes não se cruzam? Porque ainda é grande o número de pessoas que quer os filhos adotivos brancos, de 0 a 3 anos e saudáveis.
O perfil das crianças e adolescentes aptos à adoção e dos pretendentes em Campos foi traçado pela equipe da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso no município, que tem como titular o juiz Heitor Campinho, e mostra que, aos poucos, essa realidade vem mudando. Mas o caminho ainda é longo, conforme explicam as assistentes sociais Soliane do Céu de Souza e Márcia Valéria de Abreu Soares Coutinho.
— As pessoas estão adotando mais e também temos conseguido avanços quanto ao perfil daqueles que são adotados — destaca Márcia Valéria.
No município, até maio último, havia 163 crianças acolhidas — em instituições ou abrigos. Dessas, 51 estavam disponíveis para adoção: 10 brancas, 24 pardas e 17 negras; 17 eram meninas e 34 meninos. Todos com mais de quatro anos, sendo que 18 estavam entre 13 e 15 anos: “Outro fator que dificulta é a questão de saúde. A maioria ainda quer crianças saudáveis e, às vezes, elas têm um pequeno problema, que precisa de cuidados, como qualquer outra. Mas a pessoa que quer adotar deseja uma sem nenhum problema de saúde. Por isso, além de darmos o requerimento para ser preenchido, conversamos muito, explicamos possíveis problemas”, afirma Soliane. Tem dado certo: Das 76 crianças adotadas desde 2011, quando o levantamento começou a ser feito, a grande maioria era saudável: 58. Mas 13 tinham doenças tratáveis, quatro tinham algum tipo de deficiência e três eram portadoras do vírus HIV.
Lei incentiva os servidores municipais
Por parte do município, têm acontecido ações de incentivo à adoção. Um exemplo disso é que em maio deste ano aconteceu, em Campos, a I Semana de Incentivo à Adoção de Crianças e Adolescentes (Semia), criada através da Lei 0306/2013, com intuito de estimular a adoção legal e humanizada. De acordo com a lei, a semana será comemorada anualmente entre os dias 25 e 30 de maio.
A semana dedicada à adoção vem para somar à Lei 8.480/2013, que foi sancionada pela prefeita Rosinha Garotinho, e que criou o programa “Um Lar para Mim”. Pelo projeto, a Prefeitura de Campos dará ajuda de custo, entre dois e cinco salários mínimos por mês, aos servidores públicos municipais efetivos, ativos ou inativos que adotarem crianças e adolescentes de 5 a 18 anos incompletos.
Mas mesmo com essa lei, os servidores interessados em adotar uma criança terão que passar por todos os procedimentos previstos na legislação vigente.
Todo esforço para manter nas famílias
Para uma criança ou adolescente ser incluída no Cadastro Nacional de Adoção é preciso que haja a destituição da família original. E o caminho até chegar a esse ponto também não é curto. Segundo as assistentes sociais, todo esforço é feito para que eles permaneçam na família de origem (pai, mãe, irmãos): “Toda assistência é dada. Se é caso de envolvimento com drogas, se é um momento de desemprego, enfim, toda situação que envolve aquele menor é analisada e procura-se dar direcionamento para solucioná-la”, diz Márcia Valéria. Em casos em que isso se mostra impossível, é procurada a família extensa (tios, avós, padrinhos, pessoas que tenham vínculo afetivo com a criança ou adolescente). Somente após esgotadas todas as possibilidades, a família é destituída e eles entram para o CNA.
No lado de quem quer adotar também é preciso vencer algumas etapas até ingressar no Cadastro: O casal ou indivíduo tem que procurar a comarca de sua cidade. Lá recebe informações e é chamado a participar de grupo de orientação para adoção. Em Campos, as reuniões acontecem uma vez por mês e são uma oportunidade de tirar dúvidas, como relação de documentos necessários, por exemplo. Após essas etapas, o juiz defere e o pretendente, já com nome no CNA, passa por avaliação psicossocial, visitas residenciais e abordagem familiar. Depois disso, vai para outro grupo, o de encontro de abordagem e reflexões sobre adoção, onde são explicadas questões sociais, legais e psicológicas. Em seguida, segue para o Ministério Público e, mais uma vez, para o juiz.
Foto: Rodrigo Silveira
http://www.fmanha.com.br/geral/cinco-mil-estao-aguardando-pela-adocao-no-pais
Os personagens acima são fictícios, porém, poderiam ser brasileiros reais quando o assunto é adoção. Em todo país, no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) há cerca de cinco mil crianças e adolescentes para serem adotados. Um número três vezes maior é de interessados em adotar. E por que esses caminhos paralelos muitas vezes não se cruzam? Porque ainda é grande o número de pessoas que quer os filhos adotivos brancos, de 0 a 3 anos e saudáveis.
O perfil das crianças e adolescentes aptos à adoção e dos pretendentes em Campos foi traçado pela equipe da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso no município, que tem como titular o juiz Heitor Campinho, e mostra que, aos poucos, essa realidade vem mudando. Mas o caminho ainda é longo, conforme explicam as assistentes sociais Soliane do Céu de Souza e Márcia Valéria de Abreu Soares Coutinho.
— As pessoas estão adotando mais e também temos conseguido avanços quanto ao perfil daqueles que são adotados — destaca Márcia Valéria.
No município, até maio último, havia 163 crianças acolhidas — em instituições ou abrigos. Dessas, 51 estavam disponíveis para adoção: 10 brancas, 24 pardas e 17 negras; 17 eram meninas e 34 meninos. Todos com mais de quatro anos, sendo que 18 estavam entre 13 e 15 anos: “Outro fator que dificulta é a questão de saúde. A maioria ainda quer crianças saudáveis e, às vezes, elas têm um pequeno problema, que precisa de cuidados, como qualquer outra. Mas a pessoa que quer adotar deseja uma sem nenhum problema de saúde. Por isso, além de darmos o requerimento para ser preenchido, conversamos muito, explicamos possíveis problemas”, afirma Soliane. Tem dado certo: Das 76 crianças adotadas desde 2011, quando o levantamento começou a ser feito, a grande maioria era saudável: 58. Mas 13 tinham doenças tratáveis, quatro tinham algum tipo de deficiência e três eram portadoras do vírus HIV.
Lei incentiva os servidores municipais
Por parte do município, têm acontecido ações de incentivo à adoção. Um exemplo disso é que em maio deste ano aconteceu, em Campos, a I Semana de Incentivo à Adoção de Crianças e Adolescentes (Semia), criada através da Lei 0306/2013, com intuito de estimular a adoção legal e humanizada. De acordo com a lei, a semana será comemorada anualmente entre os dias 25 e 30 de maio.
A semana dedicada à adoção vem para somar à Lei 8.480/2013, que foi sancionada pela prefeita Rosinha Garotinho, e que criou o programa “Um Lar para Mim”. Pelo projeto, a Prefeitura de Campos dará ajuda de custo, entre dois e cinco salários mínimos por mês, aos servidores públicos municipais efetivos, ativos ou inativos que adotarem crianças e adolescentes de 5 a 18 anos incompletos.
Mas mesmo com essa lei, os servidores interessados em adotar uma criança terão que passar por todos os procedimentos previstos na legislação vigente.
Todo esforço para manter nas famílias
Para uma criança ou adolescente ser incluída no Cadastro Nacional de Adoção é preciso que haja a destituição da família original. E o caminho até chegar a esse ponto também não é curto. Segundo as assistentes sociais, todo esforço é feito para que eles permaneçam na família de origem (pai, mãe, irmãos): “Toda assistência é dada. Se é caso de envolvimento com drogas, se é um momento de desemprego, enfim, toda situação que envolve aquele menor é analisada e procura-se dar direcionamento para solucioná-la”, diz Márcia Valéria. Em casos em que isso se mostra impossível, é procurada a família extensa (tios, avós, padrinhos, pessoas que tenham vínculo afetivo com a criança ou adolescente). Somente após esgotadas todas as possibilidades, a família é destituída e eles entram para o CNA.
No lado de quem quer adotar também é preciso vencer algumas etapas até ingressar no Cadastro: O casal ou indivíduo tem que procurar a comarca de sua cidade. Lá recebe informações e é chamado a participar de grupo de orientação para adoção. Em Campos, as reuniões acontecem uma vez por mês e são uma oportunidade de tirar dúvidas, como relação de documentos necessários, por exemplo. Após essas etapas, o juiz defere e o pretendente, já com nome no CNA, passa por avaliação psicossocial, visitas residenciais e abordagem familiar. Depois disso, vai para outro grupo, o de encontro de abordagem e reflexões sobre adoção, onde são explicadas questões sociais, legais e psicológicas. Em seguida, segue para o Ministério Público e, mais uma vez, para o juiz.
Foto: Rodrigo Silveira
http://www.fmanha.com.br/geral/cinco-mil-estao-aguardando-pela-adocao-no-pais
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