domingo, 15 de junho de 2014

Seu Zequinha.



Hoje resolvi falar do Seu Zequinha. Seu Zequinha nasceu em 1918, se vivo fosse completaria 96 anos no próximo dia 18 de julho.
Seu Zequinha não foi de muitos estudos, terminou o ensino médio e adentrou no que gostava de fazer: montar e desmontar coisas. Era só entregar qualquer coisa para ele que ele desmontava, remontava, consertava e descobria. Vivia em um mundo de engrenagens, manivelas e motores.
Seu Zequinha dedicou sua vida a representação comercial: vendia maquinaria pesada para o nordeste. Conhecia como ninguém as engrenagens de uma usina de açúcar: caldeira, esteiras e mais um monte de outras coisas que sabia de cor. Nunca teve hora para trabalhar, viajava por Alagoa, Pernambuco e outros estados com tradição canavieira.
Seu Zequinha tinha sempre uma máquina fotográfica, ou máquina de retrato, pendurada no ombro, uma era Rolleiflex, grande, linda, tinha uma parte sanfonada na frente, parecia máquina de lambe-lambe, a outra era uma Leica, também muito boa. Tirava foto de tudo e de todos. Naquela época ainda se usavam filmes Kodak. Meus primos brincavam dizendo “Zequinha não bota filme na máquina, ninguém vê essas fotos”, mas as fotos existiam.
Ele gostava de tudo o que era novidade tecnológica, creio que tenha comprado, em São Paulo, a primeira ou uma das primeiras televisões coloridas de Maceió. De noite a casa ficava cheia de gente para ver a tal televisão colorida. Acho que as imagens ainda vinham de Recife por uma repetidora.
Na casa dele na Rua Joaquim Nabuco tinha uma torre enorme, parecia de ficção científica, onde ele instalou uma antena de radioamador e uma enorme antena parabólica. Parecia a sede da Embratel em pleno Maceió, chamava a atenção de todos os que passavam.
Ele, também, comprou um dos primeiros carros à álcool e detestava o fato de demorar “a pegar”.
Seu Zequinha era tecnológico, vivia buscando novidades. Em cima da casa, nos idos de 70/80 tinha placas de energia solar. Ninguém podia tomar banho frio, só tinha água quente.
Seu Zequinha comprou um dos primeiros carros à álcool de Maceió e reclamava muito quando o carro demorava “a pegar”.
Seu Zequinha teve três filhos, eu sou a do meio.
Meu pai era uma pessoa diferente, não chegava a ser excêntrico, mas era diferente.
Não gostava de política, mas em Alagoas é impossível viver dissociado da Política. O Ex-sogro, meu avô Montinho, foi prefeito de São Luiz do Quitunde e deputado estadual, um dos primos, Antonio Moreira, também foi deputado estadual e prefeito de Capela, assim como outros parentes exerceram cargos no legislativo e no executivo.
Sempre que podia meu pai criticava minhas opções políticas, o que me lembra, muito, o momento político em que vivemos. Ele sempre dizia quando me via de calça jeans boca de sino, camiseta com a figura de Che Guevara estampada da frente, chinelo de dedo de couro, uma bolsa tipo carteiro, pegando a cave do carro para minhas militâncias pelo interior do estado: é muito fácil ser comunista de barriga cheia e com dinheiro para encher o tanque. Certíssimo estava ele, mas de todas as coisas que meu pai falava em termos políticos em razão das mudanças de ARENA e MDB era que os que ganham a eleição chegam com sede ao pote, ou que não roubam agora roubarão na próxima. Não tinha distinção, não importava o partido, todos vão roubar o povo e ainda usava a sequinte expressão: “quem nunca comeu mel, quando come se lambuza.”.
E não é que meu pai, Seu Zequinha, estava certo? Certo em tudo, que minha militância era idiota – mas, uma fase importantíssima na minha vida – e que não importa o partido que assuma no Brasil, o povo sempre será roubado.
Minha homenagem a meu pai que, na sua simplicidade sempre teve a correta visão do nosso país e não escrevo isso com um mínimo de orgulho, não do meu pai e sim da política.
Silvana do Monte Moreira, filha de Seu Zequinha Moreira e de Dona Thereza Monte.

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