29/11/2013
Phillipe Xavier
Apesar dos exemplos positivos, ainda é grande o preconceito em adotar crianças na chamada 'fase tardia', afirmam pesquisadores.
“Ela é nossa pérola negra, uma joia rara”. É assim que a professora
Lígia Cordeiro descreve a importância de Maria Luísa em sua vida. A
menina de 14 anos, que foi adotada por ela aos 7, é dona de uma história
de perseverança e muito amor. Portadora da síndrome do Alcoolismo
Fetal, decorrente da ingestão de bebidas alcoólicas pela mãe biológica
durante a gravidez, Maria Luísa teve o desenvolvimento físico e mental
afetados.
Após o falecimento da mãe, a piora do alcoolismo do pai e o
sofrimento causado pelo abandono logo nos primeiros anos, a situação
parecia irremediável para ela. Foi quando o Conselho Tutelar precisou
intervir.
“Ela era aluna de uma escola em Bayeux, onde eu trabalhava
e o Conselho veio buscá-la. Eu vi que eles não poderiam fazer isso, já
que a menina não teria condições de enfrentar um abrigo”, conta Lígia.
“Naquele momento, eu disse: ‘vocês querem que eu fique com ela? Posso
dar um lar e tentar oferecer um tratamento’”, conta.
Segundo a professora, a princípio, ela e o marido apenas assinaram um termo de responsabilidade.
“Fui ficando, me apegando e, quando percebi, o amor já tinha vindo a
todo vapor”, emociona-se. Ao ver que não iria conseguir se desapegar da
menina, Lígia decidiu procurar a Justiça e dar entrada nos papéis para
oficializar a adoção.
“Tivemos que nos habilitar no fórum de Bayeux e
aguardar todo o processo. O pai biológico participou de tudo e foi
favorável, até porque não tinha outra opção. Esses trâmites duraram mais
ou menos 1 ano e 3 meses”, confessa.
Hoje, 6 anos depois, a menina é considerada o xodó da família, que ainda conta com os outros três filhos biológicos de Lígia.
“Vejo a Maria Luísa como uma pérola negra porque todos os meus outros
filhos são ditos brancos e ela é o destaque aqui em casa”, explica. “É
muito interessante essa química e esse amor, só quem passa por isso pode
dizer com tanta fidelidade. A gente aprende muito com ela”, acrescenta.
Este é apenas um entre tantos casos bem sucedidos de adoções de
crianças mais velhas na Paraíba. Porém, mesmo com exemplos positivos, de
acordo com a presidente do Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de João
Pessoa (Gead-JP), Lenilde Cordeiro, o preconceito ainda é grande em
relação à escolha de órfãos que estão na chamada fase de adoção tardia.
“Quanto maior for a idade da criança ou adolescente, menores são as
chances de serem aceitos por uma nova família, principalmente, se
formarem grupos de irmãos”, lamenta. “É uma questão cultural, pois a
adoção, durante séculos, foi vista como uma forma de imitar a filiação
biológica, para pessoas que não podem gerar filhos”, complementa.
AMOR PODE MUDAR HISTÓRIAS
Conforme a presidente do Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de João
Pessoa (Gead-JP), Lenilde Cordeiro, muitos casais que se inscrevem na
Vara da Infância e Juventude delineiam perfis excludentes, mas quando se
veem diante das crianças ou dos adolescentes, desenvolvem afeto, perdem
o medo e decidem adotar.
“O Gead-JP já contribuiu bastante para que
várias adoções necessárias acontecessem. A metodologia consiste,
principalmente, em promover o encontro entre os pretendentes à adoção e
as crianças e adolescentes”, afirma.
“Os encontros podem acontecer
em eventos coletivos, promovidos pelo grupo, ou com visitas individuais
às instituições de acolhimento”, explica. Foi em um desses encontros que
a operadora de máquinas Nancy Bezerra e o marido, conheceram Marcos.
O menino morava em um abrigo e tinha um histórico de dor e abandono:
passava fome, dormia nas ruas e era maltratado pela família. “Quando
chegamos lá, vimos um menino bastante grandinho, de 10 anos. Eu me
apaixonei à primeira vista”, recorda.
“Ele chegou na minha vida e
mudou tudo. Mesmo sendo uma criança grande, a mente dele é de alguém que
não viveu”, complementa. Nancy, mãe de outros três filhos e avó de seis
netos, esperou cerca de dois anos na fila de adoção. Para ela, que
inicialmente desejava um bebê, a escolha de Marcos foi acertada.
“É
uma experiência motivante e gostosa. O amor que tenho por ele não é de
filho adotivo, é de filho biológico mesmo, eu até me emociono”,
reconhece, dizendo ainda que gostaria de adotar mais crianças. “Se eu
tivesse mais condições, adotaria mais. Eu amo”.
MITOS PARA ATO DEVEM SER EXTINTOS
O juiz da 2ª Vara da Infância e Juventude de João Pessoa, Fabiano Moura
de Moura, considera imprescindível o incentivo à adoção de crianças
mais velhas e a desmistificação dos estigmas que envolvem este ato.
“É preciso compreender que a adoção para estas crianças, mesmo aquelas
que estejam na chamada fase de adoção tardia, tem um significado muito
especial”, observa. “É verdade que elas carregam uma história a mais,
mas isso não cancela nem diminui a importância e a satisfação da família
que resolve acolhê-la”, frisa.
O magistrado ressalta, ainda, que
também é bastante possível a adaptação de adolescentes aos lares
adotivos. “Não é uma situação tão comum quanto à adoção de crianças até
quatro anos, mas temos alguns exemplos de adolescentes de 14, 15 anos
que se adaptam muito bem e que têm uma convivência boa com a família”,
conclui. (Especial para o JP)
Conforme a presidente do Gead-JP muitos casais que se inscrevem na Vara da Infância delineiam perfis excludentes
Foto: Kleide Teixeira
http:// www.jornaldaparaiba.com.br/ noticia/ 117156_adocao-tardia-ainda-e-ex cecao-em-orfanatos
— com Lenilde Cordeiro.
29/11/2013
Phillipe Xavier
Apesar dos exemplos positivos, ainda é grande o preconceito em adotar crianças na chamada 'fase tardia', afirmam pesquisadores.
“Ela é nossa pérola negra, uma joia rara”. É assim que a professora Lígia Cordeiro descreve a importância de Maria Luísa em sua vida. A menina de 14 anos, que foi adotada por ela aos 7, é dona de uma história de perseverança e muito amor. Portadora da síndrome do Alcoolismo Fetal, decorrente da ingestão de bebidas alcoólicas pela mãe biológica durante a gravidez, Maria Luísa teve o desenvolvimento físico e mental afetados.
Após o falecimento da mãe, a piora do alcoolismo do pai e o sofrimento causado pelo abandono logo nos primeiros anos, a situação parecia irremediável para ela. Foi quando o Conselho Tutelar precisou intervir.
“Ela era aluna de uma escola em Bayeux, onde eu trabalhava e o Conselho veio buscá-la. Eu vi que eles não poderiam fazer isso, já que a menina não teria condições de enfrentar um abrigo”, conta Lígia. “Naquele momento, eu disse: ‘vocês querem que eu fique com ela? Posso dar um lar e tentar oferecer um tratamento’”, conta.
Segundo a professora, a princípio, ela e o marido apenas assinaram um termo de responsabilidade.
“Fui ficando, me apegando e, quando percebi, o amor já tinha vindo a todo vapor”, emociona-se. Ao ver que não iria conseguir se desapegar da menina, Lígia decidiu procurar a Justiça e dar entrada nos papéis para oficializar a adoção.
“Tivemos que nos habilitar no fórum de Bayeux e aguardar todo o processo. O pai biológico participou de tudo e foi favorável, até porque não tinha outra opção. Esses trâmites duraram mais ou menos 1 ano e 3 meses”, confessa.
Hoje, 6 anos depois, a menina é considerada o xodó da família, que ainda conta com os outros três filhos biológicos de Lígia.
“Vejo a Maria Luísa como uma pérola negra porque todos os meus outros filhos são ditos brancos e ela é o destaque aqui em casa”, explica. “É muito interessante essa química e esse amor, só quem passa por isso pode dizer com tanta fidelidade. A gente aprende muito com ela”, acrescenta.
Este é apenas um entre tantos casos bem sucedidos de adoções de crianças mais velhas na Paraíba. Porém, mesmo com exemplos positivos, de acordo com a presidente do Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de João Pessoa (Gead-JP), Lenilde Cordeiro, o preconceito ainda é grande em relação à escolha de órfãos que estão na chamada fase de adoção tardia.
“Quanto maior for a idade da criança ou adolescente, menores são as chances de serem aceitos por uma nova família, principalmente, se formarem grupos de irmãos”, lamenta. “É uma questão cultural, pois a adoção, durante séculos, foi vista como uma forma de imitar a filiação biológica, para pessoas que não podem gerar filhos”, complementa.
AMOR PODE MUDAR HISTÓRIAS
Conforme a presidente do Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de João Pessoa (Gead-JP), Lenilde Cordeiro, muitos casais que se inscrevem na Vara da Infância e Juventude delineiam perfis excludentes, mas quando se veem diante das crianças ou dos adolescentes, desenvolvem afeto, perdem o medo e decidem adotar.
“O Gead-JP já contribuiu bastante para que várias adoções necessárias acontecessem. A metodologia consiste, principalmente, em promover o encontro entre os pretendentes à adoção e as crianças e adolescentes”, afirma.
“Os encontros podem acontecer em eventos coletivos, promovidos pelo grupo, ou com visitas individuais às instituições de acolhimento”, explica. Foi em um desses encontros que a operadora de máquinas Nancy Bezerra e o marido, conheceram Marcos.
O menino morava em um abrigo e tinha um histórico de dor e abandono: passava fome, dormia nas ruas e era maltratado pela família. “Quando chegamos lá, vimos um menino bastante grandinho, de 10 anos. Eu me apaixonei à primeira vista”, recorda.
“Ele chegou na minha vida e mudou tudo. Mesmo sendo uma criança grande, a mente dele é de alguém que não viveu”, complementa. Nancy, mãe de outros três filhos e avó de seis netos, esperou cerca de dois anos na fila de adoção. Para ela, que inicialmente desejava um bebê, a escolha de Marcos foi acertada.
“É uma experiência motivante e gostosa. O amor que tenho por ele não é de filho adotivo, é de filho biológico mesmo, eu até me emociono”, reconhece, dizendo ainda que gostaria de adotar mais crianças. “Se eu tivesse mais condições, adotaria mais. Eu amo”.
MITOS PARA ATO DEVEM SER EXTINTOS
O juiz da 2ª Vara da Infância e Juventude de João Pessoa, Fabiano Moura de Moura, considera imprescindível o incentivo à adoção de crianças mais velhas e a desmistificação dos estigmas que envolvem este ato.
“É preciso compreender que a adoção para estas crianças, mesmo aquelas que estejam na chamada fase de adoção tardia, tem um significado muito especial”, observa. “É verdade que elas carregam uma história a mais, mas isso não cancela nem diminui a importância e a satisfação da família que resolve acolhê-la”, frisa.
O magistrado ressalta, ainda, que também é bastante possível a adaptação de adolescentes aos lares adotivos. “Não é uma situação tão comum quanto à adoção de crianças até quatro anos, mas temos alguns exemplos de adolescentes de 14, 15 anos que se adaptam muito bem e que têm uma convivência boa com a família”, conclui. (Especial para o JP)
Conforme a presidente do Gead-JP muitos casais que se inscrevem na Vara da Infância delineiam perfis excludentes
Foto: Kleide Teixeira
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