Natalie Angier
29.11.2013
Los Angeles
NYT
A família Schulte-Wayser se parece com os Jetsons: uma mistura entre o tradicional de meados
do século XX e o descolado pós-moderno.
Um dois pais traz a comida para casa, trabalhando como advogado
corporativo, e é o quem pega mais pesado quando o assunto é a lição de
casa, a hora de dormir ou a importância das regras dentro de casa. O
outro descreve a si mesmo como um "encantador de bebês", que fica em
casa para cuidar das duas filhas e quatro filhos do casal, que passam
pelo dia como se usassem mochilas à jato nas costas.
Ambos os pais sabem que regras e papeis existem para serem subvertidos.
"Nós dois somos muito maternais, cada um a sua maneira", afirmou Joshua
Wayser, de 50 anos, o advogado. "Eu levo as meninas para fazer compras e
cuido da beleza e das coisas para o cabelo".
Wayser olhou para Richard Schulte, de 61 anos, seu marido artista que
trabalha em casa e estava sentado ao seu lado.
"É claro", acrescentou Wayser secamente, "ele não acha que eu faço um
bom trabalho".
Wayser, Schulte e os seis filhos adotivos fazem parte de uma das
reinvenções mais enfáticas dos padrões familiares atuais. Um número
crescente de gays e lésbicas estão em busca da paternidade de todas as
formas possíveis: adoção, barrigas de aluguel e doação de esperma.
"Está acontecendo um boom de filhos de gays, isso é uma verdade. Muitos
de nossos amigos estão tendo filhos", afirmou Wayser.
Alguns críticos expressaram preocupação de que os filhos de pais gays
possam sofrer com o estigma social e com a falta de papeis adultos
convencionais, ou dizem que casais homoafetivos não estão preparados
para os rigores da monotonia da vida familiar. Os primeiros estudos –
frequentemente utilizados nas guerras culturais em torno dos casamentos
homoafetivos – sugerem que as crianças que vivem com pais gays tendem a
obter notas mais baixas na escola, a apresentar problemas de
comportamento e um maior risco de uso de drogas ou de problemas com o
álcool.
Porém, novas pesquisas sugerem que esse tipo de medo não tem fundamento.
Por meio da análise preliminar de dados do censo e de outras fontes,
Michael J. Rosenfeld da Universidade de Stanford revelou que quaisquer
problemas que as crianças possam apresentar podem ter origem em outros
fatores, como a ruptura do casamento heterossexual que produziu os
filhos em primeiro lugar.
Uma vez que esses fatores forem levados em conta, afirmou Rosenfeld,
autor do livro "The Age of Independence: Interracial Unions, Same-sex
Unions, and the Changing American Family" (A era da independência:
uniões inter-raciais, homoafetivas e a mudança da família americana, em
tradução livre), os filhos de pais do mesmo sexo são acadêmica e
emocionalmente idênticos aos de pais heterossexuais.
Além disso, casais com dois pais, ao contrário do que dizem os
estereótipos, demonstram ser exemplares na vida doméstica. Em seu estudo
de longa duração com famílias não convencionais, Judith Stacey,
professora de análise social e cultural na Universidade de Nova York,
revelou que as famílias mais estáveis de todas eram as lideradas por
homens gays que tiveram os filhos juntos.
Ao longo de 14 anos, afirmou, "fiquei chocada em descobrir que nenhum
dos casais de homens gays envolvidos no estudo havia se separado,
absolutamente nenhum".
Stacey, autora do livro "Unhitched: Love, Marriage and Family Values
From West Hollywood to Western China" (Desligado: Amor, Casamento e
Valores Familiares de West Hollywood ao Oeste da China, em tradução
livre), atribuiu o sucesso à autoseleção.
"É muito difícil para os homens se tornarem pais", afirmou. "Apenas um
pequeno percentual está disposto a assumir esse compromisso".
Não há dúvidas em relação ao boom dos filhos de casais homoafetivos. De
acordo com o Instituto Williams da Universidade da Califórnia, em Los
Angeles, o número de casais gays com filhos mais que dobrou desde a
década passada, e já passa dos 100.000 casais com pais do mesmo sexo
criando filhos. Outras estimativas calculam que o número de crianças que
vivem com pais gays – tanto casais, quanto solteiros – se aproxima de 2
milhões. Ou seja, uma em cada 37 crianças com menos de 18 anos.
Por trás do crescimento da paternidade de casais homoafetivos está o
sucesso retumbante do movimento pela igualdade de direitos, que levou à
legalização do casamento gay em 16 estados e ajudou a facilitar as
políticas de adoção em outros lugares. Em 2009, 19 por cento dos casais
homoafetivos com filhos afirmavam que os filhos haviam sido adotados. Em
2000 o total era de apenas 10 por cento. Pais homossexuais têm quatro
vezes mais chances de criar filhos adotados, se comparados ao pais
heterossexuais, e têm seis vezes mais chances de cuidar de crianças em
adoção temporária, que acabam sendo oficialmente adotadas pela família.
Algumas pessoas sentem a necessidade de ter laços de DNA e, nesse
sentido, as mulheres levam vantagem. Muitos filhos de casais de lésbicas
são filhos biológicos de uma das mulheres e de um doador de sêmen – que
pode ser anônimo, um amigo ou mesmo o irmão da outra parceira.
Antes o sobrenome da família Schulte-Wayser não tinha hífen e eles
assinavam apenas o nome Wayser. Os dois haviam se separado; Wayser vivia
sozinho em Los Angeles, e sua carreira como advogado estava indo vento
em poupa e ele havia se cansado de se preocupar apenas com o trabalho.
"Eu pensei que precisava fazer alguma outra coisa", afirmou. "Eu
precisava começar a me ver como pai."
Sua mãe ficou felicíssima, e se ofereceu para pagar os custos de uma
barriga de aluguel que carregasse o bebê concebido com seu esperma, mas
Wayser disse não.
"Eu queria a clareza de ter alguém que não compartilhasse meus genes.
Alguém que fosse completamente diferente de mim", afirmou.
Ele se encontrou com um advogado especializado em adoções em março de
2000 e, em junho, tinha uma filha recém-nascida, Julie. Alguns meses
depois, Schulte ligou para conversar, ouviu Julie chorando ao fundo e
resolveu visitá-la.
O bebê o lembrou de Don King, o promotor de lutas de boxe.
"Foi amor à primeira vista", afirmou Schulte, e Wayser reconheceu, "eu
usei Julie como isca".
E o antigo namorado mordeu.
"Éramos um casal outra vez", afirmou Schulte. Ou melhor, corrigiu,
"éramos uma família". Mais tarde ele e Wayser se casaram em Malibu.
De 2002 a 2009, quatro irmãos e uma irmã se juntaram à família – Derek,
AJ, Isaac (todos de uma única mãe), Shayna e Joey.
"Esse é meu limite", afirmou Wayser. "Não temos mais espaço".
Ainda assim, ele acredita que seja mais fácil lidar com uma família
grande do que com uma pequena.
"Eles se divertem entre si e se organizam", afirmou. "Nós mandamos as
crianças para a rua. Dizemos: 'Vá andar de bicicleta, vá brincar lá
fora'. Queremos que eles tenham uma infância muito tradicional em um
ambiente fora do comum".
Ele admite que se preocupava. Algumas das crianças têm dificuldades de
aprendizado, o que exige horas de acompanhamento escolar e ele não sabe
os tipos de comportamento de risco que as mães podiam ter durante a
gravidez.
Porém, ele não gosta quando as pessoas notam a cor da pele de seus
filhos, bem como seus óbvios recursos financeiros, e falam sobre como
ele é nobre e como aqueles crianças tiveram sorte.
"Não, quem tem sorte aqui sou eu!", afirmou. "Não estou tentando salvar o
mundo".
http://mobile.br.msn.com/device/nyt/article.aspx?cp-documentid=250434836
Silvana do Monte Moreira, advogada, sócia da MLG ADVOGADOS ASSOCIADOS, presidente da Comissão Nacional de Adoção do IBDFAM - Instituto Brasileiro de Direito de Família, Diretora de Assuntos Jurídicos da ANGAAD - Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção, Presidente da Comissão de Direitos das Crianças e dos Adolescentes da OAB-RJ, coordenadora de Grupos de Apoio à Adoção. Aqui você encontrará páginas com informações necessárias aos procedimentos de habilitação e de adoção.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
O BOOM DOS BEBÊS COM PAIS GAYS
Postado por
Silvana do Monte Moreira
às
18:30
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