sexta-feira, 16 de maio de 2014

APÓS SER ADOTADA, MULHER REPETE O ATO DE AMOR EM ITANHAÉM, NO LITORAL DE SP


11/05/2014
Mariane Rossi Do G1 Santos
Pedro veio de um abrigo e virou o filho de Mariângela, adotada ainda bebê. Mãe de Mariângela tinha três filhos homens e o sonho de ter uma menina.
Ela foi adotada assim que nasceu e, ao se tornar uma mulher independente, quis retribuir o mesmo ato de carinho a um bebê que precisava de uma mãe. A diferença da cor de pele de Pedro não a fez desistir da adoção, muito menos as dificuldades em lidar com uma criança acostumada a não ter carinho. Essa é a história da advogada Mariângela Aparecida Buccioli Pimenta, de 36 anos, moradora de Itanhaém, no litoral de São Paulo. Neste Dia das Mães, ela tem muito a comemorar. Ao adotar um menino e dar à luz a uma menina, formou uma família e nutre um amor idêntico pelos dois.
A mãe de Mariângela tinha três filhos homens e o sonho de ter uma menina. Ela não podia mais engravidar, então, optou por adotar uma criança. Mariângela foi adotada assim que nasceu. Aos nove anos, a mãe adotiva lhe contou a verdade. “Ela tinha medo que na escola os meus amiguinhos pudessem me contar. Eu recebi bem a notícia, mas chorei bastante”, lembra. Na adolescência, ela tentou encontrar a mãe biológica para entender porque tinha sido rejeitada. “Quis saber, mas era muito difícil de encontrar, porque ninguém sabe me dar informações sobre ela”, comenta. Depois de algumas tentativas, desistiu de conhecer sua verdadeira origem. “Eu tive tanto amor, carinho e cuidado da minha família que perdi o interesse,” diz.
Mariângela ficou mais velha, casou e veio a vontade de ter filhos. Ela tentou engravidar e não conseguiu. “Eu sempre pensava em fazer por alguém o que fizeram por mim, que era adotar uma criança. Compartilhei com meu marido a minha ideia e ele gostou, foi em busca e esteve presente em todos os momentos”, conta. Ela e o marido, o autônomo Marcos Oliveira Pimenta Buccioli, de 39 anos, se dirigiram ao Fórum de Itanhaém e fizeram todos os procedimentos necessários para entrar no cadastro de adoção.
Depois de aproximadamente um ano e meio, Mariângela recebeu uma ligação que mudou o rumo de sua vida. Uma assistente social disse a ela que havia uma criança disponível no abrigo, mas que não se encaixava no perfil que ela tinha colocado no cadastro. Ela e o marido foram direto para o fórum e seguiram até o abrigo para conhecer Pedro, que tinha menos de um ano. Naquele dia, os três foram embora juntos para casa. “Me emociono muito de lembrar, foi o nascimento dele para mim, um presente de aniversário aquele ano”, fala.
Nos primeiros meses, o casal teve dificuldades em cuidar do menino. Além de ser mãe pela primeira vez, Mariângela conta que ele era um bebê que tinha medo de tudo e queria ficar somente com ela. “Tudo com ele era muito difícil. Ele não falava ainda, era uma criança assustada, agressiva”, conta.
Depois de algum tempo, descobriu que a mãe biológica dele tinha HIV e diversas doenças, que não foram herdadas por ele. Para ela, a ausência de amor e atenção faziam com que Pedro tivesse aquele comportamento. Aos poucos, ele foi se acostumando com a nova família, criando um vínculo de confiança e amor.
Giovana nasceu dois anos após a adoção de Pedro. Quando ele viu a barriga crescendo, começou a demonstrar muito ciúme. “Ele foi se afastando de mim, foi muito triste. Quando eu cheguei com a Giovana da maternidade, ele nem olhou para a minha cara. Ele gostou dela, a beijava, mas demorou uma semana para falar comigo”, lembra.
A convivência fez melhorar a relação entre eles. Pedro passou a ajudar a mãe a cuidar de Giovana, dividir os brinquedos com ela e aprender a viver com uma irmã. “Eu fui conversando com ele, dizendo que ele era a mesma coisa que ela, que não havia diferença entre eles. Ele ama muito a Giovana, tem muito carinho”, diz.
Com o passar dos anos, os pais foram lhe contando sua verdadeira história. “Hoje é um menino saudável, forte e sabe toda a verdade sobre ele. Como temos a diferença da cor de pele, não é uma criança para quem eu possa esconder uma coisa dessas. Eu já vou falando que ele não nasceu da minha barriga, que ele é filho do coração e que eu o amo do mesmo jeito que a Giovana,” explica.
Com os dois filhos, Mariângela deixou de trabalhar em período integral e vai para o escritório apenas na parte da tarde. Durante a manhã, ela cuida dos dois filhos. “Mas nunca pensei em entregá-lo. Ele era meu. Deus não ia me dar um fardo que eu não pudesse carregar, se ele veio para mim, era para ser. Não é uma rotina fácil, é muito difícil, mas era meu sonho”, diz. Os filhos, principalmente Pedro, exigiram muita paciência de Mariângela. Ela acredita que apenas a vontade de ser mãe lhe trouxe forças para compreender as dificuldades e enfrentá-las. “Eu não pensava que seria assim. Ele foi uma criança muito difícil no começo. Não era o que esperava da maternidade, foi muito difícil mesmo, mas a gente foi trabalhando, conversando. Em seis meses, ele apresentou uma mudança radical. Agora ele é carinhoso, educado, é um anjo, companheiro”, diz. Por conta da experiência com Pedro, Mariângela passou a fazer parte de um grupo de mães que compartilham histórias sobre a adoção de crianças
Família unida durante ensaio fotográfico (Foto: Mariângela Aparecida Buccioli Pimenta/Arquivo Pessoal)
Mariângela, os filhos e o marido (Foto: Mariângela Aparecida Buccioli Pimenta/Arquivo Pessoal)
Primeiro aniversário de Pedro (Foto: Mariângela Aparecida Buccioli Pimenta/Arquivo Pessoal)
Pedro e os pais (Foto: Mariângela Aparecida Buccioli Pimenta/Arquivo Pessoal)
Pedro e a barriga da mãe (Foto: Mariângela Aparecida Buccioli Pimenta/Arquivo Pessoal)
http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/05/apos-ser-adotada-mulher-repete-o-ato-de-amor-em-itanhaem-sp.html

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