quinta-feira, 5 de junho de 2014

ADOÇÃO PARTE IV – A CHEGADA DA IRMÃ


4 junho 2014
Para você que está lendo agora este Diário de uma mãe adotada, estou contando a minha história e a dos meus dois filhos adotivos. Nos textos anteriores relato a decisão da adoção, os caminhos que tomamos e como tudo aconteceu. Convido você a ler este relato que faço com muito carinho e emoção. Parte I, parte II e parte III.
Após cinco meses de espera, o telefone tocou nos comunicando que havia uma menina disponível para adoção. Organizamo-nos e viajamos para Curitibanos em SC. Pairava no ar certa ansiedade, pois o grande dia havia chegado. A viagem foi longa, dormimos em Curitiba uma noite e no dia seguinte seguimos por mais 400 km até chegar à maternidade.
Quando encontramos nossa pequena, sentimos algo especial… O coração bateu muito forte, a vontade de ser mãe e pai daquele ser indefeso nos arrebatou. Estávamos bem felizes e contemplativos.
No hospital pegamos um documento e fomos até a vara da infância para formalizarmos a adoção. Inicialmente passamos por uma entrevista com o Juiz, que conversou muito com nosso filho Bruno, perguntando sobre nossa vida familiar e conosco sobre nossas vidas profissionais e condições financeira. Após esta entrevista recebemos um termo de guarda. A partir daquele momento éramos responsáveis pela Giovanna, que ainda tinha um nome de registro dado pela mãe biológica.
Quando uma mãe biológica disponibiliza seu filho para adoção, ela assina um documento abrindo mão do “pátrio poder” que lhe é conferido, para que outro casal assuma a paternidade .
Tínhamos em mãos um termo de guarda que nos garantia os cuidados com a Giovanna, mas precisávamos da autorização judicial para realizar o registro no cartório.
Após dois meses da chegada dela em casa e da visita de uma assistente social, conseguimos o documento necessário e fomos ao cartório registrar, nossa querida filha, em nosso nome. Isso é um ato muito importante para os pais adotivos. Agora ela tinha nome, nosso sobrenome e com isso toda a história da nossa família que seria dela também.
A chegada do segundo filho muda radicalmente, qualquer rotina de uma família. Com a nossa não seria diferente. Mesmo o Bruno, já com 7 anos a dinâmica familiar exigia de nós um desdobramento físico e emocionalmente para cuidar de dois.
A Giovanna tinha alguns probleminhas de saúde, um refluxo muito forte que a impedia de dormir e mamar sem antes passar por crises de choro e vômitos. Por este motivo resolvi abrir mão do meu trabalho para dar 100% de atenção para ela, pois pouco dormíamos e tudo era bem complicado, além disso, não me sentia segura em deixar os cuidados dela com outra pessoa para que eu pudesse trabalhar. Hoje não me arrependo, aproveitei o tempo para estudar e fiz minha primeira pós graduação neste período. Dividia-me entre ser mãe, aluna, esposa e tantas outras funções que temos que exercer. Mas nada disso seria possível sem a ajuda incondicional do meu marido Vladimir.
Com o passar do tempo, fomos nos adaptando à nova rotina, com idas e vindas ao médico, fisioterapeuta respiratório, choros, mamadas e muitas noites em claro. Mesmo com tudo isso, a certeza do amor e da vontade de ser mãe aumentava a cada dia.
O Bruno assistia a toda essa correria de forma tranquila, aliás, ele sempre foi um menino tranquilo, porém um dia, quando a Giovanna tinha aproximadamente oito meses, ele bem calmamente chegou e disse pra mim:
“Sabe mãe, não era bem isso que eu queria.”
Eu imediatamente perguntei: – mas como assim? Sobre o que você está falando?
Ele na santa calma, disse que quando pediu uma irmã, não era bem isso que ele queria. Que pensou que a irmã iria brincar com ele e não ficar o dia todo chorando e vomitando. Neste momento eu expliquei que era uma fase e que logo eles poderiam brincar e que teriam a vida toda para serem companheiros um do outro. Percebi que a resposta não o agradou muito, mas mesmo assim ele continuou paciencioso e me ajudando a cuidar da irmã.
Com o passar do tempo, ela foi crescendo e o refluxo melhorando. Mas algo me intrigava e me entristecia. Ela havia começado a falar… Falava papai, Nuno (Bruno) e outras palavras simples e não me chamava de mamãe em hipótese alguma. Ela estava com quase dois anos e as palavras surgiam dia após dia, mas mamãe não aparecia. Quando ela queria me chamar falava “Ô, Ô” ou Nuno (Bruno), mas nunca mamãe, por mais que eu insistisse não saia esta palavra. Com isso eu vivia triste… pensava: será que minha filha nunca vai me reconhecer como mãe?
No próximo encontro vou contar sobre a emoção de após dois anos, ouvir pela primeira vez, minha filha me chamando de mamãe e a relação entre os irmãos. Até lá!
Debora Corigliano é Psicopedagoga, atende crianças e adolescentes com dificuldades escolares e relacionamentos, orientação para pais e educadores. É autora do livro Orientando pais e educando filhos.
www.orientandopaiseducandofilhos.blogspot.com

Contato: deboracorigliano@hotmail.com
Telfone: 19 33831173
*Fotografia: Cacá Dominiquini
http://www.roteirokids.com.br/debora-corigliano-psicopedagoga/adocao-irma/

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