Como sabem, pelo menos os que me
conhecem e principalmente os que criticam, não sou afeita a escrever em
primeira pessoa e sou de escrever muito, não tenho o poder de ser concisa, não
sei resumir o que se passa na minha mente, não sei compactar minha indignação.
Estamos desde 2012, mais
fortemente, lutando com todas as forças para fazer com que entendam que
famílias são simplesmente famílias, sem adjetivação; que adotantes não são usurpadores
de filhos gerados por famílias pobres; que habilitados não buscam a exploração
da miséria com o objetivo de “roubarem” seus filhos.
Estamos, há anos, tentando provar
que somos uma única raça, a humana, com características diferentes: somos
negros, brancos, amarelos, mestiços, asiáticos, heteroafetivos, homoafetivos,
assexuados e demais identificações de cor, sexo, gênero.
Chegamos ao consenso de sermos
humanos e plurímos.
Observo que somos, também,
absolutamente individualistas: não sou homoafetivo, não lutarei por eles, não
levantarei minha voz em favor deles; não estou com problemas na minha adoção,
não me vou envolver com a luta dos outros, ou seja, e desculpem pela falta de
educação, mas só nos mexemos quando a “água já bate na nossa bunda”!
Essa dificuldade que temos de nos
colocar no lugar do outro retira-nos a humanidade.
Não preciso ser homoafetivo para
entender que eles, tal como qualquer um de nós, têm direito em se constituírem
em família. E porque o fato de serem família me incomodaria? Porque eu não
aceitaria que duas mulheres e prole fossem uma família, ou dois homens? Em que
isso me prejudica? Em que isso interfere na minha própria família ou na minha
vida? Em absolutamente nada!
Prosseguindo, porque me afetaria
se um tio e seu sobrinho formem uma família, ou uma pessoa sozinha?
Porque o Estado tem que
interferir nesse nível, com Projetos de Lei eivados de preconceito (Estatuto da
Família – PL nº 6.583/13)? Porque sempre o judiciário
quem que atuar nas lacunas, na inoperância.
Criam
leis obseletas – são inúmeras – e outras baseadas no próprio preconceito
pessoal e dogmas religiosos que não podem interferir no país que é LAICO. E o
pior – se ainda pode ficar pior – entregam a relatoria de tais leis para o deputado
pastor.
Já falei do Estatuto da Família e
agora trato do abaixo assinado promovido pela ANGAAD – Associação Nacional dos
Grupos de Apoio à Adoção que pede a instalação permanente de Defesa da Criança
e do Adolescente e da Adoção.
Para que as pessoas entendam a
importância de uma Comissão Permanente copio a definição retirada do site da câmara
federal:
O Papel das Comissões Permanentes
São órgãos técnicos criados pelo Regimento Interno
da Casa e constituídos de deputados(as), com a finalidade de discutir e votar
as propostas de leis que são apresentadas à Câmara. Com relação a determinadas
proposições ou projetos, essas Comissões se manifestam emitindo opinião técnica
sobre o assunto, por meio de pareceres, antes de o assunto ser levado ao
Plenário; com relação a outras proposições elas decidem, aprovando-as ou
rejeitando-as, sem a necessidade de passarem elas pelo Plenário da Casa.
A composição parlamentar desses órgãos técnicos é
renovada a cada ano ou sessão legislativa. Na ação fiscalizadora, as Comissões
atuam como mecanismos de controle dos programas e projetos executados ou em
execução, a cargo do Poder Executivo. Essas Comissões perduram enquanto
constarem do Regimento Interno. São elas:
- Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural - CAPADR
- Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática - CCTCI
- Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania - CCJC
- Comissão de Cultura - CCULT
- Comissão de Defesa do Consumidor - CDC
- Comissão de Desenvolvimento Urbano - CDU
- Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio - CDEIC
- Comissão de Direitos Humanos e Minorias - CDHM
- Comissão de Educação - CE
- Comissão do Esporte - CESPO
- Comissão de Finanças e Tributação - CFT
- Comissão de Fiscalização Financeira e Controle - CFFC
- Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia - CINDRA
- Comissão de Legislação Participativa - CLP
- Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - CMADS
- Comissão de Minas e Energia - CME
- Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional - CREDN
- Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado - CSPCCO
- Comissão de Seguridade Social e Família - CSSF
- Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público - CTASP
- Comissão de Turismo - CTUR
- Comissão de Viação e Transportes - CVT
Ou seja, a comissão é
importantíssima para evitar ainda maiores violações dos direitos de crianças e
adolescentes no Brasil. Existem inúmeros projetos de leis que tratam de
infância e juventude e uma comissão especializada no assunto, em tese, evitará
que sejam aprovados absurdos que ao invés de proteger crianças e adolescentes
trazem para a legislação o ranço do retrocesso e do preconceito.
Então se as questões que envolvem
família, criança, adolescente e adoção não te afetam, continue a ignorar nossos
insistentes pedidos para que saia da inércia e se posicione.
No Brasil temos mais de 30 mil
habilitados aguardando a indicação para adoção; 40 mil crianças e adolescentes
em acolhimento institucional e cinco mil crianças disponibilizadas à adoção e
nem 10% dos habilitados se posicionam.
Nas caminhadas, com muito custo,
reunimos mil pessoas, nas audiências públicas menos de uma centena. Onde estão
todos os que reclamam da lei? Da morosidade? Da falta de indicação de crianças?
Do valor absurdo das certidões?
Eu não vou mais adotar, já
encerrei meu processo na época em que durava menos de seis meses. Não preciso
me desgastar com a insistência para que se mobilizem, pois, não serei candidata
a nada e não busco votos de ninguém. Não é um abaixo assinado que trará mais ou
menos clientes para um escritório de advocacia, nem a luta contra o Estatuto da
Família que me fará mais ou menos conhecida. Pessoalmente não adiciona nada a
minha vida as lutas, mas como pessoa, como cidadã não posso me calar, não posso
me omitir, não posso compactuar com as injustiças que buscam fazer em nome de
um Deus que não pode ser o mesmo que conheço, pois, Deus é misericordioso e não
preconceituosos.
Não posso compactuar que em um
país laico um pastor deputado esteja ditando as regras de um malfadado Estatuto
da Família. Não posso aceitar, calada, que a população inteira de um país ache
importante ter uma Comissão Permanente de Turismo (não nego a importância) mas
não entenda importante ter uma Comissão Permanente para tratadas questões
infanto juvenis e da adoção.
Desculpem a chatice, o enchimento
de saco por bater na mesma tecla, mas não consigo entender a inércia.
Então que venham mais leis da
palmada fruto da nossa omissão, afinal o que importa que o Estado interfira na educação dos seus filhos?
Silvana do Monte Moreira
Assistam: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=eHzvjZsZ36U
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