quarta-feira, 4 de junho de 2014

COMO OCORRE O PROCESSO DE ADOÇÃO


Quarta-feira, 4 de junho de 2014 às 0:10
Uma pesquisa do Conselho Nacional de Justiça, divulgada na última semana, trouxe à tona um novo prisma na busca por adoções: as pessoas estão delimitando menos. Há quatro anos, a escolha por crianças brancas era de 39%, hoje, esse pré-requisito é solicitado por 29% dos interessados em adotar. Porém, ainda há muito o que evoluir. A pesquisa aponta que 42% das pessoas consideram a cor da pele indiferente.
Outro tabu que está sendo quebrado é da adoção de crianças maiores. Em 2010, 41% das pessoas aceitavam maiores de três anos. Atualmente, mais de 51% dos adotantes também querem meninos e meninas maiores. Em Bagé, no ano de 2013 foram realizados apenas cinco processos de adoção na Vara da Infância e Juventude no Fórum da comarca.
O promotor Éverton Luís Meneses, que responde pela Promotoria de Justiça Especializada, acredita que o endurecimento da lei tenha afetado na quantidade de processos de adoção: "Habilitar para a adoção é o principal problema enfrentado hoje, pois requer estudo social, psicológico e ainda um curso. Após cumprirem essas etapas, os adotantes entram na lista da comarca. Aí, quando surge uma criança com o perfil desejado, eles chamam por ordem e inicia um estágio de convivência. Só depois desse estágio é que pode levar para casa e adotar mesmo", relata.
Quanto aos requisitos, o promotor afirma que as famílias, aqui, ainda delimitam bastante, principalmente quanto à idade, pois preferem crianças de até dois anos.
À ESPERA
As casas-abrigo de Bagé, como a Casa da Menina e Casa do Guri acolhem crianças aptas para serem adotadas. A diretora Susana Grillo não fornece dados se há alguma menina que esteja passando por esse processo, pois se trata de decisões judiciais. Susana afirma que muitas famílias procuram o local para saber se há criança disponível: "Há aproximadamente 30 meninas lá, mas a maioria não está em processo de adoção. Por ano, entre uma e duas meninas são adotadas", resume. 
Já na Casa do Guri, moram 16 meninos com até 12 anos incompletos. Conforme a psicóloga do Centro de Referência e Assistência Social (Cras), Lisandra Lucas, apenas um, de cinco anos, está com destituição de pátrio poder, que é quando se torna habilitado para adoção e está no Cadastro Nacional de Adoções há dois anos. "Tem um bebê que os próprios familiares da mãe entraram com pedido de adoção. Eles têm preferência por terem laços sanguíneos", complementa.
A coordenadora interina, Raquel Pinheiro, comenta que os interessados, na maioria, têm preferência por bebês. Se a criança tiver algum problema de saúde, é mais difícil conseguir nova família. A Casa do Guri também recebe muitas famílias que procuram diretamente o local em busca de crianças para adotarem, porém é obrigatório passar por todo o procedimento previsto em lei. A maioria das crianças estão no abrigo por terem sofrido algum tipo de violência ou maus-tratos ou têm pais presos.
HABILITAÇÃO
Como o cadastro é nacional, não se tem uma dimensão de quantos meninos e meninas da região da Campanha estão inseridos. Lisandra explica que, para adotar, basta qualquer pessoa com mais de 18 anos e que tenha 16 anos a mais que a criança a ser adotada, e efetuar o pedido de inclusão no Cadastro Nacional de Adoção através do Fórum. Pode ser solteiro ou casado. Após isso, tem início o processo de documentos e estudo. 
Quanto às crianças, a psicóloga elucida que antes da destituição de pátrio poder da família sanguínea, a criança fica até dois anos nas casas-abrigo: "Este é o período em que tentamos reconstruir o vínculo com os pais. Quando esgotam as possibilidades é que ela entra no Cadastro Nacional de Adoções."
O familiar consanguíneo sempre tem preferência na hora de criar um filho adotivo. A partir dos 12 anos, a pessoa tem o direito de falar ao juiz se quer ou não ser adotada por aquela família. Conforme Lisandra, é muito comum pedirem para voltar para a casa da família de sangue, por mais que tenham sofrido algum tipo de violência. Nesse caso, ficam morando na casa-abrigo até completarem 18 anos.
FILHOS DEVOLVIDOS
Um grande trauma pelo qual as crianças passam é a devolução. Na Casa da Menina essa situação se repetiu três vezes. "Geralmente acontece quando adotam meninas grandes. Há também casos em que elas fogem e retornam para cá. É uma situação muito difícil de lidar, pois vivem na esperança de ter uma família e, de repente, são devolvidos", lamenta. Conforme Suzana, esse trauma foi o principal motivo para terminar com o projeto "Padrinho Afetivo", pois as crianças passavam o final de semana na casa dos padrinhos e queriam morar com eles. Então o retorno para a casa era muito difícil para os pequenos. 
Na Casa do Guri um menino retornou duas vezes. Raquel reitera que isso costuma acontecer com as crianças maiores: "Isso é o que causa mais trauma, pois eles já entendem e costumam ficar muito revoltados, afirmam que ninguém os quer, ninguém gosta deles. Percebemos que ficam com aquela revolta, não confiam em ninguém. É muito triste", avalia.
Já Lisandra salienta que os adotantes têm que ter muita estrutura emocional. "Adoção é um ato de amor. As crianças sempre são carentes de afeto, de atenção, sempre carregam alguma marca e os pais adotivos têm que ter estrutura para trabalhar com isso. Por isso são feitos estudos sociais com a família interessada para ver condições emocionais, a vontade de adotar. As famílias têm de estar muito bem preparadas e com disposição para superar os traumas que as crianças levam com elas", defende.
SONHO DA MATERNIDADE
"O amor de quem quer ser mãe é o mesmo, não importa a forma como acontece", assim define uma professora bajeense que constituiu sua família adotando duas crianças. Ela não será identificada para preservar as filhas, sendo que uma ainda é criança. Após perder dois bebês na hora do parto, ela optou por fazer algo que desde jovem defendeu. Procurou o Fórum e entrou com a documentação na fila de adoção: "Tive entrevistas com a assistente social e fiquei aguardando com muita fé. Deus me deu a chance de ter sentido a alegria de gerar um ser humano, mas não pude tê-lo naquele momento. E apenas seis meses depois de entrar na fila, fui recompensada com uma filha linda", relembra.
Para ela, a família não estava completa, então entrou novamente com o pedido no Fórum. Na segunda vez, a lei já estava mais rígida: "Durante seis meses passamos por entrevistas com uma psicóloga, individualmente, eu e meu marido. A espera durou dois anos de muita ansiedade, mas nunca pensei em desistir", conta. Segundo ela, optar por enfrentar todo o processo outra vez foi porque sabia que não tinha o direito de negar a primeira filha o direito de ter uma irmã.
A professora assegura que agora a família está completa e recorda que muitas pessoas diziam que ela era muito bondosa, especial, por ter feito uma adoção: "Uma pena que elas não conseguiram entender que era eu quem estava sendo presenteada, nem sei se merecia tanto, mas elas são os amores da minha vida", resume. Outro ponto que ela destaca é que o ato de adotar não difere do ato de dar à luz, portanto, tem que aceitar a criança do jeito que ela é: "o que importa para mim não são as características físicas e sim o amor que nos une como uma família feliz. Tenho certeza de que esse sentimento é recíproco, e é isso que me importa", finaliza.
Por: Fernanda Couto
Bebês ainda são os mais procurados pelas famílias
Fotos - Crédito: ANTÔNIO ROCHA
http://www.jornalminuano.com.br/VisualizarNoticia/9097/como-ocorre-o-processo-de-adocao.aspx

Nenhum comentário: