quinta-feira, 5 de junho de 2014

O SERGINHO É ADOTADO? (BULLING)


- O Serginho é adotado?? - diz Pedrinho, surpreso.
- Sim, ele é. Você nunca reparou como ele é diferente dos pais? - pergunta o pai.
A mãe do Serginho era do tipo atlético: academia, maratonas, conversa fazendo alongamentos. O pai é mais tranquilo, meio bonachão. Ambos tem pouco menos de 30 e de um branco louro quase norueguês, pouco comum no Rio de Janeiro. Serginho é o que chamamos de moreno, bem moreno.
- Hummm … não. Crianças são diferentes. - e esquece do pai e do mundo, vidrado no vídeo game.
Dona Rosa acha graça do olhar preocupado do pai de Pedrinho.
- Calma pai, distração não reprova na escola, e pro vestibular ainda falta muito tempo.
O pai olha curioso para o filho, imaginando como o filho o vê.
- Você não acha que você é parecido comigo, sua mãe? Você é a cara do seu avô!
- VOVÔ?? MÂÃÃEEEEEEE!!! - e sai correndo, em busca da mãe.
O pai olha pra Dona Rosa tentando descobrir o que aconteceu.
- O avô é seu Benevides? Careca que faz brincadeiras colocando a dentadura na mão e dizendo que é uma cobra dentada?? E você diz pro menino que eles são iguais??
- Mas o avô tem 70 anos.
- Eu tenho 80 e todos os dentes. E não ficaria assustando as crianças se tivesse uma dentadura.
O pai se cala. Ser parecido com seu Benevides realmente é assustador para qualquer um, até para ele.
- Não se preocupe, ainda tem muito tempo antes do vestibular. Ele vai ficar mais esperto até lá. Eu espero.
- Mas como ele pode não reparar?
- Por que isso é tão importante? - pergunta Dona Rosa enquanto segue com o tricô.
- Não é por mim. Mas os pais do Serginho são meus amigos, e estou preocupado com bulling, por ser adotado.
- Ele vai sofrer bulling, com certeza.
- Como se as crianças nem percebem que ele é adotado?
- O Sérgio é baixinho, gordo e usa óculos. É mais do que suficiente.
O rosto do pai reflete confusão e medo.
Rosa para, pousa as agulhas e olha para o pai pacientemente.
- Crianças implicam por implicar, o motivo é uma desculpa. São discriminados os gordos, os estudiosos e os que usam óculos. Os gordões serão chamados de bolões, os que estudam de demais de nerds, ou “lousers” (tá na moda, seu filho me disse) e os que usam óculos de quatro olhos. Os magros serão chamados de palitos, os que tiram notas baixas de burros ( e lousers de novo) e os que não usam óculos de “sem graça”. E assim a lista segue por qualquer característica que a criança tenha, ou não tenha, tanto faz. A questão é implicar. São discriminados os altos, os baixos, os mais novos, os mais velhos, os que não têm o brinquedo novo, os que sempre tem o brinquedo novo, os que moram longe e os que moram perto. Todos são discriminados. É comum nas crianças criarem grupos e implicar com os que não são de seus grupos. Por qualquer motivo, ou sem motivo.
- Todas as crianças são vítimas de perseguições na escola, na casa, na rua, etc. - prossegue - Geralmente pelas próprias crianças. O limite entre brincar e agredir as vezes não é claro para eles. Outras vezes está claro, mas eles passam assim mesmo. São crianças. Se tivessem juízo não precisariam de pais. Mas eles precisam, o juízo ainda vai levar muito tempo para chegar.
O olhar do pai para a janela com vista da praça não é animador. Ele não está mais preocupado com o filho de seus amigos. Ele começa a pensar em quantas coisas podem fazer do seu filho um alvo.
- Para isso estamos aqui - prossegue Rosa. - para dizer que pode desenhar o colega bem magro, mas não pode botar orelhar de girafa. Pode chamar o colega de lobo, mas burro não. E também não pode chamar de lobo se ele não quiser. Que tem dar chance para todos no time, mesmo os gordinhos.
O telefone toca. Rosa atende.
- Alo? … Mas que cola, que tipo de cola? Branca, escolar? Certo calma, ele vai ficar bem. Sim, eu aviso. - desliga o telefone - Teresa, sua esposa, vai passar aqui agora para pegar você. Ela está levando o Pedrinho pro hospital. - retoma o trico com uma tranquilidade que o pai não entende.
- ??
- Ele passou cola nos dentes. Ainda bem que foi cola branca.
Enquanto se arruma para sair, o pai olha para Rosa tentando entender por que o filho faria isso. Rosa explica.
- A dentadura. Pedrinho não quer perder os dentes.
O pai sai, mas não está mais preocupado com o Serginho. Agora ele está preocupado com o bulling contra o filho, uma intoxicação por cola, a falta de esperteza do filho, o vestibular, etc.
http://portaldaadocao.com.br/8-dona-rosa/16-o-serginho-%C3%A9-adotado-bulling
O SERGINHO É ADOTADO? (BULLING)

- O Serginho é adotado?? - diz Pedrinho, surpreso.
- Sim, ele é. Você nunca reparou como ele é diferente dos pais? - pergunta o pai.
A mãe do Serginho era do tipo atlético: academia, maratonas, conversa fazendo alongamentos. O pai é mais tranquilo, meio bonachão. Ambos tem pouco menos de 30 e de um branco louro quase norueguês, pouco comum no Rio de Janeiro. Serginho é o que chamamos de moreno, bem moreno.
- Hummm … não. Crianças são diferentes. - e esquece do pai e do mundo, vidrado no vídeo game.
Dona Rosa acha graça do olhar preocupado do pai de Pedrinho.
- Calma pai, distração não reprova na escola, e pro vestibular ainda falta muito tempo.
O pai olha curioso para o filho, imaginando como o filho o vê.
- Você não acha que você é parecido comigo, sua mãe? Você é a cara do seu avô!
- VOVÔ?? MÂÃÃEEEEEEE!!! - e sai correndo, em busca da mãe.
O pai olha pra Dona Rosa tentando descobrir o que aconteceu.
- O avô é seu Benevides? Careca que faz brincadeiras colocando a dentadura na mão e dizendo que é uma cobra dentada?? E você diz pro menino que eles são iguais??
- Mas o avô tem 70 anos.
- Eu tenho 80 e todos os dentes. E não ficaria assustando as crianças se tivesse uma dentadura.
O pai se cala. Ser parecido com seu Benevides realmente é assustador para qualquer um, até para ele.
- Não se preocupe, ainda tem muito tempo antes do vestibular. Ele vai ficar mais esperto até lá. Eu espero.
- Mas como ele pode não reparar?
- Por que isso é tão importante? - pergunta Dona Rosa enquanto segue com o tricô.
- Não é por mim. Mas os pais do Serginho são meus amigos, e estou preocupado com bulling, por ser adotado.
- Ele vai sofrer bulling, com certeza.
- Como se as crianças nem percebem que ele é adotado?
- O Sérgio é baixinho, gordo e usa óculos. É mais do que suficiente.
O rosto do pai reflete confusão e medo.
Rosa para, pousa as agulhas e olha para o pai pacientemente.
- Crianças implicam por implicar, o motivo é uma desculpa. São discriminados os gordos, os estudiosos e os que usam óculos. Os gordões serão chamados de bolões, os que estudam de demais de nerds, ou “lousers” (tá na moda, seu filho me disse) e os que usam óculos de quatro olhos. Os magros serão chamados de palitos, os que tiram notas baixas de burros ( e lousers de novo) e os que não usam óculos de “sem graça”. E assim a lista segue por qualquer característica que a criança tenha, ou não tenha, tanto faz.  A questão é implicar. São discriminados os altos, os baixos, os mais novos, os mais velhos, os que não têm o brinquedo novo, os que sempre tem o brinquedo novo, os que moram longe e os que moram perto. Todos são discriminados. É comum nas crianças criarem grupos e implicar com os que não são de seus grupos. Por qualquer motivo, ou sem motivo.
- Todas as crianças são vítimas de perseguições na escola, na casa, na rua, etc. - prossegue - Geralmente pelas próprias crianças. O limite entre brincar e agredir  as vezes não é claro para eles. Outras vezes está claro, mas eles passam assim mesmo. São crianças. Se tivessem juízo não precisariam de pais. Mas eles precisam, o juízo ainda vai levar muito tempo para chegar.
O olhar do pai para a janela com vista da praça não é animador. Ele não está mais preocupado com o filho de seus amigos. Ele começa a pensar em quantas coisas podem fazer do seu filho um alvo.
- Para isso estamos aqui - prossegue Rosa. - para dizer que pode desenhar o colega bem magro, mas não pode botar orelhar de girafa. Pode chamar o colega de lobo, mas burro não. E também não pode chamar de lobo se ele não quiser. Que tem dar chance para todos no time, mesmo os gordinhos.
O telefone toca. Rosa atende.
- Alo? … Mas que cola, que tipo de cola? Branca, escolar? Certo calma, ele vai ficar bem. Sim, eu aviso. - desliga o telefone - Teresa, sua esposa, vai passar aqui agora para pegar você. Ela está levando o Pedrinho pro hospital. - retoma o trico com uma tranquilidade que o pai não entende.
- ??
- Ele passou cola nos dentes. Ainda bem que foi cola branca.
Enquanto se arruma para sair, o pai olha para Rosa tentando entender por que o filho faria isso. Rosa explica.
- A dentadura. Pedrinho não quer perder os dentes.
O pai sai, mas não está mais preocupado com o Serginho. Agora ele está preocupado com o bulling contra o filho, uma intoxicação por cola, a falta de esperteza do filho, o vestibular, etc.
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