sexta-feira, 21 de junho de 2013

E para não dizer que não falei de flores ...


Lembrei-me da minha época – longínqua – de militância política. Entrei para a universidade em 1978. Imediatamente me integrei ao DCE, à União das Mulheres de Alagoas e a algum partido político de esquerda. Não vou lembrar-me de todos os fatos, mas, lembro que ouvíamos a “Voz de Tirana”, realizávamos reuniões com a presença de muitos amigos queridos, lutávamos por uma ideologia tão distante e novamente tão próxima.
Lutávamos por uma “constituinte livre, nacional e soberana”, empunhávamos faixas, arriscávamos-nos em pichar alguns órgãos públicos com palavras de ordem. Usávamos camisetas com a imagem de Che Guevara, calças Lee ou Levis, chinelos de dedo, cabelos naturalmente cacheados, o Capital, de Marx, era o nosso livro de cabeceira.
Nos finais de semana nos agrupávamos com aqueles que tinham carro – eu tinha um fusca – e íamos às cidadezinhas dos arredores para conversar com a população. Levamos apenas a voz, enquanto que a então direita levava filtros para água e outros bens tão necessários àquela população carente. Nossa fala não germinava, não rendia qualquer fruto. Tentávamos criar consciência política em pessoas que nem água tinham para beber. Vivendo e aprendendo que não é por aí que se cria a consciência de uma nação.
Nunca enfrentei maiores violências. A primeira vez que me deparei com uma bomba – não lembro se de gás lacrimogêneo – foi no Congresso da UNE em Salvador/BA. No mais nossas manifestações sempre foram absolutamente pacificas.
Éramos comunistas e sonhávamos em transformar o Brasil em uma grande Cuba. Queríamos ter educação de ponta, viver em um país sem corrupção, com saúde e onde todos tivessem condições de ter e exercer a cidadania através da consciência política.
Eu tinha o sonho de estudar na Universidade de Amizade dos Povos Patrice Lumumba, em Moscou, então exemplo de quem lutava pelo proletariado e contra a burguesia. Engraçado como soam de forma tão distantes essas palavras – burguesia e proletariado.
Voltam a minha mente reuniões realizadas com João Amazonas e de como ficávamos embevecidos com sua vivência, com sua forte militância pela causa operária com fundamentação no  marxismo-leninismo.
Nossos ídolos daquela época caíram... não me lembro de ter ficado decepcionada, não sei se por não ser importante essa lembrança ou por mero esquecimento.
Descobrir que o comunismo não existia, que era mera falácia e que sob sua bandeira aconteciam atrocidades; descobrir que não existiam sociedades sem classes sociais, que o povo era calado pelo medo e não por estar plenamente atendido em sua cidadania, foi um golpe, sonhos destruídos, ideologias rasgadas, livros aposentados.
Os meus ídolos inatingíveis continuam a existir - ainda acredito que uma sociedade pode existir com igualdade de direitos e condições de vida, ainda acredito nos pensamentos de Marx, Engels, dentre outros -, os de carne e osso perderam-se na vida, outros na política.
Os mesmos que seguravam comigo faixas na frente do Palácio dos Martírios com palavras de ordem pela constituinte, hoje fazem parte do sistema e cospem nessa mesma Constituição pela qual lutaram pela aprovação.
Feito esse pequeno retrocesso histórico penso que lutamos para ser o que somos hoje: um país livre, democrático, soberano, mas não chegamos nem perto do que almejávamos – Educação, Saúde, Cidadania.
Em 1978 já sabíamos que o povo só resgataria sua cidadania pela educação. Hoje, 35 anos depois, continuamos batendo exatamente na mesma tecla.
Não são 20 centavos? Não sei, juro que não tenho mais essa consciência política. Sei, apenas, que posso voltar 35 anos e ver que algo mudou, mas nem tudo. Os políticos continuam corruptos – agora com mais voracidade -, o povo continua não valorizando o voto – mudou o mecanismo de compra: não são mais filtros e sim bolsas -, e continuamos como gado em direção ao abate.
O povo não quer ser incomodado, o povo tem medo de manifestação, o povo tem medo do futuro. Vamos derrubar os políticos, tirar a presidente, fechar o senado, a câmara federal, destituir os ministros. Ponto! E quem vamos colocar para comandar um país com proporções continentais e com tantas especificidades? O povo tem alguma indicação? Eu não tenho. Não existe um político no Brasil em que eu possa – no alto da minha ignorância política – arriscar que comandaria bem o Brasil.
Não sou hipócrita, assumo que errei em várias análises, mas um movimento nas proporções atuais tem que ter uma direção. Tem que ter um interlocutor idôneo para levar uma pauta de reivindicações, caso contrário será absolutamente estéril e não passará de uma baderna.
Duro isso? Sim, duro. Já fui manifestante, nunca baderneira, sabíamos o que queríamos – mesmo que com premissas equivocadas -, acreditávamos que aquelas forças políticas que surgiam no final da década de 70 seriam a redenção do país, pois, afinal, eram filhos do mesmo movimento. E vejam qual o resultado: são esses mesmos políticos que nossos filhos querem tirar – por incompetência e locupletação – do poder.
Estou criticando o movimento? Jamais! Sugiro, apenas, que interlocutores com uma pauta de reivindicações sigam pacificamente a Brasília e exijam uma reunião com a representante maior dessa nação. Já foi mostrado o poder de mobilização. Já foi vivenciada a falta de preparo dos governantes de lidar com multidões. Eles estão com medo. Eles sabem que a população cansou de calar, que quer ter seus direitos respeitados.
Estamos em meio a uma grande ressaca cívica que não pode esmorecer, mas, chega de parar o país, chega de permitir que infiltrados e bandidos continuem a manchar esse enorme grito de cidadania. O quadro do movimento é lindo e vamos mantê-lo assim.
Sejam ouvidos por cada governo, filmem cada encontro, levem uma pauta articulada de pedidos.
Quem sou eu para escrever isso tudo? Ninguém. Alguém que se acomodou ao capitalismo, mas que nunca esqueceu o que viveu nem pelo que lutou.
Cantei, por muitos anos, com muito orgulho a Internacional. Saibamos buscar no hino parte das respostas e das atitudes que devemos tomar frente à situação em que o país se encontra. Não se trata de um hino retrogrado, basta saber identificar os personagens da letra. Está muito atual.
Sou jurássica, como diria minha filha, pois, “comunismo não nem nada a ver” é “coisa de nerd”... sei lá ...
E... desculpem pelo longo texto, acho que deu saudade...

A Internacional
De pé, ó vitimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da idéia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Senhores, patrões, chefes supremos,
Nada esperamos de nenhum!
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair desse antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós diz respeito!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Crime de rico a lei cobre,
O Estado esmaga o oprimido.
Não há direitos para o pobre,
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres.
Não mais deveres sem direitos,
Não mais direitos sem deveres!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Abomináveis na grandeza,
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha!
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu.
Querendo que ela o restitua,
O povo só quer o que é seu!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Nós fomos de fumo embriagados,
Paz entre nós, guerra aos senhores!
Façamos greve de soldados!
Somos irmãos, trabalhadores!
Se a raça vil, cheia de galas,
Nos quer à força canibais,
Logo verrá que as nossas balas
São para os nossos generais!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Pois somos do povo os ativos
Trabalhador forte e fecundo.
Pertence a Terra aos produtivos;
Ó parasitas deixai o mundo
Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar,
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar!

Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional

E ainda para acompanhar: http://www.youtube.com/watch?v=Skf61jS7IuI

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