Lembrei-me da minha época – longínqua
– de militância política. Entrei para a universidade em 1978. Imediatamente me
integrei ao DCE, à União das Mulheres de Alagoas e a algum partido político de
esquerda. Não vou lembrar-me de todos os fatos, mas, lembro que ouvíamos a “Voz
de Tirana”, realizávamos reuniões com a presença de muitos amigos queridos, lutávamos
por uma ideologia tão distante e novamente tão próxima.
Lutávamos por uma “constituinte
livre, nacional e soberana”, empunhávamos faixas, arriscávamos-nos em pichar
alguns órgãos públicos com palavras de ordem. Usávamos camisetas com a imagem
de Che Guevara, calças Lee ou Levis, chinelos de dedo, cabelos naturalmente
cacheados, o Capital, de Marx, era o nosso livro de cabeceira.
Nos finais de semana nos agrupávamos
com aqueles que tinham carro – eu tinha um fusca – e íamos às cidadezinhas dos
arredores para conversar com a população. Levamos apenas a voz, enquanto que a
então direita levava filtros para água e outros bens tão necessários àquela
população carente. Nossa fala não germinava, não rendia qualquer fruto. Tentávamos
criar consciência política em pessoas que nem água tinham para beber. Vivendo e
aprendendo que não é por aí que se cria a consciência de uma nação.
Nunca enfrentei maiores violências.
A primeira vez que me deparei com uma bomba – não lembro se de gás lacrimogêneo
– foi no Congresso da UNE em Salvador/BA. No mais nossas manifestações sempre
foram absolutamente pacificas.
Éramos comunistas e sonhávamos em
transformar o Brasil em uma grande Cuba. Queríamos ter educação de ponta, viver
em um país sem corrupção, com saúde e onde todos tivessem condições de ter e
exercer a cidadania através da consciência política.
Eu tinha o sonho de estudar na Universidade de Amizade dos Povos Patrice
Lumumba, em Moscou, então exemplo de quem lutava pelo proletariado e contra a
burguesia. Engraçado como soam de forma tão distantes essas palavras –
burguesia e proletariado.
Voltam a minha mente reuniões realizadas com João Amazonas e de como ficávamos
embevecidos com sua vivência, com sua forte militância pela causa operária com
fundamentação no marxismo-leninismo.
Nossos ídolos daquela época
caíram... não me lembro de ter ficado decepcionada, não sei se por não ser
importante essa lembrança ou por mero esquecimento.
Descobrir que o comunismo não
existia, que era mera falácia e que sob sua bandeira aconteciam atrocidades; descobrir
que não existiam sociedades sem classes sociais, que o povo era calado pelo
medo e não por estar plenamente atendido em sua cidadania, foi um golpe, sonhos
destruídos, ideologias rasgadas, livros aposentados.
Os meus ídolos inatingíveis continuam a existir - ainda acredito que uma
sociedade pode existir com igualdade de direitos e condições de vida, ainda
acredito nos pensamentos de Marx, Engels, dentre outros -, os de carne e osso
perderam-se na vida, outros na política.
Os mesmos que seguravam comigo faixas na frente do Palácio dos Martírios com
palavras de ordem pela constituinte, hoje fazem parte do sistema e cospem nessa
mesma Constituição pela qual lutaram pela aprovação.
Feito esse pequeno retrocesso histórico penso que lutamos para ser o que
somos hoje: um país livre, democrático, soberano, mas não chegamos nem perto do
que almejávamos – Educação, Saúde, Cidadania.
Em 1978 já sabíamos que o povo só resgataria sua cidadania pela educação.
Hoje, 35 anos depois, continuamos batendo exatamente na mesma tecla.
Não são 20 centavos? Não sei, juro que não tenho mais essa consciência
política. Sei, apenas, que posso voltar 35 anos e ver que algo mudou, mas nem
tudo. Os políticos continuam corruptos – agora com mais voracidade -, o povo
continua não valorizando o voto – mudou o mecanismo de compra: não são mais
filtros e sim bolsas -, e continuamos como gado em direção ao abate.
O povo não quer ser incomodado, o povo tem medo de manifestação, o povo
tem medo do futuro. Vamos derrubar os políticos, tirar a presidente, fechar o
senado, a câmara federal, destituir os ministros. Ponto! E quem vamos colocar
para comandar um país com proporções continentais e com tantas especificidades?
O povo tem alguma indicação? Eu não tenho. Não existe um político no Brasil em
que eu possa – no alto da minha ignorância política – arriscar que comandaria
bem o Brasil.
Não sou hipócrita, assumo que errei em várias análises, mas um movimento
nas proporções atuais tem que ter uma direção. Tem que ter um interlocutor idôneo
para levar uma pauta de reivindicações, caso contrário será absolutamente
estéril e não passará de uma baderna.
Duro isso? Sim, duro. Já fui manifestante, nunca baderneira, sabíamos o
que queríamos – mesmo que com premissas equivocadas -, acreditávamos que
aquelas forças políticas que surgiam no final da década de 70 seriam a redenção
do país, pois, afinal, eram filhos do mesmo movimento. E vejam qual o
resultado: são esses mesmos políticos que nossos filhos querem tirar – por
incompetência e locupletação – do poder.
Estou criticando o movimento? Jamais! Sugiro, apenas, que interlocutores
com uma pauta de reivindicações sigam pacificamente a Brasília e exijam uma
reunião com a representante maior dessa nação. Já foi mostrado o poder de
mobilização. Já foi vivenciada a falta de preparo dos governantes de lidar com
multidões. Eles estão com medo. Eles sabem que a população cansou de calar, que
quer ter seus direitos respeitados.
Estamos em meio a uma grande ressaca cívica que não pode esmorecer, mas,
chega de parar o país, chega de permitir que infiltrados e bandidos continuem a
manchar esse enorme grito de cidadania. O quadro do movimento é lindo e vamos
mantê-lo assim.
Sejam ouvidos por cada governo, filmem cada encontro, levem uma pauta
articulada de pedidos.
Quem sou eu para escrever isso tudo? Ninguém. Alguém que se acomodou ao
capitalismo, mas que nunca esqueceu o que viveu nem pelo que lutou.
Cantei, por muitos anos, com muito orgulho a Internacional. Saibamos
buscar no hino parte das respostas e das atitudes que devemos tomar frente à
situação em que o país se encontra. Não se trata de um hino retrogrado, basta
saber identificar os personagens da letra. Está muito atual.
Sou jurássica, como diria minha filha, pois, “comunismo não nem nada a
ver” é “coisa de nerd”... sei lá ...
E... desculpem pelo longo texto, acho que deu saudade...
A Internacional
De pé, ó
vitimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da idéia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!
De pé, famélicos da terra!
Da idéia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!
Bem unido
façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Senhores,
patrões, chefes supremos,
Nada esperamos de nenhum!
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair desse antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós diz respeito!
Nada esperamos de nenhum!
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair desse antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós diz respeito!
Bem unido
façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Crime de
rico a lei cobre,
O Estado esmaga o oprimido.
Não há direitos para o pobre,
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres.
Não mais deveres sem direitos,
Não mais direitos sem deveres!
O Estado esmaga o oprimido.
Não há direitos para o pobre,
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres.
Não mais deveres sem direitos,
Não mais direitos sem deveres!
Bem unido
façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Abomináveis
na grandeza,
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha!
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu.
Querendo que ela o restitua,
O povo só quer o que é seu!
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha!
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu.
Querendo que ela o restitua,
O povo só quer o que é seu!
Bem unido
façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Nós fomos de
fumo embriagados,
Paz entre nós, guerra aos senhores!
Façamos greve de soldados!
Somos irmãos, trabalhadores!
Se a raça vil, cheia de galas,
Nos quer à força canibais,
Logo verrá que as nossas balas
São para os nossos generais!
Paz entre nós, guerra aos senhores!
Façamos greve de soldados!
Somos irmãos, trabalhadores!
Se a raça vil, cheia de galas,
Nos quer à força canibais,
Logo verrá que as nossas balas
São para os nossos generais!
Bem unido
façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Pois somos
do povo os ativos
Trabalhador forte e fecundo.
Pertence a Terra aos produtivos;
Ó parasitas deixai o mundo
Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar,
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar!
Trabalhador forte e fecundo.
Pertence a Terra aos produtivos;
Ó parasitas deixai o mundo
Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar,
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar!
Bem unido
façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
E ainda para acompanhar: http://www.youtube.com/watch?v=Skf61jS7IuI
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
E ainda para acompanhar: http://www.youtube.com/watch?v=Skf61jS7IuI
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