EU SOU CONTRA A ADOÇÃO
Domingo, 9 de Junho de 2013
Eu sou contra a adoção. Sou contra qualquer tipo de adoção. Sou contra
os pais morrerem enquanto as crianças são pequenas. Na verdade sou
contra os pais morrerem e ponto final. Sou contra as famílias de
acolhimento. Sou contra as instituições de acolhimento de crianças. Sou
contra a retirada das crianças da família biológica. Até sou contra as
crianças sem pais, seja por morte ou abandono.
No meu mundo ideal
nada disto existe porque todas as crianças que vivem são amadas,
estimadas e cuidadas pelos pais. No meu mundo ideal, nem há crianças
órfãs porque quando os pais morrem, aqueles que têm mesmo de morrer, há
tios, primos e amigos que cuidam dos filhos que sobrevivem como se
fossem seus filhos.
O problema é que
o meu mundo ideal não existe. No meu mundo real, nestes últimos dias
até aqui na sala ao lado, há mulheres que levam pancada do marido que
bate também nos filhos, há miúdos que saltam de casa em casa entre a mãe
que os abandonou, o pai que os maltratou e a família de acolhimento mal
escolhida que não os deixa ir à escola. No meu mundo há famílias
separadas pela pobreza, há crianças abandonadas em lares porque têm
deficiências.
No meu mundo, há uns 15 anos atrás, vi chegar a um lar
de crianças em risco uma menina de 10 meses com uma cabeça do dobro do
tamanho normal, dos maus tratos que tinha recebido pela família
biológica. Vi a cabeça a diminuir até ao tamanho normal. Vi-a chorar
cada vez que saía de um colo. E foi assim até ao dia em que se iniciou o
processo de adoção. Quando uma mulher solteira começou a visitá-la, a
levá-la a passear, a dar-lhe colo só a ela, a levá-la para casa, vimos a
Catarina pequenina a crescer, a melhorar dos problemas gástricos, a
começar a sorrir e a ficar sozinha no chão bem-disposta. Estava a
decorrer à frente dos meus olhos a transformação que o amor exclusivo
significa na vida das crianças: melhoria da saúde, melhoria do
desenvolvimento, melhoria enorme da felicidade.
Eu não sei o que
fazia a mãe da Catarina na sua vida sexual. Nem me interessa. Tenho a
certeza do que vou dizer, tanto que não me importo de ser dogmática:para
a criança não faz uma diferença profunda se um pai, uma mãe, dois pais
ou duas mães são homossexuais ou heterossexuais. O que faz diferença é
se há um amor individual e bom para cada criança. A sociedade e as
criancinhas da escola até podem gozar com a história e a família de cada
um. Não faz diferença se no final do dia cada criança tiver quem a
abrace e lhe dê beijinhos, se tiver quem a queira, quem lhe dê
segurança. É só isto que tem de contar nos processos adoção. Hoje demos
um belo passo neste sentido. Viva a Assembleia da República! Espero que
mais passos sejam dados em breve!
Carla Macedo
http://nosadoptamos.blogs.sapo.pt/2013/06/09/
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