sexta-feira, 7 de junho de 2013

PR: FILHA QUE FOI ADOTADA ILEGALMENTE CONHECE MÃE BIOLÓGICA APÓS 24 ANOS


07 de Junho de 2013
Curitiba
Roger Pereira

A primeira frase dita por Patrícia Dias, 24 anos, ao reencontrar a mãe biológica que a entregou para adoção aos sete meses de idade foi "eu te perdoo". Por intermédio da CPI do Tráfico de Pessoas da Câmara dos Deputados, mãe e filha se reencontraram na manhã desta sexta-feira, na capital paranaense.

Eu tinha 16 anos, fui abandonada pelo pai dela e não tinha condições de cuidar de uma criança. Decidi entregar para alguém que fosse cuidar dela - Taciane de Lima: Mãe Biológica de Patrícia

Taciane de Lima, mãe biológica de Patrícia, vivia em Garibaldi (RS), a 110 quilômetros de Porto Alegre, quando foi localizada pela CPI depois de três meses de investigações sobre o caso. A CPI começou a apurar a história das duas depois que Patrícia prestou depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Curitiba, que encaminhou o caso à CPI.
Tratado inicialmente como mais um caso de tráfico de criança, a adoção de Patrícia transformou-se num caso de "adoção à brasileira", quando a criança é entregue com o consentimento dos pais, mas sem o cumprimento dos trâmites legais. "Eu tinha 16 anos, fui abandonada pelo pai dela e não tinha condições de cuidar de uma criança. Decidi entregar para alguém que fosse cuidar dela", disse Taciane, que entregou o bebê na portaria de um hotel de Curitiba. A copeira do hotel adotou Patrícia.
"Claro que me arrependo e, se fosse uns dois anos depois, eu jamais faria isso. Passei todos esses anos pedindo a Deus para que, com quem ela estivesse, ela estivesse bem." A mulher disse que já havia viajado a Curitiba várias vezes em busca de notícias da filha.

Não vou julgá-la. Ninguém pode julgá-la. Ninguém sabe o que ela estava vivendo na época para tomar essa decisão. Eu tive minhas filhas com total apoio da nossa família. Ela, a gente não sabe em que condições foram. Patrícia Dias

"Foram 14 anos esperando por esse dia", disse Patrícia, que descobriu ser filha adotiva aos 10 anos. "Não vou julgá-la. Ninguém pode julgá-la. Ninguém sabe o que ela estava vivendo na época para tomar essa decisão. Eu tive minhas filhas com total apoio da nossa família. Ela, a gente não sabe em que condições foram", afirmou. Casada e com duas filhas, Patrícia disse que só agora sua vida está completa.

"Vamos conversar muito, saber o que cada uma fez da vida, conhecer toda a família. Minha vida atrasou muito até o dia de hoje", disse ela, com o sobrinho - que acabara de conhecer - no colo. Taciane retorna ao Rio Grande do Sul na noite desta sexta-feira, mas já com uma visita de Patrícia agendada.

O deputado federal Fernando Francischini (PEN), vice-presidente da CPI e promotor do encontro, disse que o caso será passado à Polícia Civil do Paraná, mesmo que os eventuais crimes cometidos - como falsificação da certidão de nascimento de Patrícia - já estarem prescritos. O deputado também descreveu os próximos passos da CPI.
"Temos que investigar uma denúncia da existência de uma reunião entre autoridades do Judiciário, uma vice-cônsul americana e representantes da ONG Limiar (acusada da adoção irregular de 355 crianças brasileiras nos Estados Unidos). E também estamos aguardando informações do FBI sobre a situação destas crianças, pois temos denúncias de que algumas foram abandonadas pela família americana", afirmou.
Taciane de Lima, mãe biológica de Patrícia, vivia em Garibaldi (RS), a 110 quilômetros de Porto Alegre Foto: Roger Pereira / Divulgação
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