ELES SÃO ÓRFÃOS E DISPUTAM POR PAIS 'NA RAÇA'
30/10/2013
Abrigos estão superlotados e famílias escolhem as crianças de acordo com um critério: cor da peleDanilo Sanches
danilos@bomdiajundiai.com.br
O drama dos abrigos para crianças e adolescentes de Jundiaí já foi a
chamado de “adoção tardia”, nome para a adoção de crianças além dos 2
anos de idade. Mas hoje a realidade dos abrigos superlotados é muito
mais severa com as crianças. O principal motivo de rejeição pelas
famílias que pleiteiam a adoção na cidade é a cor da pele.
Segundo
um estudo feito em outubro do ano passado pela Vara da Infância e
Juventude de Jundiaí, apenas 2% das famílias adotantes diziam aceitar
crianças negras. “Esses dados não mudaram do ano passado para cá. Acabou
a ideia de que as famílias só queriam adotar crianças mais novas. Hoje
elas aceitam muito bem crianças de 4 ou 5 anos. Mas a cor ainda é uma
questão para ainda termos crianças nas casas de adoção. E isso associado
à idade piora ainda mais”, explica Ana Carrara Quaggio, da Vara da
Infância e Juventude de Jundiaí.
As casas de acolhimento de crianças
e adolescentes em Jundiaí estão superlotadas e um dos motivos para a
superlotação é a identificação mais precoce de situações de risco para
as crianças pelo Conselho Tutelar, em parceria com os hospitais e a Vara
da Infância e Juventude.
O serviço ganhou mais eficiência e a
prefeitura precisa correr atrás para disponibilizar mais vagas ou criar
novas casas de acolhimento, segundo uma assistente social da Casa
Transitória de Jundiaí, uma das entidades da cidade que acolhe crianças
e, atualmente possui três além da sua capacidade, que é de 20. Segundo
ela, os pedidos de vagas são negados sistematicamente, em função da
situação de lotação.
DROGAS/ “Tem havido um número muito grande
e crescente de mães usuárias de drogas. Algumas até dão entrada no
trabalho de parto sob efeito de alguma droga. E a duração dos processos
que envolvem as crianças para adoção muitas vezes não se coordena com a
chegada de novas crianças”, explica a psicóloga da Vara da Infância e
Juventude de Jundiaí, Silmara Pincinato Silva. Segundo ela, a Vara
contribui fortalecendo a adoção tardia.
OPINIÃO: MAURO VAZ, PROMOTOR DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE
Orçamento limitado prejudica rede
Jundaí cresceu demais e os problemas se multiplicaram. É lamentável,
mas o município está trabalhando com o orçamento da gestão anterior. A
Vara da Infância e Juventude tem pressionado por melhorias e quando tem
uma criança para ser acolhida, ela vai ser acolhida de qualquer forma.
Nem que, em último caso, a gente busque vagas em outras cidades.
O
trabalho está sendo feito, mas leva tempo para estruturar uma rede que
não estava estruturada. Até o ano que vem teremos mais vagas.
PROBLEMA LONGE DE TER SOLUÇÃO
Crianças retiradas das famílias são atendidas nos abrigos da cidade
VULNERABILIDADE
Muitas crianças são retiradas de seus pais por conta da insalubridade
do local onde a família mora e das condições de higiene, que colocam em
risco a vida dos pequenos.
USO DE DROGAS
Quando as mães são
usuárias de drogas, o acompanhamento é feito desde o pré-natal pela
rede de saúde. Caso a Justiça entenda por bem do menor, ele é retirado
da mãe ainda no hospital, logo após o parto.
ACOMPANHAMENTO
Enquanto permanecem nos abrigos, as crianças e adolescentes recebem
apoio de todos os profissionais das entidades, que são psicólogos,
enfermeiros, assistentes sociais, entre outros.
FAMÍLIA POR PERTO
Antes de serem levadas para abrigos, parentes são comunicados e recebem
a guarda das crianças. Somente quando não há alternativa é que elas são
levadas para as casas de apoio.
SECRETARIA DIZ SABER DO PROBLEMA E CULPA DROGAS
Sobre o número de vagas, a Semads (Secretaria Municipal de Assistência e
Desenvolvimento Social) enviou uma nota ao BOM DIA através da
assessoria de imprensa da prefeitura informando que a pasta tem
conhecimento da situação dos abrigos do município, pois mantém diálogo
permanente com o Poder Judiciário e com as entidades que atuam na área.
“A secretaria já aportou recurso para 2014 para ampliar o financiamento
de vagas com essas instituições, que já ofertam parte de sua capacidade
de atendimento ao município (vale lembrar que parte das vagas dos
abrigos são ocupadas por crianças e adolescentes de cidades vizinhas).
Está ainda em processo de abertura chamada pública para a oferta de mais
vagas e outras ações de prevenção, tendo em vista o aumento do número
de crianças abrigadas estar diretamente ligado aos casos de
mulheres/adolescentes usuárias de drogas. Tanto na área de assistência
social, como a área de saúde estão ampliando serviços para o
enfrentamento da droga dependência no município.”
MAIS
CASA DE PASSAGEM SERÁ CONVENIADA
A prefeitura vai abrir uma chamada pública para conveniar a Casa de
Passagem, um serviço que funciona como um abrigo provisório para
crianças, por até 72 horas. O serviço, que funciona atualmente em
conjunto com a Nossa Casa passa por dificuldades e deverá ser assumido
por alguma das instituições do município. Hoje, a Casa Transitória, que
tem capacidade para abrigar 20 crianças até 14 anos, tem 23 abrigados. A
Casa de Nazaré, serviço com capacidade para 45 crianças e adolescentes
de 12 a 18 anos, abriga hoje 49 pessoas. A conselheira tutelar Ana
Claudia Mondragon conta que em casos de emergência, o conselho tem que
assumir a responsabilidade de resolver o problema da falta de vagas,
mesmo que seja em abrigos de municípios vizinhos.
http://www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/59529/Eles+sao+orfaos+e+disputam+por+pais+'na+raca
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