terça-feira, 4 de junho de 2013

GRUPO DE APOIO À ADOÇÃO BENQUERER ATUA EM BH


04/06/2013
Sônia Caldas Pessoa

A advogada Renata Machado Nogueira Soares é presidente do Grupo de apoio à adoção Benquerer, que atua em Belo Horizonte. Ela é secretária executiva da Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente da OAB/MG, é mãe, amante da causa das crianças há 20 anos, militante da assistência material às crianças carentes há 13 anos e voluntária em grupos de apoio à adoção pelos últimos 5 anos. Em entrevista a Tudo Bem Ser Diferente, ela fala sobre o trabalho do grupo, o processo de adoção e sobre a adoção de crianças especiais.

COMO SURGIU A IDEIA DE FORMAR O GRUPO DE APOIO À ADOÇÃO?
Vários encontros simultâneos, numa conspiração espontânea e quase cósmica, aliou este grupo de profissionais sérios e engajados nas causas da infância e juventude. Do estudo do instituto jurídico da adoção às necessidades de uma prática forense respeitada; do próprio exercício da maternagem responsável, conciliado com a reconhecida necessidade social de atender a carência dos personagens envoltos em processos de adoção em BH e comarcas circunvizinhas; da afinidade e afetividade entre os 12 sócios fundadores que tem em comum o compromisso recíproco com uma atuação obstinada no voluntariado em prol dos infantes; foram os elementos que bastaram para nascer o nosso GAA, com pilar no nosso Benquerer.

QUEM COMPÕE O GRUPO?
O grupo nasceu no dia 16/4/2003, após um período de troca das experiências vividas e bastante diálogo, 12 profissionais de várias especialidades se reuniram para o fim de constituir o Benquerer. Os 12 sócios fundadores formam uma equipe multidisciplinar que inclui pedagoga, psicóloga, assistente social, pediatra e advogados, que de meros simpatizantes da causa da ação decidiram partir para uma atuação proativa e de atuação concreta social, numa busca de voluntariado que possa ajudar na colocação das crianças e adolescentes institucionalizados no seio de família que possa formar e forjar cidadãos probos, com estrutura no cuidado verdadeiro do benquerer diário.

VOCÊ TEM DADOS SOBRE NÚMERO DE CRIANÇAS QUE ESPERAM ADOÇÃO EM BH/MINAS/BRASIL?
Existe um cadastro público disponibilizado pelo CNJ, contudo ele não retrata a realidade do número de crianças em situação de abrigamento em Minas Gerais. Nesse cadastro só estão relacionadas as crianças cujos processos de destituição do poder familiar já transitaram em julgado. Isso ocorre, precocemente, por volta dos 2% dos casos. A maioria das adoções se inicia por meio de indicação das varas, por meio de guarda e só aí se promove a destituição do poder familiar. As crianças adotada, comumente, raramente chegam ao cadastro. Estas que estão lá hoje, para consulta pública, representam a penas aquelas que permanecem “cumprindo pena de abandono”. Para se ter uma ideia, no CNA – consulta pública, em BH há cerca de 80 crianças disponíveis para adoção, mas acredita-se que esse número esteja perto de 500. (fonte: http://www.cnj.jus.br/cna/View/consultaPublicaBuscaView
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QUAIS SÃO AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO GRUPO?
O Benquerer atua prioritariamente na orientação, acolhimento e apoio dos adotantes, crianças e famílias que estejam em período de perfilhação afetiva, acompanhando da gestação afetiva até o crescimento e desenvolvimento dessas crianças em seus verdadeiros lares. Trabalharemos ainda a busca ativa de famílias para crianças e adolescentes que aguardam há anos a oportunidade de ter uma família, agindo dessa forma, em via de mão dupla, concomitantemente procurando sarar ou auxiliar a cicatrizar a ferida aberta do abandono que está latente no Estado de Minas Gerais, o mais rápido possível.
Teremos outras frentes de trabalho, no momento não tão formatadas e amadurecidas mas pretendemos ajudar as famílias biológicas que pretendem resgatar seus filhos do sistema infracional, para que possam adotá-los, ainda que biológicos, de forma que esses jovens vejam como caminho mais atraente o seio familiar. Procuraremos planejar formas de promover o desabrigamento da multidão de crianças ora institucionalizadas no estado de Minas Gerais munindo os pais biológicos de ferramentas psicológicas, materiais e orientação para que possam ser os pais que seus filhos realmente necessitam, ou ainda desenvolvendo programas de apadrinhamento afetivo onde as crianças não aguardarão mais em abrigo por suas famílias e sim no seio de famílias acolhedoras que serão preparadas por nós, especificamente para essa finalidade. Dentre outras iniciativas que estão em fase de amadurecimento.

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFICULDADES PARA AS CRIANÇAS QUE ESTÃO EM ABRIGOS SEREM ADOTADAS?
A maior dificuldade é o despreparo do interessado em adotar. Um adotante preparado sabe que um filho que chega por adoção pode não ser o filho sonhado, mas é o filho possível, da mesma forma que o filho biológico. O habilitante despreparado fecha seu perfil visando aquela criança que, segundo entende, ficará mais possível da realização do seu sonho. Ele procura menina, branca e recém-nascida e o perfil dos abrigados é bem diverso desse. Dessa forma crianças e adolescentes ficam nos abrigos à espera de pais, enquanto os adotantes ficam por anos esperando o filho.

DE QUE MANEIRA É POSSÍVEL VIABILIZAR MAIS ADOÇÕES? O QUE PODE MUDAR?
Tudo pode mudar através do trabalho efetivo do Grupo de Apoio à Adoção. Precisamos de mais abertura por parte das Varas da Infância e Juventude para as iniciativas da sociedade civil organizada, reforma urgente do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, principalmente no que tange à contraditória sobreposição dos interesses das famílias biológicas sobre o melhor interesse da criança e do adolescente que vem sendo verificada por muitas decisões judiciais em todo o Brasil e preparar, educar, atualizar todos os personagens envolvidos no processo de adoção da rede de acolhimento às famílias adotivas.

PARA OS PAIS QUE PRETENDEM ADOTAR, QUAL É O PRAZO MÉDIO DE ESPERA?
Depende do perfil da criança pretendida, independentemente da forma de organização familiar. Quanto mais aberto o perfil, maior será a probabilidade de que o filho chegue mais rápido, contudo, a pressa nem sempre é a melhor opção. O ideal é que o adotante tenha esse perfil maduro em seu coração, pois de nada vale esperar um mês na fila do CNA e descobrir pouco depois que não reúne predicados suficientes para adotar a criança em sua guarda.

OS ENCONTROS DO BENQUERER SÃO ABERTOS? OS INTERESSADOS EM ADOTAR CRIANÇAS PODEM PARTICIPAR?
O GAA Benquerer-BH realizará encontros mensais abertos a todo o público, em espaço cedido pelo Colégio Arnaldo, na região centro-sul de Belo Horizonte. Os temas serão diversos, sempre procurando atender o maior número de demandas. Ofereceremos oficinas para entretenimento das crianças para que seus pais assistam às palestras e participem das dinâmicas propostas. O Grupo é apolítico, apartidário, laico e sem fins lucrativos, mas objetivamente pautado pela legalidade.
Adoção não é caridade e sim o exercício pleno do amor!

E AS CRIANÇAS ESPECIAIS? ELAS QUASE DIFICILMENTE SÃO ADOTADAS?
Crianças com necessidades especiais, normalmente, só são adotadas quando existem abrigos abertos ao voluntariado e algum voluntário se “apaixona” por esta criança e se sente capaz de cuidar dela longe de lá. Normalmente, são adoções “prontas. Os adotantes não são nem habilitados, eles se habilitam para adotar, pontualmente, estas crianças especificamente. Existem adotantes, ainda, que se habilitam para crianças convencionais, contudo, ao longo do processo, e pela frequencia aos grupos de apoio, abrem o perfil no CNA para algumas especificidades equiparadas às crianças com nececidades especiais que é o caso das crianças com HIV ou anemia falciforme, lábios leporinos, ou seja, doenças graves, tratáveis. Atualmente, é inexistente o número de habilitados no CNA que aceitam crianças verdadeiramente especiais, pois ao estarem habilitados, nem daria tempo de serem incluídos no cadastro e já teriam uma fila de crianças a sua espera.
Dizer que não são adotadas não é a verdade. A verdade é que são raramente adotadas e que só são adotadas através de programas de apadrinhamento afetivo ou quando o abrigo é aberto ao voluntariado.

QUAIS OS CONTATOS DO GRUPO?
Nosso escritório fica na Rua Levindo Lopes 333 sala 203. O telefone para contato é 30166660. Além desse número, ainda estamos atendendo em nossos celulares, a saber:
Renata Nogueira – 97950999/ Juliana Gontijo – 98899700 / Luiza Simonetti – 82397227
http://tudobemserdiferente.wordpress.com/2013/06/04/grupo-de-apoio-a-adocao-benquerer-atua-em-bh/

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