A ENTREGA PARA ADOÇÃO NÃO É CRIME
4 de março de 2012
Era final da manhã do dia 13 de junho de 2011 quando, em uma sala de
parto do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira
(Imip), no Recife, uma mulher tomou uma decisão que mudou sua vida. Oito
meses se passaram e Léa (nome fictício), 36 anos, já se prepara para
comemorar um ano de vida da sua escolha: o próprio filho. Sem emprego e
sem o namorado, Léa passou por momentos de desespero durante a gravidez
e, antes de dar à luz a criança, procurou a 2ª Vara da Infância e
Juventude do Recife para entregar o bebê logo que ele nascesse. O desejo
inicial mudou logo depois do parto e ela não se arrepende. Ao contrário
do que muita gente pensa, entregar o filho para adoção na Justiça é
possível e a mulher jamais pode ser punida com prisão ao tomar essa
decisão. Abandonar na rua, na porta da casa de alguém ou mesmo abortar é
que são crimes.
O programa Mãe Legal, da 2ª Vara, o mesmo onde Léa
foi recebida por uma equipe multidisciplinar, serviu de inspiração para
um outro programa, o Acolher, da Coordenadoria Estadual da Infância e
Juventude. O objetivo da iniciativa é prevenir o aborto, o infanticídio e
a adoção ilegal de crianças através do acolhimento a gestantes em
situação de vulnerabilidade que manifestem interesse em entregar seu
filho para adoção. Mulheres como Léa serão ouvidas e encaminhadas a
programas e ações de assistência médica, psicossocial e de distribuição
de renda geridas pelas entidades parceiras. O objetivo é manter a
criança em sua família biológica e só em último caso disponibilizar os
bebês para adoção.
O programa deve ser aplicado prioritariamente no
Cabo de Santo Agostinho, em Jaboatão dos Guararapes, em São Lourenço da
Mata e em Paulista. Com a ação, os profissionais de saúde desses
municípios serão capacitados para trabalhar em rede, diagnosticar casos e
encaminhá-los à Justiça. O primeiro objetivo é fortalecer vínculos
familiares entre a mãe a a criança para que esta possa decidir sobre a
entrega à adoção de forma mais consciente. “Com o programa Acolher, as
mães em situação de vulnerabilidade social e psicológica poderão ser
identificadas por profissionais de saúde qualificados para tal função. A
partir daí, a equipe multidisciplinar desses municípios deverá
encaminhar os casos ao Judiciário quando não houver possibilidade de
solucioná-los em primeira instância”, explica o desembargador Luiz
Carlos Figueirêdo.
O programa Mãe Legal, que inspirou o Acolher,
atua em conjunto com a rede de saúde do Recife, mas cada um dos
municípios deverá decidir de que forma vai atuar para atender essas
mulheres. Trabalhando como vendedora, Léa mora hoje com o filho mais
novo, a filha de 16 anos e a neta de quatro meses. “Meu filho é
maravilhoso. Fica louco quando me vê e também sou louca por ele. Ele é
carinhoso, aperta a minha orelha, dá cheiro, é brincalhão. Penso muito
no dia do parto, quando não quis pegá-lo no colo. Por isso faço tudo por
ele hoje. Espero que não saiba nunca que aquilo aconteceu”, testemunha
Léa, hoje uma mulher mais feliz.
Léa (nome fictício), 36, deu o filho para adoção. Voltou atrás e está com o bebê.
Fonte: Diário de Pernambuco
http://www.paulista40graus.com.br/a-entrega-para-adocao-nao-e-crime/
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