30 de agosto de 2013
Dr. Sávio Bittencourt
“Muitas pessoas se perguntam para que adotar? Essa palavra tão forte para nós que vivemos em instituição, e, tão fraca para quem não mora. A adoção nada mais é do que uma forma das pessoas mostrarem o que sentem por nós crianças, carinho, amor do qual precisamos tanto”.
Caroline da Motta Silva – Estudante, institucionalizada em abrigo
Há quem cogite longinquamente a possibilidade de adotar uma criança, mas esbarra em contra-indicações socialmente difundidas, oriundas de um profundo preconceito que permeia o tema. As dúvidas que surgem nem sempre são teoricamente complicadas, mas antes passam por pré-concepções tão batidas em nossa vivência cotidiana, por nossos familiares, amigos e pela própria mídia. É a cultura do “filho de criação”, alguém acolhido materialmente por uma família, mas que não ostenta todos os requisitos inerentes a um filho de verdade, não se mistura no carinho integral que os membros da família se concedem mutuamente.
Deste vício inicial surgem muitas incompreensões que vão sendo tomadas como verdades eternas, sabedoria ancestral, que seguem a lógica falsa da prudência, apontando seu dedo torto para problemas inexistentes. São miragens míopes, que os moribundos do deserto da falta de afetividade pensam ser reais. Como os sedentos e esfomeados na areia escaldante, as pessoas que estão privadas de conviver com o amor pleno têm também delírios: enxergam oásis inexistente de vidas absolutamente seguras, longe de qualquer risco ou improviso. E com a visão entorpecida por esta ingênua pretensão, privam-se do melhor da vida e continuam sua viagem trôpega pelo deserto do afeto.
O filho adotivo é tão amado como o biológico? É essa a primeira dúvida que surge quando alguém pensa em adotar. Não se deve pensar que é crime ter tal insegurança, já que ela faz parte de nosso ideário social há décadas. Crime é não superá-la, pelo espírito de amor revolucionário que existe em potencial em cada um de nós. Amor divino, que não se submete a lógicas egocêntricas e a determinismos cafonas, fora de época.
O filho adotivo é uma dádiva: um ser que o pai adotivo não poderia nunca ter gerado, por advir biologicamente de outros cromossomos, mas que permite que ele destine a jazida de afeto que estava ociosa em seu peito. Na verdade só os filhos adotivos são amados. Mesmo os filhos biológicos são adotados por seus pais biológicos, quando há amor e cuidado. O Psicólogo Luiz Schettini Filho costuma dizer que todo filho é biológico e adotivo: biológico porque é o único meio de se vir ao mundo e adotivo porque precisa ser amado, amparado e criado. Assim, para crescer com segurança emocional todo ser humano precisa ser adotado. Daí inexistir nenhuma distinção entre a filiação biológica e adotiva, em relação ao amor que se sente. O amor é adotivo. Se há amor, é caso de adoção, mesmo que o filho tenha sido gerado pelo pai.
Podemos, então, esquecer completamente o mito da filiação biológica como passaporte garantido para uma relação amorosa entre pais e filhos. Os abrigos abarrotados de filhos biológicos que não foram adotados por seus genitores são um testemunho trágico de que ter sido gerado por alguém não importa necessariamente na existência de amor. Os adolescentes de classe média, andando de moto e usando drogas, largados nas cidades por pais desleixados também demonstram o mesmo.
Pois então podemos ser livres para amar o diferente e celebrar os encontros de alma. Não precisamos imitar o que a natureza eventualmente negou. Pode o branco amar o negro e vice-versa, na qualidade ímpar de pai e filho, fazendo das famílias uma dádiva da brasilidade, famílias coloridas e amorosas, que escolheram o amor como elemento de liga. Quem ama adota.
http://pontesdeamor.com.br/
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