sábado, 17 de agosto de 2013

FAMÍLIAS ADQUIREM NOVOS FORMATOS


Sáb , 17/08/2013
Fabiana Mascarenhas

Há 13 anos, Renata Rebello, de 53 anos, era Ruy Cabral Rebello. Um homem que tinha um filho, mulher e família. Durante 40 anos, Ruy quis ser Renata, mas, em nome dos "bons costumes" e por medo da rejeição, resolveu escondê-la no armário.
"Eu era uma mulher no corpo de um homem. Durante 40 anos, me escondi. Entrei em depressão e no mundo das drogas. Não me sentia feliz", conta ela, que é natural de Porto Alegre.
Há 13 anos, Ruy resolveu assumir a Renata que existia dentro de si. Saiu da sua cidade natal, passou um tempo em São Paulo e depois veio morar em Salvador.
"Coloquei uma saia, um salto, uma peruca e fui para o shopping", diz ela, que, antes de tomar esta atitude, só se vestia de mulher em algumas ocasiões, na noite, com os amigos.
O nome de batismo não foi escolhido ao acaso. "Me rebatizei de Renata porque significa a renascida".
Renata hoje se considera uma mulher realizada, mas a dívida que paga, desde então, é alta. Quando permitiu que Ruy se fosse, o viu levar com ele as melhores coisas que tinha na vida: o filho - que hoje é um homem de 31 anos - e toda a família.

CUSTO
"O custo social que uma travesti paga ao se assumir é muito alto. Minha família deixou de me ter como parte dela, todos deixaram de falar comigo, meu filho diz que não tem mais pai. É muito difícil lidar com essa rejeição, mas hoje sou o que sempre me senti, uma mulher".

Assim como acontece com outras famílias, além da possibilidade de rejeição por conta de uma das partes ter assumido a homossexualidade, não é incomum que a família do casal tenha receio de que o filho - seja ele biológico ou adotivo - acabe sendo influenciado pela orientação sexual do pai ou da mãe.
"Crianças gays, assim como crianças heterossexuais, lésbicas, transexuais e bissexuais saem de todos os tipos de lar, sejam eles homoparentais, monoparentais, famílias reconstituídas, famílias tradicionais, lares adotivos ou não", afirma o psicólogo e mestrando do Grupo de Pesquisa em Cultura e Sociedade (CUS) da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Adriano Cysneiros.

Segundo ele, as pesquisas mostram que as crianças que têm a oportunidade de se desenvolver num lar mais aberto à diferença, de experimentar o cuidado atento para com suas necessidades, e decisões democráticas tomadas em grupo, têm um desenvolvimento mais saudável e mais orientado para o respeito a todas as diferenças por não reconhecê-las como ameaça.

A informação é ratificada pelo antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), Luiz Mott. "Se a lógica fosse essa, seria difícil explicar como filhos gays nascem de casais heterossexuais. A proporção, de acordo com as pesquisas, é a mesma. Em torno de 10% dos filhos de casais gays ou heterossexuais serão também gays", diz Mott, pais de duas filhas heterossexuais.
A travesti Renata Rebello, 53, diz que hoje é mais feliz
http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/materias/1526687-familias-adquirem-novos-formatos

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