ESPECIALISTAS AVALIAM QUE A ADOÇÃO NÃO RESOLVE PROBLEMA DAS CRIANÇAS VÍTIMAS DO CRACK
22/09/2013
Flávia Villela
Rio de Janeiro
A solidariedade tem proporcionado um futuro melhor à crianças filhas de
adolescentes viciadas em crack. No entanto, está longe de representar
uma solução para o problema. O técnico de rede, Djalma da Silveira
Gusmão e sua família, por exemplo, adotaram quatro crianças de uma só
vez. Eles participavam de um trabalho comunitário na favela onde morava a
mãe das crianças, usuária de crack. A decisão foi há dois anos, depois
que a filha mais nova, com apenas 17 dias de vida, foi deixada em casa
sozinha após ser jogada no chão.
“Ligaram no meio da madrugada para
nossa casa dizendo que a bebezinha tinha sido jogada no chão. Fomos até o
local, a Esterzinha [nome da criança] estava com uma fratura na cabeça e
a levamos para uma Unidade de Pronto-Atendimento. E foi aí que começou
nossa história com elas”, contou Djalma.
Quatro meses depois do
início do processo de adoção, a esposa de Djalma morreu, mas ele não
desistiu da adoção e teve a ajuda da filha de 18 anos na criação das
gêmeas, Isabelle e Isadora, hoje com 6 anos, Ester, de 2 anos, e Pietro,
de 3 anos.
“Elas quase não têm lembrança da mãe biológica, pois
eram muito novas e graças a Deus, não têm nenhuma sequela e são todas
saudáveis”, disse ele. “Fica mais complicado quando as crianças já são
maiores”, ponderou Djalma.
A história de adoção dos quatro filhos de
Djalma é uma exceção no universo de crianças filhas de dependentes de
crack, segundo a conselheira tutelar Liliane Lo Bianco.
“Na vida
real, as crianças ficam pela rua, a gente não consegue tirar. Hoje temos
um grande número de crianças que são filhas do crack. São meninas
viciadas que se prostituem para a compra da droga. O crack amortece,
despersonaliza esse sujeito”, explicou ela. “Eles criam afeto pelo
crack, que dá o que eles não têm no núcleo familiar, que é prazer,
liberdade”, acrescentou.
Para a diretora do Núcleo de Estudos e
Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad) da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (Uerj), Ivone Ponczek, é importante criar medidas para
estimular o vínculo da mãe com o bebê e evitar a perpetuação de um
ciclo de abandono.
“A adoção é uma alternativa, mas antes da adoção
temos que tentar criar vínculo com a família, por mais precária que ela
seja. Se a mãe não puder, pode ser uma tia, uma avó, alguém que exerça
essa função materna”, declarou ela, que defendeu que o vínculo materno
é, inclusive, um estímulo para a mãe abandonar o vício.
Edição: Marcos Chagas
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