PAIS E FILHOS POR ADOÇÃO: UM AMOR CONQUISTADO
Voz do Paran/2002
Lidia Natalia Dobrianskyj Weber
Psicóloga, Professora da UFPR (graduação e pós-graduação) e
Coordenadora do Projeto Criança, Mestre e Doutora em Psicologia pela
USP; membro da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB-PR
Em quase todos os tempos, culturas e civilizações sempre existiram e
sempre existirão mães que, por inúmeras razões, abandonam ou entregam os
seus filhos e, pessoas que, por não conseguirem ter filhos biológicos
ou por razões humanitárias, criam, educam, amam e reconhecem como filhos
crianças nascidas de outras mulheres. A humanidade sempre criou
diversos arranjos sociais para o estabelecimento de outros tipos de
dinâmicas familiares que não aquelas embasadas por laços de sangue.
Atualmente a adoção é compreendida como a melhor maneira para proteger e
integrar uma criança em uma família substituta.
Faço pesquisas
sobre "abandono e adoção" de crianças no Brasil há mais de dez anos e
continuo surpreendendo-me com o fato de que, apesar da adoção existir
desde os primórdios dos tempos, ainda hoje repete-se o estereótipo que
"filhos adotivos dão problemas, cedo ou tarde" ou "uma mãe nunca vai
gostar do seu filho adotivo como gostaria de um filho da barriga. Isso
tende a ser reforçado pelo sensacionalismo de casos dramáticos através
da mídia e até pela inadvertida generalização de casos clínicos por
parte de muitos psicólogos e psiquiatras, que publicam artigos e falam
em congressos que "a perda dos pais biológicos é irreparável" e,
consequentemente, determinante de todos os problemas.
A "cultura
dos laços de sangue" é tão presente que faz com que as pessoas acreditem
que estes laços são os únicos "fortes" e "duráveis" por serem
"naturais" e "verdadeiros". Quando se fala comparativamente de famílias
adotivas e não adotivas, geralmente são utilizadas as expressões:
família adotiva versus família natural; ou filho adotivo versus filho
verdadeiro, denunciando o preconceito por trás das palavras. Isso quer
dizer que a filho adotivo não é nem "natural" nem "verdadeiro"? As
pessoas perceberiam o ridículo se dissessem que o filho adotivo é
artificial e falso... Em disputas judiciais sobre a guarda de crianças,
as mães biológicas sempre têm preferência, mesmo quando abandonam seu
filho e ficam longos anos sem dar a menor notícia, como acontece
freqüentemente. Mesmo quando deixam seu filho em instituições e
internatos durante anos a fio sem sequer fazer-lhe uma visita, o
Ministério Público e o Poder Judiciário entendem que são essas famílias
as detentoras do "pátrio poder", ou seja, a tutela legal dessa criança.
Geralmente os técnicos desta área (psicólogos, assistentes sociais,
juizes) ressaltam que as pessoas que desejam adotar precisam de muita
preparação, que devem desejar muito um filho, não terem motivações
"inadequadas", tais como escolher o sexo do filho, ou não elaborar
primeiramente o "luto" de sua própria esterilidade etc., senão "a adoção
não vai dar certo". Até um certo ponto esses fatores podem contribuir
para uma relação saudável. No entanto, ninguém fala da preparação que
pais biológicos também deveriam ter. Quantas pessoas têm filhos "por
acaso", ou "para salvar um casamento", ou fazem inseminação in vitro
"para poderem escolher o sexo da criança"? Essas motivações seriam
"adequadas" simplesmente por virem de pais biológicos?
Ao longo
desses anos tenho encontrado a maioria absoluta das famílias adotivas
tão "normais" quando às biológicas, e algumas até muito mais especiais.
Gostaria de afirmar a diferença entre uma família adotiva e uma
biológica é simplesmente a contingência pela qual foram formadas, mas a
sua a essência e sua importância são exatamente as mesmas. Os pais e
filhos por adoção não são cidadãos de segunda categoria e devem
assumir-se por inteiro, sem culpa e nem vergonha. Afinal, os "laços de
sangue" e o tão falado "instinto materno" nem sempre garantem uma boa
relação. Afinal, quantas crianças são abandonadas, ou jogadas em
terrenos ou latas de lixo pela suas mães biológicas? E quantos pais
maltratam e espancam crianças "de seu próprio sangue"? Todos nós sabemos
que o amor não está condicionado a laços genéticos; mesmo o amor de
pais e filhos, sejam eles biológicos ou adotivos, é sempre construído
sendo que esta conquista pode ser a longo prazo ou pode ser um "amor à
primeira vista". Alguns depoimentos mostram essa conquista:
• Nosso amor foi um amor conquistado e o meu filho nos adotou também (Paulo, pai por adoção).
• Tenho muito orgulho de dizer que as minhas filhas são filhas do coração";
• "me sinto feliz, orgulhosa e enriquecida pelo fato de ter filhos adotados";
• "tenho orgulho em dizer que tenho um filho adotivo e voto que as
pessoas peguem carona no meu orgulho: meu filho também já tem orgulho em
dizer que é adotivo";
• "tenho prazer em dizer que minha filha é adotiva; foi um presente de Deus";
• "sinto orgulho de ser mãe, independente do meu filho ser adotivo; ser mãe é bom demais";
• Tenho muitas satisfações, realizações e gratificações em minha vida
mas nenhuma se compara a satisfação e alegria que meu filho me
proporciona (Beth, mãe por adoção).
• Eu os amo muito, muito mesmo,
meu pais e meus dois irmãos; eles sempre me trataram como a princesa da
casa. São ótimos, e eu não vivo sem eles (Roberta, 13 anos, filha por
adoção).
• Sinto amor por meus pais. Fui gerada no coração deles! (Maria, 15 anos, filha por adoção).
• Tirando a parte genética completamente, não conseguiria me imaginar
com outros pais nem mesmo os biológicos (Bruno, 16 anos, filho por
adoção).
Recentemente defendi minha Tese de Doutorado sobre adoção
no Brasil (pela Universidade de São Paulo) e está publicada em livro –
PAIS E FILHOS POR ADOÇÃO NO BRASIL, Editora Juruá (2001). O tema é ainda
pouco explorado de maneira empírica em nosso país e esta pesquisa
desmistifica algumas questões arraigadas pelo imaginário da população.
A pesquisa para a tese foi realizada com 400 pais adotivos, filhos
adotivos e filhos biológicos que têm irmãos adotivos, moradores de 17
Estados e 105 cidades diferentes do Brasil. A análise dos resultados
mostrou as características da população de famílias adotivas no Brasil,
abrangendo suas motivações e sentimentos acerca do processo de adoção e
verificou a existência de algumas relações entre as diferentes variáveis
descritas de uma forma geral. O quadro seguinte mostra alguns mitos e
asa verdades encontradas na pesquisa empírica:
MITOS
Filhos adotivos sempre têm problemas
Pais adotivos preferem não revelar a adoção para o filho
Filhos adotivos sempre pensam na família de origem e querem conhecê-la
Escolher a criança a ser adotada facilita o vínculo afetivo
A motivação para a adoção é sempre a infertilidade
A motivação para adoção é fundamental para o sucesso da adoção e adoções "por caridade" não" dão certo
Somente pessoas ricas podem adotar
Pessoas mais esclarecidas são menos existem e têm menor preconceito
Os adotantes preferem bebês recém-nascidos
Adotar deve ser natural e não é preciso preparação especial
Atualmente as adoções são através do sistema legal
Atualmente ninguém mais discrimina os adotivos
Filhos adotivos de cor de pele diferente têm mais problemas em relação à discriminação
Pais que têm filhos biológicos e adotivos têm sentimento maior pelos biológicos
É melhor a criança adotada não saber de sua adoção
É melhor não falar muito do assunto com o filho adotivos para não potencializar a importância da origem
Adotantes que adotaram legalmente tem opinião positiva sobre os Juizados
Filhos adotivos têm dificuldade em amar seus pais adotivos
VERDADES
O filho adotivo não tem dificuldades na escola, nem com a educação ou relacionamento afetivo
Os pais adotivos contam sobre a adoção, mas não gostam de falar sobre isso com mais freqüência com seu filho
O filho adotivo não quer ter muitas informações nem conhecer a família
biológica, mas quer conversar com os pais adotivos sobre a adoção
A escolha da criança não determinou maior ou menos qualidade no relacionamento afetivo
63% dos adotantes adotaram por infertilidade e 37% alegaram motivações altruístas = ajudar a criança
A motivação (altruísmo ou infertilidade) não determinou melhor relacionamento afetivo
Existem adotantes em todas as faixas econômicas, mas há predomínio de
pessoas com melhor poder aquisitivo e melhor condição sócio-cultural
São os adotantes de menor poder aquisitivo e nível sócio-cultural que
mais fizeram adoções altruístas e apresentaram exigências menores em
relação à criança. A proporção de pessoas das religiões espíritas e
protestantes é mais alta entre os adotantes do que na população em geral
Sim, os adotantes adotam bebês até 3 meses (71%), com leve preferência por meninas de cor branca e saudáveis.
Os adotantes e filhos adotivos afirmam que é fundamental ter uma preparação para a adoção
52% das adoções é legal – feita nos Juizados e 48% são adoções informais – registro da criança como filho biológico
Famílias por adoção sofrem discriminação e os filhos afirmam que ela
vem quase sempre da família extensa e dos amigos e não de estranhos
A cor da pele da criança adotada não trouxe maior discriminação ou tratamento preconceituoso
Pais e filhos biológicos afirmam que o tratamento é igual, mas os
filhos adotivos dizem que, às vezes, os biológicos tem melhor tratamento
Um dos maiores problemas encontrados na famílias foi quando houve
ocorrência de revelação tardia (após os 6 anos) e/ou inadequada (feita
por terceiros)
Os pais devem sentir-se confortáveis, falar disso com
o filho adotivo. Filhos adotivos dizem que o "diálogo" é um fato
importante para o sucesso da relação adotiva.
Tanto aqueles que fizeram adoções legais quanto informais, tem uma imagem negativa dos serviços de adoção dos Juizados
92,5% dos filhos adotivos afirmaram amar seus pais; os pais adotivos
citam o atributo "ser afetivo" como o principal em seus filhos adotivos
RESUMO DOS RESULTADOS
1. OS ADOTANTES
Apesar de o método de amostragem utilizado nesta pesquisa não oferecer
garantias de que ela represente a população brasileira de adotantes e
adotados, os dados que utilizamos incluíram famílias adotivas de 17
Estados e 105 cidades brasileiras, o que representa grande diversidade
da amostra. Este dados mostram padrões e tendências homogêneas acerca do
procedimento e comportamento da família adotiva brasileira.
• Estado civil dos adotantes: casados (88,5%);
• Idade dos adotantes: a idade média da mãe adotiva no momento da adoção era de 32 anos e do pai adotivo, 37 anos;
• Cor da pele dos adotantes: 96,2% das mães e 85,5% dos pais são brancos;
• Religião: predomina a religião católica (65,2%); os adotantes
protestantes (17,8%) e os espíritas (1,5%) estão representadas nas
família adotivas pesquisadas em maior número do que na população em
geral (10,0% e 1,5%, respectivamente);
• Escolaridade dos pais
adotivos: aproximadamente metade das mães adotivas (50,4%) e dos pais
adotivos (48,4%) está cursando ou possui curso superior;
• Renda
salarial familiar: é bastante variada, encontrando-se famílias cuja
renda é de três salários mínimos mensais até famílias com mais de 100
salários mínimos mensais. A maioria das famílias adotantes (72,5%)
possui renda familiar variando entre 3 e 30 salários mínimos mensais;
• Profissão dos adotantes: as mães adotivas dividem-se em profissões
que exigem nível superior (34,2%), em outras profissões de nível
primário ou secundário (30,7%), não exercerem atividade remunerada fora
do lar (27,3%) ou estão aposentadas (5,0%). Em relação aos pais
adotivos, 31,3% deles exercem atividades profissionais que exigem nível
superior; 57,7% dos pais têm uma profissão que exige nível primário ou
secundário e 8,7% estão aposentados. É interessante observar que 87% das
mães adotivas solteiras têm curso superior e profissão compatível com a
escolaridade;
• Existência de filhos biológicos: aproximadamente
metade (49,2%) das famílias adotivas desta pesquisa têm filhos
biológicos, sendo que 84,2% dos filhos biológicos foram gerados antes da
adoção;
• Motivo para não ter filhos biológicos: dentre os
adotantes pesquisados que não tinham filhos biológicos, 79,8% afirmaram
que não geraram filhos por questões de infertilidade ou esterilidade;
8,9% são solteiros; 6,5% afirmaram que optaram por não ter filhos
biológicos e 4,8% relataram "outros motivos";
• Número de filhos
adotados: a maioria dos adotantes (54,4%) adotou somente uma criança e
45,6% adotaram duas ou mais crianças:
• Idade da criança adotada: a
maioria absoluta dos adotantes (71,4%) adotaram um bebê com até três
meses de idade; 13,8% adotaram crianças até dois anos de idade
(consideradas adoções precoces). Houve, portanto, somente 1,8% de
adoções de crianças com mais de 2 anos de idade (consideradas adoções
tardias);
• Idade máxima com que uma criança pode ser adotada:
27,9% dos pais adotivos afirmaram que uma criança pode ser adotada com
qualquer idade, mas sua exigência foi um bebê com até três meses de
idade;
• Cor da criança adotada: a maioria absoluta (70,5%) adotou
uma criança de cor branca; 23,8% adotaram uma criança de cor parda; 5,3%
adotaram uma criança de cor negra e 0,4% adotou uma criança de cor
amarela. Como a adoção de uma criança mestiça por adotantes brancos é
considerada, no Brasil, como adoção inter-racial, houve 27,9% de adoções
inter-raciais se for considerada a cor da pele da mãe e, 25,7%, se for
considerada a cor da pele do pai; desse total de adoções inter-raciais,
somente 4,1% foram de adotantes brancos e crianças negras Entre os
adotantes pesquisados houve somente 8,1% de casamentos inter-raciais,
enquanto a média da população brasileira é de 22,6% (dados do IBGE,
citados no Jornal Folha de São Paulo de 23/10/00).;
• Saúde da
criança adotada: a maioria absoluta de crianças era perfeitamente
saudável (74,9%); os outras possuíam algum problema de saúde no momento
da adoção, mas este era, geralmente, sem gravidade, tal como sarna,
anemia ou desnutrição;
• Gênero da criança adotada: a preferência
por meninas (56,6%) em relação a meninos (43,4%) não é estatisticamente
significativa;
• Período de tempo transcorrido desde a primeira
adoção: a maioria dos adotantes (55%) realizaram a primeira adoção há
mais de cinco anos.
Os adotantes brasileiros são geralmente casais
de cor de pele branca, idade média de 34 anos, religião católica mas com
uma tendência maior de a adoção ocorrer entre espíritas e protestantes
quando se leva em conta a proporção deles na população; aproximadamente
metade das mães e dos pais adotantes possuem nível superior, o que
representa um perfil de escolaridade muito superior à população; a renda
familiar média é de 25 salários mínimos o que também representa um
nível econômico superior à distribuição da população; a maioria absoluta
das mães e dos pais adotivos tem atividade remunerada e exercem
profissões que exigem nível de escolaridade secundário ou superior; as
mães pesquisadas apresentaram maior nível de escolaridade do que os
pais. É possível encontrar famílias adotantes em todos os níveis sociais
e de escolaridade, mas como os adotantes com nível de escolaridade
superior e com renda acima de 30 salários mínimos estão super
representados entre os adotantes em relação à população em geral, é
possível concluir que há uma forte tendência para a adoção ocorrer com
pessoas de maior poder aquisitivo e de maior escolaridade
Aproximadamente 8% da população brasileira possui nível de escolaridade
superior de acordo com o IBGE. . Aproximadamente 51% das famílias não
têm filhos biológicos por problemas de infertilidade e adotam uma ou
duas crianças. Os adotantes brasileiros adotaram, em maioria absoluta,
bebês de até três meses de idade, brancos, saudáveis e com uma leve
preferência pelo gênero feminino.
Os adotantes dizem que adotam por
problemas de infertilidade e, por isso, querem um bebê parecido com sua
família, "porque existe muito preconceito dos outros", e que "possa ser
cuidado desde pequenininho para poder sentir tudo o que tenho direito,
até noites sem dormir". Também preferem crianças saudáveis porque "não
têm habilidade emocional, tempo ou dinheiro para cuidar de crianças com
problemas". Muitos daqueles que já possuíam filhos biológicos resolveram
adotar por causa de infertilidade apresentada na segunda gestação ou
novo casamento. Os adotantes preferem adotar crianças mais novas, mas
existe um bom número que acha que é possível adotar crianças com
qualquer idade. É preciso trabalhar e preparar a população de adotantes
para essa situação. O padrão de adotantes e de crianças adotadas é
bastante homogêneo e é o que se considera "adoção clássica", ou seja, a
adoção que visa à satisfação das necessidades dos adultos. Os adotantes
simplesmente cadastraram-se e ficaram esperando o bebê ideal, ou
procuraram intermediários para realizar uma adoção informal.
2. OS FILHOS ADOTIVOS E BIOLÓGICOS QUE RESPONDERAM À PESQUISA
Idade média de 16 anos, solteiros, sem filhos biológicos ou adotivos, cursando o segundo grau ou curso superior.
A maioria absoluta gostou de participar desta pesquisa: "pude mostrar
que nem todo filho adotivo é problemático, isso é papo furado de quem
não entende do assunto"; "meus amigos ficam perguntando e enchendo de
como é ser filho adotivo e nem ligo mais, gostei de falar com vocês";
"tenho orgulho de ter um irmão adotivo"; "no começo foi difícil a vinda
do meu irmão, fiquei até com ciúmes, mas agora somos irmãos de verdade".
3 ADOÇÃO LEGAL OU INFORMAL
Embora nesta amostra aqui
utilizada praticamente metade das adoções tenham sido legais e metade
informais, estima-se que na população o número de adotantes informais
seja superior aos adotantes legais, pois muitas adoções informais são
realizadas completamente em segredo e estes adotantes, por conseqüência,
não participam de pesquisas. Além do mais, o grande número de abandono
de bebês em nossos país e a imagem negativa que a população tem do Poder
Judiciário, no que tange às adoções, e a falta de campanhas para
conscientização, também determinam esse tipo de adoção. No entanto, a
tendência é que o número de adoções informais esteja em franca
diminuição por causa da maior facilidade para adoção legal proporcionada
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Os adotantes legais e
informais desacreditam e reclamam do trabalho dos Juizados da Infância e
da Juventude, e adoções legais e ilegais são feitas tanto nas capitais
quanto nas cidades do interior, mas os dados mostram que existe
preferência dos adotantes legais com maior poder aquisitivo de
realizá-las fora do seu Estado de moradia. Baixo nível de escolaridade e
baixa renda familiar dos adotantes estão correlacionados com adoções
informais.
4 MOTIVAÇÃO PARA A ADOÇÃO
A maioria absoluta
dos adotantes adotam uma criança para resolver um problema de
infertilidade, mas o número de adoções altruístas, mais características
de países desenvolvidos, está em ascendência. Quem tem motivação mais
altruísta acha que não se deve escolher a criança, mas ficar com a
criança designada e apresenta menor tendência de fazer exigências em
relação às características físicas da criança a ser adotada, mas, assim
como quem adotou por infertilidade, tem receio de adotar uma criança que
viveu muitos anos em instituições. A comparação de adotantes de
religião católica, protestante e espírita revela que, ao contrário dos
católicos, os protestantes e espíritas apresentam maior tendência a
realizar adoções altruístas. São os adotantes de menor renda familiar
que apresentam maior tendência de realizar uma adoção por solidariedade.
A motivação para a adoção (infertilidade ou altruísmo) não
apresentou relação com a dificuldade no relacionamento afetivo, nem com a
educação do filho adotivo, mas os pais adotivos motivados pelo
altruísmo tendem a ser mais críticos em relação a seus filhos,
atribuindo-lhes maior número de atributos negativos do que os pais cuja
motivação foi a infertilidade.
Os adotantes adotam porque querem
exercer a parentalidade: "era meu grande sonho ser mãe e agora estou
realizada"; "quando descobrimos que não poderíamos ter filhos,
resolvemos adotar, mas antes passamos por tratamentos dolorosos e acho
que deveria ter adotado antes; "casei novamente e tive dificuldade de
ter outro filho, então resolvermos adotar". Muitas pessoas fazem uma
adoção por motivos altruístas: "deixaram uma criança na porta da minha
casa, como não ficar com ela? Agora estamos completamente apaixonados";
"Penso que mais pessoas deveriam adotar essas crianças que estão nos
orfanatos"; "Era uma prima que não podia cuidar daquela criança e nós
ficamos com ela". Os filhos adotivos acham que seus pais decidiram pela
adoção porque não podiam ter filhos: "meus pais queriam ter uma menina";
e os filhos biológicos pensam que seus pais fizeram uma adoção por
solidariedade: "eles queriam ajudar uma criança ter um lar".
5 ATITUDES DA FAMÍLIA ADOTIVA EM RELAÇÃO À ADOÇÃO
Os filhos adotivos e filhos biológicos que têm irmãos adotivos
apresentam um discurso no qual afirmaram, com maior freqüência, que
desejam adotar uma criança, mas ficaram em dúvida em relação ao desejo
de gerar filhos naturais. Essa pode ser uma fala socialmente correta,
pois contrasta com a opinião dos filhos adotivos, que vêem a adoção, em
primeiro lugar, como uma solução para a infertilidade. Os adotantes
estão divididos em relação à importância de se escolher a criança a ser
adotada, mas a maioria afirmou que não fez exigências. Aqueles que
determinaram as características do adotado preferiram um bebê, branco e
saudável. No entanto, não foi a escolha da criança que determinou maior
ou menor dificuldade no relacionamento afetivo. Os filhos adotivos e
biológicos não pretendem fazer exigências, caso decidam adotar. Filhos
adotivos insatisfeitos não têm intenção de adotar uma criança, mas
aqueles que pretendem adotar justificam a adoção quando houver
infertilidade, reproduzindo o modelo de seus pais.
A história de
adoção afeta a probabilidade de adotarem uma criança: tantos os filhos
adotivos quanto os filhos biológicos de famílias mistas falam mais
freqüentemente de adotar um filho do que de procriar: "eu gostaria de
adotar uma criança que não tivesse família, como aconteceu comigo"
(Filho adotivo); "penso que a adoção deve ser parte do planejamento
familiar" (filho biológico). A questão da escolha é subjetiva e não se
sabe exatamente o se limite: "nós não escolhemos nada, só a idade e a
cor da pele"; "eu acho que a gente deveria poder ir até o orfanato e
escolher a criança que tiver mais empatia"; "eu queria uma menina loira
como eu e ganhei uma mulata que eu adoro".
6 IDÉIAS E OPINIÕES EM RELAÇÃO À ADOÇÃO
A maioria dos adotantes afirmaram que não tem medo que características
hereditárias possam afetar o comportamento dos filhos adotivos, mas o
número de adotantes que concordaram que "não adotariam um criança que
fosse filho de marginais porque isso poderia passar para a personalidade
do filho", já é suficiente para se afirmar que é preciso preparar os
adotantes e esclarecer noções de hereditariedade e de comportamento,
pois, além de tudo, acham que se deve escolher a criança para minimizar
esse aspecto. A noção de que a adoção inter-racial é mais fácil do que a
adoção de uma criança com deficiência prevaleceu, mas o discurso,
especialmente dos pais adotivos, não condiz com sua prática. Por outro
lado, os filhos adotivos que afirmaram ser possível uma adoção
inter-racial têm pele parda ou negra. Embora os adotantes tenham
afirmado que não teriam medo de uma adoção inter-racial, novamente o
discurso não condiz com o tipo de adoção realizada. Todos da família
adotiva acreditam que uma criança pode se recuperar depois da adoção,
mesmo tendo sofrido em sua história anterior, mas os filhos adotivos,
mais freqüentemente, do que pais e irmãos, pensam que existem aspectos
que nunca serão superados mesmo com uma adoção feliz. Embora tanto os
filhos adotivos quanto biológicos afirmem que o tratamento recebido foi
igual, existe maior tendência dos filhos adotivos de sentirem-se
negligenciados em favor dos filhos biológicos.
O discurso dos
adotantes não condiz com sua prática: "claro que é possível adotar uma
criança com qualquer idade", disse uma mãe que adotou um bebê de um mês e
que fez tal exigência. Na verdade, os adotantes apresentaram mais um
discurso socialmente correto, lembrando o direito de todas as crianças
de terem uma família. No entanto, é melhor ter um discurso correto do
que nem apresentar discurso nem comportamento, ou seja, é possível supor
que os participantes estariam dispostos a adotar crianças mais velhas,
de cor, ou mesmo com problemas de saúde, caso eles tivessem sido
expostos a estas situações, ouvido depoimentos, participado de reuniões
de preparação e conscientização, como revela uma adotante: "nós
queríamos uma menina recém-nascida. Já tínhamos filhos biológicos.
Depois de freqüentarmos um Grupo de Apoio à Adoção e visto outras
histórias, adotamos três irmãos, com 2, 3 e 6 anos de idade. Somos
inseparáveis e felizes!" O receio, tanto da "voz do sangue" como das
seqüelas da institucionalização, existe. Este receio da
institucionalização não é de todo infundado, como mostram diversos
estudos sobre o tema, desde o primeiro estudo de Burlingham e Freud
(1942) com crianças órfãs institucionalizadas. Mas, alguns pensamentos
sobre a possibilidade de um comportamento marginal dos pais passar para
os filhos não tem qualquer fundamento e precisa ser cuidadosamente
esclarecido: filho de ladrão não terá genes que determinem o
comportamento de roubo, furto ou assalto. Não existem estudos nacionais
sobre o desenvolvimento longitudinal de crianças adotivas, e a
comparação com estudos internacionais precisa ser sempre cuidadosa,
porque a realidade da adoção é bastante diferenciada em diferentes
países e culturas. Thorburn (1994) realizou um estudo longitudinal
durante 10 anos com crianças adotadas e encontrou uma taxa de rompimento
de 10% para aquelas crianças que foram colocadas antes dos 4 anos e de
40% para aquelas que tinham mais de 8 anos.
7 CONDIÇÕES ÓTIMAS PARA UMA ADOÇÃO
Pais adotivos enfatizam mais atributos pessoais e subjetivos como
condições essenciais para pessoas que desejam adotar uma criança e para o
sucesso da relação, enquanto filhos adotivos falam da necessidade de
condições financeiras, responsabilidade e diálogo. Os pais, filhos
adotivos e biológicos admitem a necessidade de uma preparação para quem
deseja ter um filho, ao contrário do que ocorreu em sua história de
vida; os filhos adotivos enfatizam que deveria haver campanhas
incentivando mais pessoas a adotar uma criança, mas não sabem avaliar o
trabalho dos Juizados da Infância e da Juventude, enquanto seus pais
avaliam negativamente este trabalho.
Existem algumas diferenças
interessantes entre o discurso de pais e de filhos adotivos no que
concerne à avaliação de pessoas aptas para adotar e de fatores que
contribuem para o êxito de uma relação: "uma pessoa deve ter muito
equilíbrio em sua vida para poder adotar uma criança", dizem os pais; "é
preciso ter boas condições para educar e criar uma criança", dizem os
filhos. No entanto, para o sucesso da relação, todos falam em "amor" e
poucos falam de construção da relação, de ações concretas, como contar a
verdade ao filho, aceitar as diferenças ou os outros, e,
contraditoriamente, falam que uma preparação é importante, mas não
passaram por nenhum tipo de preparação prévia. Os adotantes que
afirmaram ter feito alguma preparação, o fizeram com amigos, vizinhos ou
particularmente: "conversei muito com meus amigos e com meu médico";
"meditei muito sobre o que eu queria fazer". Na verdade, alguns tipos de
conversas com pessoas não especializadas podem até acentuar e perpetuar
mitos e preconceitos: "meu médico aconselhou uma adoção porque, desta
forma, seria mais fácil eu conseguir engravidar", afirmaram algumas
mães; "muitas pessoas me falaram bobagens e casos catastróficos e diziam
que eu só teria problemas com a adoção", ressaltou um pai adotivo; "no
começo eu achava que uma mulher sozinha não pudesse adotar porque todos
falavam isso, e agora sou mãe solteira de minha filha adotiva".
O
que é possível perceber é que a preparação para adotantes é um tema
indispensável até porque muitos já fizeram suas próprias investigações
que nem sempre trazem resultados positivos. Os adotantes que ouviram
depoimentos de outras pessoas que já passaram pela adoção conseguem
entender melhor todo o processo e compreender suas próprias motivações e
expectativas. Se essa preparação for realizada pelos técnicos dos
serviço de adoção dos Juizados, ela também pode servir como uma etapa
inicial de conhecimento do candidato.
8. DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO E RELACIONAMENTO DOS FILHOS ADOTIVOS
Segundo as respostas mais freqüentes apresentadas nesta pesquisa, os
pais adotivos, seus companheiros e possíveis filhos biológicos têm ótimo
relacionamento com o filho adotivo, estão satisfeitos com o desempenho
escolar e com os atributos físicos e de personalidade de seus filhos;
não tiveram dificuldades na educação nem no relacionamento afetivo, e
aqueles que as tiveram não as relacionam com a adoção, argumentando,
inclusive, que os problemas foram equivalentes entre filhos adotivos e
biológicos; têm uma visão otimista da relação; estão satisfeitos com o
rumo de sua vida e nada fariam para alterá-la e aconselham outras
pessoas a adotarem uma criança.
Muitos pais assumem que não estavam
absolutamente preparados para receber uma criança adotiva em sua
família, especialmente quando a criança não era mais um bebê, e o relato
de dificuldades na educação trouxe junto dificuldades no relacionamento
afetivo: "fiquei assustada e com medo de não gostar tanto da minha
filha adotiva quanto do meu filho da barriga" (Mãe que adotou uma menina
de 1 ano); "ele já veio com hábitos da instituição, não sabia comer
direitinho..." (Mãe que adotou um menino de 3 anos); "fiquei com medo de
que herdasse comportamentos de sua família" (Mãe que adotou uma menina
de 2 anos). Porém, a maioria dos adotantes, especialmente aqueles com
problemas de infertilidade, realizaram um sonho e estão satisfeitos e
têm uma visão ótima do futuro: "meu sonho era ser mãe e estou
realizada"; "não consigo pensar em uma alegria maior no mundo do que meu
filho adotivo"; "estou feliz por ter ajudado uma criança a viver em uma
família"; "encontrei minha filha em um terreno ao lado da minha casa,
mas ela é a minha alegria, o meu tudo"; "com meu segundo filho adotivo,
tudo foi mais fácil".
9 PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO SOCIAL PELA FAMÍLIA ADOTIVA
Os filhos adotivos consideram que as pessoas em geral discriminam os
adotados, mas não sabem por que isso ocorre e, contraditoriamente, a
maioria afirmou que eles próprios nunca sofreram atos de discriminação,
mas para aqueles que a sofreram, ela veio não de pessoas desconhecidas,
mas da família e dos amigos, revelando o tamanho do preconceito social
em relação às pessoas adotadas, sendo que a cor da pele do filho adotivo
não tem relação com o fato de ele ser mais ou menos discriminado. Um
quarto dos filhos adotivos sente vergonha com sua situação e este fator
não está relacionado com a sua cor da pele: de 10 crianças negras
adotadas por pais pardos ou brancos, somente uma afirmou sentir vergonha
de ser filho adotivo. A maioria dos filhos adotivos estão satisfeitos
com a sua aparência, sejam eles parecidos ou não com a família adotiva.
Um fator interessante que trouxe risco na educação do filho adotivo,
refere-se ao tratamento discriminativo de outras pessoas da família ou
não, pois os filhos adotivos que mais sofreram preconceitos, foram
aqueles cujos pais reportaram dificuldades em sua educação. O inferno,
realmente, são os outros, como disse ironicamente Sartre (1947), e é
preciso uma ampla conscientização da adoção como uma contingência
legítima de constituição ou aumento de uma família.
De maneira
geral, os pais adotivos e os filhos biológicos sentem-se mais orgulhosos
com a adoção do que o filho adotivo, que não se referiu a este orgulho:
"eu tenho orgulho de dizer que tenho um irmão adotivo"; "nunca tenho
vergonha de falar da adoção, pelo contrário, meu filho adotivo é o
orgulho da minha vida". Boa parte dos filhos adotivos ressente-se das
discriminações: "a maioria das pessoas trata o adotivo de forma
diferente, nem sei por que, acho que por falta de cultura"; "tem um tio
meu que fala que eu não sou da família porque não tenho o mesmo sangue";
"os amigos ficam perguntando e eu me sinto incomodado"; "procuro não
falar muito que sou adotado, as pessoas olham pra você de um jeito
diferente". Poucos filhos adotivos falam que gostariam de ser mais
parecidos com sua família adotiva, mas aqueles que são parecidos
fisicamente gostam disso: "as pessoas até falam que eu pareço muito com o
meu pai e eu gosto"; "somos diferentes em tudo, até na cor da pele, mas
amor não tem padrão de cores, tem?"; "eu acharia chato ser muito
diferente deles"; "eu gostaria de ser mais parecida, e ter olhos verdes
como a minha mãe".
10 A REVELAÇÃO DA ADOÇÃO
Contar para o
filho "desde sempre" é a melhor maneira para que ele encare a situação
como boa e que isso seja natural em sua vida. Contar tardiamente trouxe
reações negativas e o sentir vergonha está relacionado com a idade em
que a criança soube de sua adoção, ou seja, a revelação tardia trouxe
maior sentimento de vergonha, pois a criança passa a entender que, se
foi escondido, não deveria ser um fato muito bom. Geralmente é a mãe que
tomou a iniciativa quando seria um assunto que deveria ter sido
apresentado pelo casal.
Todos estão de acordo de que contar a
verdade sobre a adoção é fator fundamental para a construção de uma
relacionamento verdadeiro na família por adoção. No entanto, os pais e
os filhos percebem a revelação como importante porque saber "mais tarde"
pode ser pior, ou seja, não é pelo direito da criança, pela importância
na formação de sua identidade, mas porque isso pode ser uma
comportamento de esquiva de uma situação aversiva no futuro. Assim, em
muitas vezes a revelação está sendo adiada e, conseqüentemente, ocorre
de maneira inadequada, feita por terceiros e/ou tardiamente: "fiquei
sabendo por um vizinho, quando tinha 13 anos e foi horrível"; "fiquei
chocada quando soube, eu não esperava uma mentira dessas"; "ficamos com
medo de contar e ela nos rejeitar"; "eu queria passar uma borracha em
seu passado".
11 FAMÍLIA DE ORIGEM DO FILHO ADOTIVO
Os
filhos adotivos e biológicos concordam que conhecer a história de origem
do adotado é importante, No entanto, os pais adotivos (especialmente
quando este têm somente filhos adotivos e não biológicos) têm muitas
dúvidas sobre a importância dessa história e isso pode ser um ambiente
propício para criar um clima de ambivalência e insegurança em algumas
famílias adotivas. Os filhos querem saber um pouco mais sobre suas
histórias, embora todos os detalhes não sejam importantes, mas querem
conversar mais com seus pais sobre isso, e os pais têm receio de que
essas conversas possam influenciar o comportamento de seu filho. Com
isso, os filhos afirmam que não têm muito interesse nas próprias
histórias, mas muitos não conversam simplesmente para não magoar seus
pais ou deixaram a questão sem resposta, mostrando dificuldade em
respondê-la. Os dados mostram que as informações sobre a família de
origem do filho adotivo resume-se a uma mãe sozinha e financeiramente
carente, mas estes filhos imaginam, de forma mais romântica, um casal
que os abandonou por amor, por falta de condições financeiras, assim
como afirma Costa (1988, p. 212): "o estigma de mãe solteira e a
composição da família da doadora explicariam, no caso, a doação. A
decisão também estaria assentada no reconhecimento de que, sem condições
econômicas e nem morais para ficar com seu filho (temendo, como teme, a
reação da família que desconhece a sua gravidez), essa mulher termina
por entregar o fruto de seu 'deslize' (ou 'pecado') para que uma
'família boa' (i.é. de classe média, abastada) possa criá-lo. A doação
se configura então como um ato de amor da mãe".
Os pais adotivos
gostariam de esquecer que existe uma outra origem para seus filhos
adotivos: para eles é doloroso falar disso, especialmente quando o
motivo foi infertilidade, porque a todo momento o filho adotivo lhes
lembra da sua impossibilidade de gerar um filho do "próprio sangue" e
até mostram a sua raiva com essa origem e recusam-se a chamar de
"família" ou mesmo de "mãe": "eu não acho que ele teve outra mãe, mas
somente uma barriga que o rejeitou"; "família é a nossa, e a gente não
precisa ficar falando de outra, que nem acho que é família"; "eu tenho
raiva em pensar que a minha filha foi abandonada". Os filhos sentem a
ambivalência dos pais sobre o tema e sentem-se inseguros: "eu queria
saber algumas coisas, mas tenho medo de magoar meus pais, porque sou
feliz com eles"; "não quero deixar meus pais adotivos tristes".
12 SENTIMENTOS SOBRE A FAMÍLIA DE ORIGEM
Ao contrário do que supõe o senso comum, de que "o filho adotivo tem
uma fixação em sua família biológica", a maioria absoluta dos filhos
adotivo não tem informações sobre sua família de origem, não quer
conhecê-la e nem acha importante ter informações. A maioria dos filhos
adotivos afirmaram que não sentem nada por sua família de origem e se
pudessem falar alguma coisa para ela, falariam que estão felizes com sua
família adotiva ou perguntariam o motivo do abandono.
A maioria
absoluta não tem raiva de sua família de origem, mesmo porque já a
idealizou como uma família pobre que os abandonou por falta de condições
financeiras, mais do que por falta de amor: "acho que eles eram muito
pobres, mas eu diria que estou bem demais"; "eu agradecia a eles por
terem me dado a vida"; "eu nem penso neles, eles me rejeitaram e estou
super feliz aqui"; "a minha mãe verdadeira e meu pai verdadeiro são
esses que me criaram"; "não tenho outra família além dessa que eu
adoro".
13 SENTIMENTOS E DINÂMICA FAMILIAR ATUAL DA FAMÍLIA ADOTIVA
Os filhos adotivos sentem-se parecidos com sua família adotiva, tanto
fisicamente quanto no temperamento, acham que a mudança de sua vida foi
para melhor depois da adoção, a maioria não se sentiu tratada de forma
diferente que outros filho biológicos de seus pais, têm bom
relacionamento com a família adotiva extensa, apesar de haver relatos de
dificuldades com parentes e irmãos que são filhos biológicos dos pais
adotivos. Os filhos adotivos imaginam-se em situação miserável se não
tivessem sido adotados, relacionam a adoção com "amor" e amam seus pais
adotivos e os percebem como seus pais "verdadeiros".
A maioria
absoluta dos filhos adotivos estão completamente satisfeitos com sua
família adotiva: "eu adoro meus pais, mais do que tudo"; "sinto amor
mesmo, nossa, não me vejo sem eles"; "eles são tudo para mim"; "a gente
nem se lembra da adoção"; "não me sinto 'adotiva', me sinto filha de
verdade e nem penso muito nisso"; "foi bom responder esse questionário,
para mostrar que filho adotivo não é todo problemático"; "as pessoas
discriminam e nem sabem do que estão falando; amor a gente constrói e
não vem pelo sangue".
É possível afirmar que as famílias que adotam
crianças no Brasil fazem-no para resolver problemas pessoais de
esterilidade ou infertilidade; não são adequadamente preparadas para
este papel pelos Serviços de Adoção; ressentem-se dos preconceitos
existentes sobre adoção, mas podem ser tão felizes quanto as famílias
com descendentes biológicos. Se ainda existem inúmeros problemas com a
adoção no Brasil, isso indica que temos muito ainda que estudar e que,
especialmente nós, psicólogos, devemos traçar estratégias de
intervenção, porque não tenho dúvida de que mesmo a experiência de
problemas, discriminações, preconceitos, lutas, encontros e desencontros
com sua história de origem, trazem menos dor e sofrimento do que o
desamparo de uma criança abandonada em uma instituição.
http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id190.htm
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