A incrível história do casal que adotou gêmeas com um bebê a caminho no ventre
Foto: Arquivo Pessoal
Há quanto tempo estava tentando engravidar quando decidiu adotar uma criança? Como foi tomar essa decisão de partir para a adoção?
Após mais ou menos um ano na tentativa de engravidar naturalmente, passamos a pensar na adoção, já que sabíamos da nossa dificuldade: Álvaro, meu marido, já havia tentado ter filhos no seu primeiro casamento e, mesmo com reprodução assistida, não conseguiu. Como ele não queria passar por aquela experiência novamente, optamos pela adoção. Sabíamos que o processo seria lento e que não teríamos filhos biológicos, então decidimos que adotaríamos dois, pois não queríamos filho único. Não especificamos que os irmãos teriam que ser gêmeos, apenas que deveriam ter até dois anos de idade.
Quanto tempo levou o processo de adoção até você saber que poderia adotar as gêmeas? Em que momento se descobriu grávida do Francisco?
O nosso processo foi muito rápido. Foram apenas oito meses desde a entrega dos documentos até conhecermos as meninas. Soube que estava grávida em abril de 2008, enquanto ainda estava em avaliação pela psicóloga do fórum. Ainda não havíamos conhecido as meninas. Isso aconteceu aos quatro meses de gestação. Tinham então 1 ano e 2 meses. Foi um momento muito forte. Já haviam nos alertado de que a Mariana era difícil de lidar, estranhava muito as pessoas. Mas quando ela me viu pela primeira vez, desceu do colo da cuidadora, veio andando em minha direção e estendeu os bracinhos. Até as funcionárias do abrigo ficaram emocionadas! Começamos então a visitá-las todos os dias enquanto a papelada continuava correndo. Logo depois, passamos um aperto. A assistente social soube que eu estava grávida e interrompeu o processo de adoção. Entrei em desespero! Mas na mesma tarde um juiz avaliou o caso e permitiu que déssemos continuidade ao processo.
Qual foi a sensação a partir de então? Você tinha um filho a caminho na barriga e estava recebendo duas filhas por outro caminho, o caminho da adoção. Em algum momento achou que não fosse dar conta da situação?
Fiquei muito feliz quando me ligaram e disseram que havia duas meninas para conhecermos. Lembro que tremia, do mesmo modo que tremi quando soube que estava grávida. Na verdade, nem pensei se daria conta ou não, achei que era para ser e pronto. Fui com a cara e a coragem. Não passou pela nossa cabeça desistir da adoção quando engravidei porque ficamos extasiados. E tínhamos medo de que a gravidez não vingasse. As meninas vieram para casa em julho de 2008, com 1 ano e 3 meses, e Francisco nasceu em dezembro daquele ano. Foi uma loucura!
A construção do vínculo entre a mãe e o bebê é algo muito particular. Cada mulher o estabelece de uma maneira diferente com cada filho. Como isso se deu no seu caso? Num primeiro momento, houve alguma diferença no processo de vínculo que se estabelecia com cada um dos três?
Sim, o processo de vínculo foi diferente com cada filho. O Francisco já era desejado e amado antes mesmo de eu engravidar, era o maior sonho da minha vida se realizando. Foi amado desde sempre. Com as meninas não, eu fui construindo no convívio o meu vínculo com elas. Com a Marisa, isso veio aos poucos. Já com a Mari foi mais natural, desde a primeira vez em que a vi, me encantei por ela. Mas não foi como dizem, "amei desde que vi". Essa é uma visão idealizada, romântica da adoção. Tudo foi construído no dia a dia. No início houve um estranhamento mútuo. Elas choravam bastante e eu também, às escondidas. Foi difícil a nossa adaptação, ainda mais que eu estava grávida, completamente sensível. Acredito que esse processo foi mais difícil por conta da minha gestação. Não é aconselhável a adoção junto com uma gravidez. A assistente social tentou interromper o nosso processo por conta disso. Hoje entendo a posição dela. Gerar um filho e adotar são processos tão intensos que não devem acontecer ao mesmo tempo. É uma avalanche emocional, principalmente para a mãe. Eu acabei entrando em depressão, sentia que estava em pedaços. Precisei de apoio de um psicólogo e de um psiquiatra para me reerguer. Eles diziam que foi muita coisa de uma vez para o meu psiquismo.
Qual foi o papel do seu companheiro nesse processo? E o da sua família?
O Álvaro tem um papel fundamental, primeiramente por ter sido dele a ideia inicial da adoção, que foi aceita imediatamente por mim, por amá-lo e por desejar ser mãe acima de qualquer coisa. E sem a sua parceria não teria dado certo. Somos uma equipe, vamos dizer assim. Dividimos tudo, todas as tarefas, de acordo com as nossas possibilidades e facilidades, desde o trato com as crianças até as idas à escola, médico, dentista, fonoterapia, psicoterapia etc. Nossa família nos ajuda muito também. Lembro que no início minha mãe e minha sogra ficaram de plantão conosco aqui em casa. Eu nunca tinha trocado uma fralda nem feito mamadeira até as gêmeas chegarem. Imagine só!
Como é a relação entre as crianças? Já conhecem a história de vida deles? Como pretende um dia contar?
As meninas têm 5 anos e meio, e o Francisco, 3 anos e 9 meses. Eles se dão muito bem, se adoram. Brincam e brigam o tempo todo, como todos os irmãos. As meninas já sabem que são adotadas, que moravam num abrigo. O Álvaro, meu marido, deu um nome lindo para esse abrigo, "a casa da criança linda e feliz". Foi assim que ele disse que era a casa onde elas moravam até a gente se conhecer. Já me perguntaram o nome da "mãe da barriga", que é como elas se referem à mãe biológica, se podiam conhecê-la. E eu vou respondendo tudo que me perguntam, com verdade, na medida da compreensão delas. Por elas serem negras, chamamos a atenção quando saímos juntos. Algumas pessoas perguntam se elas são adotadas e, quando veem o Francisco, emendam "ah, e ele é seu, né?". Eu digo que sim, as meninas foram adotadas, mas que os três são meus filhos. Tem dia que esse tipo de coisa irrita bastante. Para nós já está tão internalizado o fato de sermos uma família que até estranhamos esse tipo de reação. A gente esquece a diferença da cor. Mas as meninas estão justamente na fase de questionar sobre isso.
Como foi adaptar em pouco tempo a rotina de casal sem filhos para uma rotina de pais de três crianças pequenas?
Bom, não houve, por um bom tempo, a rotina do casal. Não tínhamos tempo nenhum para isso, nem cabeça, nem disposição física. Somente agora, coisa de alguns meses atrás, é que voltamos a ir ao cinema, a assistir a um DVD em casa, tomar um cafezinho na padaria... Quando adotei as meninas, me afastei duas semanas do trabalho, pois era autônoma na época e não tive licença-maternidade. Quando o meu menino nasceu, fiquei sem trabalhar por seis meses, depois voltei a trabalhar umas dez horas por semana, e fui aumentando gradativamente. Hoje trabalho em média trinta horas semanais, pois prefiro e necessito me dedicar aos meus filhos e à minha casa. Mas também não abro mão do meu trabalho. Sou fonoaudióloga e adoro o que faço, pra mim é fundamental conciliar minha família e minha atividade profissional.
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TV Mamãe e Bebê
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