01.08.2013
Por Terezinha Maggi
“Se não vejo na criança uma criança, é porque alguém a violentou antes,
e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado. Mas essa que
vejo na rua sem pai, sem mãe, sem casa, cama e comida, essa que vive a
solidão das noites sem gente por perto, é um grito, é um espanto. Diante
dela, o mundo deveria parar para começar um novo encontro, porque a
criança é o princípio sem fim e seu fim é o fim de todos nós”.
Resolvi iniciar com as palavras do sociólogo Herbert de Souza, o
Betinho, justamente porque se encaixam perfeitamente com o tema deste
artigo. Neste domingo, dia 13 de julho, comemora-se os 18 anos do ECA –
Estatuto da Criança e do Adolescente. É um momento de discussão, onde
podemos contribuir com a criação e o aprimoramento de iniciativas
voltadas à garantia dos direitos humanos desta parcela da população. A
discussão deve envolver o desenvolvimento da criança e do adolescente,
além do combate a atividades que usurpam a perspectiva de futuro de
nossas crianças como o trabalho infantil ou a exploração sexual.
Está previsto no ECA, no Capítulo III, artigos 19 e 20, ”Toda criança ou
adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família
e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas
dependentes de substâncias entorpecentes. Os filhos, havidos ou não da
relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação”.
É sobre isto que quero aprofundar um pouco
mais neste artigo. A importância da família. É a partir dela que o
“homem” adquire os primeiros conceitos que formarão, ao longo do tempo,
as pilastras do seu caráter, servindo de orientação para os inúmeros
caminhos que a vida imporá durante sua trajetória.
Quando assumi a
gestão do Lar da Criança, chorei durante seis meses consecutivos em ver a
situação na qual viviam os meninos e meninas na instituição. Decidi que
algo tinha que ser feito e foi aí que iniciamos um trabalho de
revitalização da casa, com reformas e melhorias na infraestrutura,
aquisição de móveis e equipamentos, investimento no corpo técnico. Hoje
podemos dizer que o Lar da Criança é uma referência em termos de abrigo.
Temos 219 profissionais trabalhando 24 horas. Porque elas não têm hora
para chegar e vêm com todo tipo de problema, vítimas de todo tipo de
violência, negligência ou abandono. O trabalho dispensado a 20 crianças é
o mesmo que para 100.
Mesmo buscando todos os programas e
incentivos governamentais que estavam ao meu alcance para minimizar os
problemas destas crianças, mesmo com toda a infraestrutura ofertada,
elas ainda não estavam felizes. Abrigo não é lugar de criar uma criança.
Ouvia incessantemente o pedido das crianças que moram há anos na
instituição: “Tia Terezinha, quando é que eu terei uma mãezinha? Eu
também já vou poder ir pra casa?”. Eram pedidos que vinham de rostinhos
tristes e que me inquietaram.
Foi aí que iniciamos um trabalho
intenso e com um só objetivo: reintegrar estas crianças em uma família,
seja ela biológica ou substituta. Busquei a sociedade, firmei parcerias
com órgãos governamentais e nãogovernamentais, convidei amigos para
conhecer o Lar e assim doar um pouco de amor a estes pequenos cidadãos.
Disto nasceu a campanha do apadrinhamento e da adoção, que está em
andamento em todo o Estado, realizada em parceria com o Tribunal de
Justiça, por meio da Comissão Estadual Judiciária de Adoção – Ceja,
Ministério Público e outras instituições.
Vocês já devem ter visto
na televisão, nos jornais e estampados em placas nas ruas da cidade
vários daqueles rostinhos que eu citei, pedindo uma chance para amar,
uma oportunidade de mostrar quem realmente elas são, e não apenas
constar como estatística, como números de crianças à espera de uma
família, vivendo em abrigos.
Muitas mulheres se lamentam que não
podem ter filhos biológicos. Com isso elas se fecham para outra forma de
ter filhos: aqueles que são gerados dentro do coração. Veja a
quantidade de crianças que estão à espera de uma oportunidade de serem
amados, de serem filhos do coração. Ao invés da lamentação, é preciso
abrir os olhos para isto.
Muitas vezes, ouço preconceitos sobre
filhos adotivos. Meu sonho é que toda essa mentalidade e cultura sobre a
adoção mude. Muita coisa mudou no decorrer desses anos, antigamente a
adoção era tida como um “segredo”, algo “obscuro”, que falavam bem
baixinho no ouvido de alguém. Hoje em dia, o assunto é discutido mais
abertamente e, se depender de mim, será falado aos quatro ventos, de
peito aberto, com muito orgulho e muito amor.
Uma coisa que eu
sempre digo: tem de ser privilegiado o direito da criança em ter uma
família e não o interesse do adulto em ter um filho, porque aí acontecem
muitos daqueles casos que conhecemos de devolução da criança ao abrigo.
Mas sabemos o quanto é complexo todo o processo em torno da adoção, e
pensando nisso o projeto “Padrinhos - Pais Solidários” foi instituído
justamente para aqueles que querem ajudar, mas sem, necessariamente, ter
a guarda da criança. São três formas de apadrinhamento: padrinho
provedor, afetivo ou prestador de serviço. O apadrinhamento, em qualquer
uma de suas formas, tem o objetivo de despertar um sentimento nessas
crianças, para que se sintam menos excluídas, tornando-se assim adultos
preparados para a vida. Outros estados que possuem o projeto já
comprovaram que a iniciativa pode reverter o processo negativo da
institucionalização.
O Lar da Criança está de braços abertos à
espera de interessados em participar deste projeto. A instituição está
preparara para cadastrar os futuros padrinhos e despertar o sentimento
de amor que existe dentro de todos nós.
O drama da criança sem
família é um problema de todos e, se este não for enfrentado, o país não
terá futuro. Vamos aproveitar o momento, quando o ECA entra na sua
maioridade, para trabalharmos esta questão e incentivar a adoção ou o
apadrinhamento de crianças e adolescentes abandonados. Eles só querem
uma chance para amar você!
Terezinha Maggi escreveu este artigo em
junho de 2008 quando primeira-dama e secretária de Estado de Trabalho,
Emprego, Cidadania e Assistência Social.
http://www.circuitomt.com.br/ flip/451/#/8/zoomed
01.08.2013
Por Terezinha Maggi
“Se não vejo na criança uma criança, é porque alguém a violentou antes, e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado. Mas essa que vejo na rua sem pai, sem mãe, sem casa, cama e comida, essa que vive a solidão das noites sem gente por perto, é um grito, é um espanto. Diante dela, o mundo deveria parar para começar um novo encontro, porque a criança é o princípio sem fim e seu fim é o fim de todos nós”.
Resolvi iniciar com as palavras do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, justamente porque se encaixam perfeitamente com o tema deste artigo. Neste domingo, dia 13 de julho, comemora-se os 18 anos do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. É um momento de discussão, onde podemos contribuir com a criação e o aprimoramento de iniciativas voltadas à garantia dos direitos humanos desta parcela da população. A discussão deve envolver o desenvolvimento da criança e do adolescente, além do combate a atividades que usurpam a perspectiva de futuro de nossas crianças como o trabalho infantil ou a exploração sexual.
Está previsto no ECA, no Capítulo III, artigos 19 e 20, ”Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.
É sobre isto que quero aprofundar um pouco mais neste artigo. A importância da família. É a partir dela que o “homem” adquire os primeiros conceitos que formarão, ao longo do tempo, as pilastras do seu caráter, servindo de orientação para os inúmeros caminhos que a vida imporá durante sua trajetória.
Quando assumi a gestão do Lar da Criança, chorei durante seis meses consecutivos em ver a situação na qual viviam os meninos e meninas na instituição. Decidi que algo tinha que ser feito e foi aí que iniciamos um trabalho de revitalização da casa, com reformas e melhorias na infraestrutura, aquisição de móveis e equipamentos, investimento no corpo técnico. Hoje podemos dizer que o Lar da Criança é uma referência em termos de abrigo. Temos 219 profissionais trabalhando 24 horas. Porque elas não têm hora para chegar e vêm com todo tipo de problema, vítimas de todo tipo de violência, negligência ou abandono. O trabalho dispensado a 20 crianças é o mesmo que para 100.
Mesmo buscando todos os programas e incentivos governamentais que estavam ao meu alcance para minimizar os problemas destas crianças, mesmo com toda a infraestrutura ofertada, elas ainda não estavam felizes. Abrigo não é lugar de criar uma criança. Ouvia incessantemente o pedido das crianças que moram há anos na instituição: “Tia Terezinha, quando é que eu terei uma mãezinha? Eu também já vou poder ir pra casa?”. Eram pedidos que vinham de rostinhos tristes e que me inquietaram.
Foi aí que iniciamos um trabalho intenso e com um só objetivo: reintegrar estas crianças em uma família, seja ela biológica ou substituta. Busquei a sociedade, firmei parcerias com órgãos governamentais e nãogovernamentais, convidei amigos para conhecer o Lar e assim doar um pouco de amor a estes pequenos cidadãos. Disto nasceu a campanha do apadrinhamento e da adoção, que está em andamento em todo o Estado, realizada em parceria com o Tribunal de Justiça, por meio da Comissão Estadual Judiciária de Adoção – Ceja, Ministério Público e outras instituições.
Vocês já devem ter visto na televisão, nos jornais e estampados em placas nas ruas da cidade vários daqueles rostinhos que eu citei, pedindo uma chance para amar, uma oportunidade de mostrar quem realmente elas são, e não apenas constar como estatística, como números de crianças à espera de uma família, vivendo em abrigos.
Muitas mulheres se lamentam que não podem ter filhos biológicos. Com isso elas se fecham para outra forma de ter filhos: aqueles que são gerados dentro do coração. Veja a quantidade de crianças que estão à espera de uma oportunidade de serem amados, de serem filhos do coração. Ao invés da lamentação, é preciso abrir os olhos para isto.
Muitas vezes, ouço preconceitos sobre filhos adotivos. Meu sonho é que toda essa mentalidade e cultura sobre a adoção mude. Muita coisa mudou no decorrer desses anos, antigamente a adoção era tida como um “segredo”, algo “obscuro”, que falavam bem baixinho no ouvido de alguém. Hoje em dia, o assunto é discutido mais abertamente e, se depender de mim, será falado aos quatro ventos, de peito aberto, com muito orgulho e muito amor.
Uma coisa que eu sempre digo: tem de ser privilegiado o direito da criança em ter uma família e não o interesse do adulto em ter um filho, porque aí acontecem muitos daqueles casos que conhecemos de devolução da criança ao abrigo.
Mas sabemos o quanto é complexo todo o processo em torno da adoção, e pensando nisso o projeto “Padrinhos - Pais Solidários” foi instituído justamente para aqueles que querem ajudar, mas sem, necessariamente, ter a guarda da criança. São três formas de apadrinhamento: padrinho provedor, afetivo ou prestador de serviço. O apadrinhamento, em qualquer uma de suas formas, tem o objetivo de despertar um sentimento nessas crianças, para que se sintam menos excluídas, tornando-se assim adultos preparados para a vida. Outros estados que possuem o projeto já comprovaram que a iniciativa pode reverter o processo negativo da institucionalização.
O Lar da Criança está de braços abertos à espera de interessados em participar deste projeto. A instituição está preparara para cadastrar os futuros padrinhos e despertar o sentimento de amor que existe dentro de todos nós.
O drama da criança sem família é um problema de todos e, se este não for enfrentado, o país não terá futuro. Vamos aproveitar o momento, quando o ECA entra na sua maioridade, para trabalharmos esta questão e incentivar a adoção ou o apadrinhamento de crianças e adolescentes abandonados. Eles só querem uma chance para amar você!
Terezinha Maggi escreveu este artigo em junho de 2008 quando primeira-dama e secretária de Estado de Trabalho, Emprego, Cidadania e Assistência Social.
http://www.circuitomt.com.br/
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