SONHOS INDIVIDUAIS
11.08.2013
A GAZETA
BRUNA PINHEIRO
DA REDAÇÃO
O caminho à paternidade nem sempre segue o mesmo trajeto para todos os
homens. Enquanto alguns esperam encontrar uma companhia para terem seus
filhos, outros optam por serem pais independentemente disso. São nestes
casos que a adoção é procurada. Atualmente, há em Mato Grosso 17 homens
solteiros a espera de uma chance para serem chamados de “pai”. Eles
fazem parte da lista de pretendentes da Comissão Estadual Judiciária de
Adoção (CEJA). Para aqueles que já conseguiram adotar uma criança, o Dia
dos Pais é mais do que uma data comemorativa, é uma vitória.
Pai de
Abraão, de 9 anos de idade, o empresário Getúlio Santos de Andrade, 42,
conta da primeira vez que viu o menino. Na época, ele ainda não tinha
conquistado o direito pela paternidade e fazia mais uma visita ao garoto
que morava no Lar da Criança, em Cuiabá. Ao todo, foram quase 6 meses
de visitação enquanto Getúlio vivia na ansiedade pelo fim do processo de
adoção.
“Quando eu o vi foi amor à primeira vista. É difícil
explicar como, mas eu sabia desde aquele dia que o Abraão seria meu
filho. O processo de adoção foi praticamente uma gestação, já que levou
10 meses. Neste tempo todo a expectativa era muito grande e minha
vontade em ser pai daquele menino maior ainda”.
O desejo de ser pai
já acompanhava Getúlio há muito tempo, que quando soube da história de
Abraão decidiu entrar na fila de adoção. O garoto chegou no Lar da
Criança quando ainda tinha 1 ano de idade. Questionado sobre os motivos
que levaram o menino a ser colocado para adoção, o empresário diz que
conhece, mas que isso é irrelevante.
“A história do Abraão começa a
partir de quando ele é adotado. Antes disso, nada importa. Se um dia ele
quiser saber de onde veio eu vou contar sem problemas. Hoje, ele é um
ser humano em construção de sua própria vida”.
Já a filha do
comerciante Antônio*, 37, tem uma história difícil de se esquecer. A
garota foi entregue para adoção depois de ser destituída de seus pais,
devido ao histórico de abandono e maus-tratos. Hoje com 7 anos de idade,
a menina foi adotada há 2 anos por Antônio a quem ela ainda não chama
de pai.
Para ele, o processo pode levar mais um tempo, pois a garota
sofre com as lembranças da infância de dor e sofrimento. O comerciante
conta que há poucos meses conseguiu sair pela primeira vez com Júlia, 7,
sem que ela quisesse voltar para casa no meio do caminho.
“No
começo ela não falava com ninguém, só comigo. Ela ainda tem muito medo
das pessoas, por conta de tudo o que passou. Mesmo estando há pouco
tempo com ela, parece que eu a vi nascer. Às vezes até esqueço que ela é
adotada”.
Esta relação de proximidade com os filhos adotivos é
explicado pela psicóloga Helen Capistrano, como a comprovação de que a
adoção não pode ser diferenciada de outros tipos de paternidade. Segundo
ela, ao longo do tempo, com os laços emocionais estabelecidos, tanto a
criança quanto o pai deixam se de ver como “estranhos” para se verem
como família de verdade.
“É importante destacar que a adoção é um
ato de amor. E qualquer ato de amor sempre resulta em coisas positivas. O
pai adotivo ama seu filho da mesma forma que o biológico. Os dois
passam pelas mesmas dificuldades de criação e construção de
personalidade de seus filhos”.
DATA ESPECIAL
O dia de hoje
foi aguardado por Antônio há pelo menos 8 anos. Antes de adotar Júlia,
ele já havia tentado ser pai de outra criança, porém, não conseguiu.
Depois de pensar em desistir, ele deu entrada no processo de adoção mais
uma vez. Este ano será o segundo em que o comerciante comemorará ao
lado de Júlia.
“Acho que hoje vou ter um dia dos pais melhor do que o
do ano passado, porque estou cada vez mais próximo da Júlia. No
primeiro ela ainda não estava acostumada com a casa. Passamos assistindo
desenho juntos, mas nada foi dito”.
A expectativa, segundo Antônio,
ficou ainda maior depois que ele viu a garota com um envelope rosa nas
mãos. Ele acredita que ela esteja preparando alguma surpresa para o pai.
“Pode ser até uma folha em branco que eu já vou ficar muito feliz. Na
verdade, o maior presente que eu poderia ter eu já tenho que é a minha
filha”.
Já para Getúlio o Dia dos Pais é mais um dia como outro
qualquer na vida dele com Abraão. Chamado pelo garoto de “pãe”, o
empresário conta que a paternidade é um aprendizado diário que só pode
ser vivido na prática.
“Na teoria te dizem como se comportar, como
criar o filho, mas na realidade é outra coisa. Para mim não existe isso
de um único dia especial. Todos os dias ao lado do Abraão são
especiais”.
ADOÇÃO
Em Mato Grosso, 70 crianças estão aptas
para adoção, sendo 40 meninos e 30 meninas. De recém-nascidos a
adolescentes de 17 anos de idade, eles moram em abrigos e lares do
Estado até conseguirem uma nova família.
De acordo com o juiz
auxiliar da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT),
Antônio Veloso Peleja Júnior, o menor número de pretendentes adotantes
ainda é de homens solteiros, que somam 17.
Ao todo, são 457 casais
cadastrados na fila de adoção do Conselho Nacional de Justiça, 39
mulheres solteiras, 7 divorciados, 5 viúvos e 3 separados judicialmente.
“Em um processo de adoção, a Justiça sempre deve considerar em primeiro
lugar os interesses da criança. Por conta disso, não há critérios
diferentes para candidatos solteiros ou casados e nem mesmo à sua
orientação sexual”.
Segundo ele, há no Estado muitas crianças a
espera de uma família. Por conta disso, Peleja reforça a importância da
adoção para diminuir esse número. Pai de Abraão, Getúlio já pensa no
segundo e até terceiro filho.
“A adoção tem que ser divulgada a
todos. Crianças ficam anos morando em abrigos sem um lar de verdade. Com
certeza, adotarei outros filhos. Dá trabalho, mas é totalmente
gratificante”.
i: Das 70 crianças aptas para adoção, cerca de 75% têm entre 8 e 16 anos de idade
A realização de se tornar pai independe da origem da criança, pois o amor envolvido é o mesmo, de acordo com psicólogos.
Getúlio Santos batalhou para conseguir adotar Abraão, hoje com 9 anos: ‘sempre soube que ele seria meu filho’
Otmar de Oliveira
Arquivo Pessoal
http:// www.gazetadigital.com.br/pdf/ m08a13/g1101c-b.pdf
SONHOS INDIVIDUAIS
11.08.2013
A GAZETA
BRUNA PINHEIRO
DA REDAÇÃO
O caminho à paternidade nem sempre segue o mesmo trajeto para todos os homens. Enquanto alguns esperam encontrar uma companhia para terem seus filhos, outros optam por serem pais independentemente disso. São nestes casos que a adoção é procurada. Atualmente, há em Mato Grosso 17 homens solteiros a espera de uma chance para serem chamados de “pai”. Eles fazem parte da lista de pretendentes da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (CEJA). Para aqueles que já conseguiram adotar uma criança, o Dia dos Pais é mais do que uma data comemorativa, é uma vitória.
Pai de Abraão, de 9 anos de idade, o empresário Getúlio Santos de Andrade, 42, conta da primeira vez que viu o menino. Na época, ele ainda não tinha conquistado o direito pela paternidade e fazia mais uma visita ao garoto que morava no Lar da Criança, em Cuiabá. Ao todo, foram quase 6 meses de visitação enquanto Getúlio vivia na ansiedade pelo fim do processo de adoção.
“Quando eu o vi foi amor à primeira vista. É difícil explicar como, mas eu sabia desde aquele dia que o Abraão seria meu filho. O processo de adoção foi praticamente uma gestação, já que levou 10 meses. Neste tempo todo a expectativa era muito grande e minha vontade em ser pai daquele menino maior ainda”.
O desejo de ser pai já acompanhava Getúlio há muito tempo, que quando soube da história de Abraão decidiu entrar na fila de adoção. O garoto chegou no Lar da Criança quando ainda tinha 1 ano de idade. Questionado sobre os motivos que levaram o menino a ser colocado para adoção, o empresário diz que conhece, mas que isso é irrelevante.
“A história do Abraão começa a partir de quando ele é adotado. Antes disso, nada importa. Se um dia ele quiser saber de onde veio eu vou contar sem problemas. Hoje, ele é um ser humano em construção de sua própria vida”.
Já a filha do comerciante Antônio*, 37, tem uma história difícil de se esquecer. A garota foi entregue para adoção depois de ser destituída de seus pais, devido ao histórico de abandono e maus-tratos. Hoje com 7 anos de idade, a menina foi adotada há 2 anos por Antônio a quem ela ainda não chama de pai.
Para ele, o processo pode levar mais um tempo, pois a garota sofre com as lembranças da infância de dor e sofrimento. O comerciante conta que há poucos meses conseguiu sair pela primeira vez com Júlia, 7, sem que ela quisesse voltar para casa no meio do caminho.
“No começo ela não falava com ninguém, só comigo. Ela ainda tem muito medo das pessoas, por conta de tudo o que passou. Mesmo estando há pouco tempo com ela, parece que eu a vi nascer. Às vezes até esqueço que ela é adotada”.
Esta relação de proximidade com os filhos adotivos é explicado pela psicóloga Helen Capistrano, como a comprovação de que a adoção não pode ser diferenciada de outros tipos de paternidade. Segundo ela, ao longo do tempo, com os laços emocionais estabelecidos, tanto a criança quanto o pai deixam se de ver como “estranhos” para se verem como família de verdade.
“É importante destacar que a adoção é um ato de amor. E qualquer ato de amor sempre resulta em coisas positivas. O pai adotivo ama seu filho da mesma forma que o biológico. Os dois passam pelas mesmas dificuldades de criação e construção de personalidade de seus filhos”.
DATA ESPECIAL
O dia de hoje foi aguardado por Antônio há pelo menos 8 anos. Antes de adotar Júlia, ele já havia tentado ser pai de outra criança, porém, não conseguiu. Depois de pensar em desistir, ele deu entrada no processo de adoção mais uma vez. Este ano será o segundo em que o comerciante comemorará ao lado de Júlia.
“Acho que hoje vou ter um dia dos pais melhor do que o do ano passado, porque estou cada vez mais próximo da Júlia. No primeiro ela ainda não estava acostumada com a casa. Passamos assistindo desenho juntos, mas nada foi dito”.
A expectativa, segundo Antônio, ficou ainda maior depois que ele viu a garota com um envelope rosa nas mãos. Ele acredita que ela esteja preparando alguma surpresa para o pai. “Pode ser até uma folha em branco que eu já vou ficar muito feliz. Na verdade, o maior presente que eu poderia ter eu já tenho que é a minha filha”.
Já para Getúlio o Dia dos Pais é mais um dia como outro qualquer na vida dele com Abraão. Chamado pelo garoto de “pãe”, o empresário conta que a paternidade é um aprendizado diário que só pode ser vivido na prática.
“Na teoria te dizem como se comportar, como criar o filho, mas na realidade é outra coisa. Para mim não existe isso de um único dia especial. Todos os dias ao lado do Abraão são especiais”.
ADOÇÃO
Em Mato Grosso, 70 crianças estão aptas para adoção, sendo 40 meninos e 30 meninas. De recém-nascidos a adolescentes de 17 anos de idade, eles moram em abrigos e lares do Estado até conseguirem uma nova família.
De acordo com o juiz auxiliar da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), Antônio Veloso Peleja Júnior, o menor número de pretendentes adotantes ainda é de homens solteiros, que somam 17.
Ao todo, são 457 casais cadastrados na fila de adoção do Conselho Nacional de Justiça, 39 mulheres solteiras, 7 divorciados, 5 viúvos e 3 separados judicialmente.
“Em um processo de adoção, a Justiça sempre deve considerar em primeiro lugar os interesses da criança. Por conta disso, não há critérios diferentes para candidatos solteiros ou casados e nem mesmo à sua orientação sexual”.
Segundo ele, há no Estado muitas crianças a espera de uma família. Por conta disso, Peleja reforça a importância da adoção para diminuir esse número. Pai de Abraão, Getúlio já pensa no segundo e até terceiro filho.
“A adoção tem que ser divulgada a todos. Crianças ficam anos morando em abrigos sem um lar de verdade. Com certeza, adotarei outros filhos. Dá trabalho, mas é totalmente gratificante”.
i: Das 70 crianças aptas para adoção, cerca de 75% têm entre 8 e 16 anos de idade
A realização de se tornar pai independe da origem da criança, pois o amor envolvido é o mesmo, de acordo com psicólogos.
Getúlio Santos batalhou para conseguir adotar Abraão, hoje com 9 anos: ‘sempre soube que ele seria meu filho’
Otmar de Oliveira
Arquivo Pessoal
http://
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