Adoção’ Mães leiloam bebês em site e chegam a parcelar pagamento Nem mesmo alerta na própria página sobre golpes impede negociações online

Investigação. Delegado Tito Barichello (à esquerda) encerra hoje primeiro inquérito sobre o caso

PUBLICADO EM 18/09/13 - 03h00

ALINE LOURENÇO

A revelação de um suposto esquema de tráfico de bebês no Hospital Regional de Betim, na região metropolitana da capital, na última semana, chamou a atenção para as negociações que ocorrem livremente em sites e fóruns na internet. Mesmo depois do início das investigações, o blog Quero Doar continua no ar e não é o único no país a veicular mensagens de casais interessados em adotar crianças e mães dispostas a abrir mão do filho. Algumas chegam a fazer um “leilão” virtual dos bebês e até mesmo dividir o pagamento em parcelas. 

Por meio desse blog, os principais envolvidos no esquema que está sendo investigado pela Polícia Civil de Minas se conheceram. Apesar dos riscos de se tornarem suspeitos de tráfico de crianças, os participantes desse tipo de site parecem não se intimidar. Ontem, ainda era possível ver mensagens anunciando a venda de recém-nascidos. Em uma delas, uma mulher identificada como Ju diz: “Consegui três bebês por aqui e vou vender por R$ 3.000 cada”.

Há inclusive mensagens alertando para ação de quadrilhas no blog. Algumas postagens apelam para os pais: “Cuidado! Essas mulheres são golpistas. Querem bebês para tráfico”. Por lei, o tráfico é configurado quando há pagamento direto por uma criança ou até mesmo o benefício econômico indireto, como a oferta de moradia e de alimentação para a grávida. Esse foi o caso da advogada Selena Castiel Gualberto, 34, que deu apoio material a Janaína Carvalho, 24, mãe biológica do bebê nascido no hospital em Betim.

No Quero ser mãe, duas mulheres procuravam ontem por grávidas dispostas a doar seus filhos. Apesar de não ser crime a adoção consensual, quando a mãe procura a Justiça e abre mão da guarda do filho em favor de um casal escolhido por ela, quem recorre a negociações neste tipo de site pode incorrer em várias ilegalidades, como o parto suposto (quando a criança é registrada como própria).

Interessados. O pintor R.S.M., 34, sabia dos riscos quando resolveu postar um recado no Quero Doar. “Fiquei sabendo do blog pela televisão e resolvi procurar. Mas não tenho medo porque quero adotar e não comprar”.

A dona de casa Eliana Soares, 41, moradora de Rondônia, recorreu ao blog há um mês. “Minha vida é muito clara, sou uma pessoa honesta. Tenho três filhas e cuido bem delas”, garante. Uma de suas filhas não é biológica, mas foi registrada em nome dela. “Eu era muito nova, queria adotar e não tinha informações”, justifica. O crime prescreveu cinco anos depois.

Relembre a história
- Prisão. No último dia 10, a agente de turismo Eliane Azzi, 37, foi presa quando pressionava funcionários do Hospital Regional de Betim a dar alta para o bebê. Os servidores, no entanto, acionaram a polícia, pois desconfiaram da mãe da criança, Janaína Carvalho, 24, que tinha dificuldade de decorar os “próprios” dados pessoais.

- Falsidade. Janaína tentava se passar pela advogada Selena Castiel Gualberto, 34, que receberia o bebê. Os documentos falsos foram providenciados por Eliane.

- Esquema. Mensagens de texto no celular de Eliane revelaram o plano. Se desse certo, a criança já sairia da unidade em nome de Selena.

- Investigações. A polícia apurou que a funcionária pública Cláudia Giani, 39, irmã de Eliane, ajudou na ação. Ela ainda assinou a ficha de internação do hospital.

Câmara
Audiência. A CPI do Tráfico de Pessoas, da Câmara Federal, aprovou a convocação do delegado Tito Barichello e de Eliane Azzi para prestar esclarecimentos – a data ainda não foi definida.

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